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Homilia de Mons. Vicente Ancona Lopez, Vigário regional do Opus Dei no Brasil, na Igreja Nossa Senhora de Fátima, por ocasião do aniversário de falecimento de D. Álvaro Del Portillo, bispo Prelado do Opus Dei e primeiro sucessor de São Josemaria à frente do Opus Dei. São Paulo, 23-III-2011.

No Evangelho que acabamos de ler, Nosso Senhor irrompe numa gozosa ação de graças. Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos. Sim, Pai, eu te bendigo, porque assim foi do teu agrado. Todas as coisas me foram dadas por meu Pai; ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelá-lo. (Mt 11, 25-27)

As verdades do Pai, os mistérios de Deus, as intervenções de Deus na história, não se captam apenas com a inteligência: Deus as revela especialmente e com profundidade aos pequeninos!

Celebramos hoje mais um aniversário do falecimento de D. Álvaro e penso que neste ano essa comemoração deve ficar marcada por um acontecimento especial da vida da Igreja: a próxima beatificação de João Paulo II.

Deve haver uma grande alegria na Igreja triunfante por essa beatificação, e –mesmo oferecendo sufrágios por ele‑ nós estamos persuadidos que o Servo de Deus D. Álvaro Del Portillo, lá no Céu, participa dessa alegria, pois João Paulo II e D. Álvaro foram grandes amigos.

Lendo o Evangelho da Missa de hoje, eu pensava nessa amizade e nesse paradoxo: “sábios e prudentes” por um lado, e “pequeninos” por outro. O Papa João Paulo II e D. Álvaro tinham em comum o fato de serem duas grandes figuras intelectuais e com destacados dotes de governo, típicos dos grandes estadistas. Foram importantes protagonistas do Concílio, tinham uma visão ampla e uma enorme cultura, dominavam diversos idiomas, possuíam uma memória prodigiosa, etc. Pode-se dizer que eram sábios e prudentes. João Paulo II ganhou por aclamação espontânea o título de João Paulo Magno, Grande. Mas espiritualmente falando, ambos eram “pequeninos”, i.e., humildes, prontos para obedecer e abertos às revelações do Pai. Ambos eram simples, sinceros e transparentes como crianças. Ambos muito piedosos e rezadores como as almas simples, que enveredaram pelo caminho da infância espiritual. Ambos propensos a se colocarem por baixo dos outros. Ambos muito devotos e consagrados a Santa Maria e se acolhiam sob a sua proteção.

O porta-voz de João Paulo II, Joaquim Navarro Vals conta que, em certa ocasião, se não me engano em 1989, a revista Time declarou João Paulo II “O Homem do ano”. Foi uma boa surpresa no Vaticano, e ele, Joaquim Navarro, foi contente mostrar a revista para o Papa com a foto de João Paulo II na capa. Ao conversarem sobre o tema, o Papa discretamente virou a revista, pondo a capa para baixo. O Joaquim Navarro também discretamente a desvirou, e logo depois o Papa tornou a virá-la, voltando a sua foto para baixo! Por fim, Joaquim Navarro perguntou: Santo Padre “non gli piace?” (Santo Padre o senhor não gosta dessa homenagem e desse reconhecimento?). João Paulo II respondeu: “Forse mi piace tropo” (Talvez eu esteja gostando demais!), querendo dizer que essa homenagem poderia envaidecê-lo e desagradar a Deus.

Lembrei-me por associação de outro episódio, agora da vida de D. Álvaro. Quando uma vez lhe disseram que era parecido com São Josemaria. D. Álvaro replicou rapidamente: “só se for pelo fato de usar batina e óculos”. Via-se em sua humildade tão por baixo de São Josemaria que rejeitava instintivamente essa comparação.

A amizade entre eles era grande a tal ponto que, quando D. Álvaro faleceu, o Papa quis comparecer ao velório para pranteá-lo. Honra essa muito excepcional, porque alheia ao protocolo e à praxe da Casa Pontifícia: quando falecem cardeais, bispos, autoridades civis italianas, o Papa reza, celebra uma Missa, envia um telegrama, mas via de regra não comparece aos velórios fora da Basílica de S. Pedro. Sua presença em Villa Tevere foi um grande consolo e uma grande honra para todos nós. E também um sinal eloqüente da amizade, do amor do Papa Wojtyla por D. Álvaro. Muitos de nós evocamos naquele dia aquele comentário dos judeus a respeito do pranto de Jesus diante de Lázaro morto: “Vejam como o amava” (Jo 11, 36).

A amizade de João Paulo II com D. Álvaro começou em 1964, dentro da Basílica de S. Pedro, perto do altar de São Josafá (próximo ao lugar da Basílica onde o Beato João Paulo II será venerado). Quem os apresentou foi o Cardeal Deskur, um amigo comum: “D. Álvaro quero apresentar-lhe o jovem arcebispo de Cracóvia”. Desde então surgiu espontaneamente uma grande simpatia entre os dois.

Essa amizade foi crescendo ao longo dos anos, e também o interesse e a curiosidade de Wojtyla com relação ao Opus Dei. Wojtyla admirava São Josemaria, o fenômeno da secularidade da Obra, a presença de leigos com uma forte formação no meio das atividades civis, e apreciava e admirava também a D. Álvaro.

O Cardeal Deskur lhe falava da Obra, e o desejo de Wojtyla de conhecer melhor as características do Opus Dei crescia. Uma das coisas que mais impressionou o Cardeal Wojtyla, durante um almoço com D. Álvaro em Villa Tevere, dois meses antes de sua eleição, foram o capricho, o serviço e o profissionalismo das Numerárias Auxiliares!

Depois da sua eleição, as mulheres da Obra mandavam-lhe bolos e algumas vezes o Santo Padre comentava brincando com os comensais: “Este bolo vem do Opus Dei! Comam porque são muito gostosos, pois as moças da Obra se santificam procurando a perfeição no seu trabalho!”

Ele manteve esse carinho e essa devoção pela Obra durante toda a sua vida: nas tertúlias do UNIV, quando as alunas do Colégio Romano iam lhe apresentar um show em Castel Gandolfo, nas audiências em que recebia fiéis da Obra, em grupo ou privadamente, nas grandes cerimônias da beatificação e da canonização de São Josemaria. O Papa João Paulo II sabia bem que a Obra era de Deus, um fenômeno suscitado por Deus no seio da Igreja.

Nas suas longas e muitas conversas com D. Álvaro, Wojtyla fazia-lhe perguntas, pedia esclarecimentos. Prestava uma enorme atenção naquilo que D. Álvaro lhe ia dizendo e sua admiração crescia. Como D. Álvaro tendia a falar rápido, o Papa lhe interrompia: “Fale mais devagar”, pois não queria perder nada. E fazia perguntas sobre o nosso Padre e sobre a Obra. E dizia a D. Álvaro: “Explique-me bem porque eu quero aprovar o Opus Dei da forma que Deus quer que seja”.

Poderíamos contar muitas outras histórias e anedotas simpáticas, mas eu queria frisar esse aspecto: a grandeza de saber ser pequenos. “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18,2).

Tornar-se pequeno supõe uma conversão, e João Paulo II e o seu amigo D. Álvaro a empreenderam, tendo presentes o caminho da infância espiritual e também os ensinamentos de São Josemaria. É um bom programa para a nossa conversão nessa Quaresma.

Queria concluir dizendo apenas que a beatificação de João Paulo II é para todos nós uma imensa alegria. Acompanhemos de perto essa grande solenidade do dia 1º de maio rezando e procurando fomentar a devoção ao Papa Wojtyla: o Papa grande, Magno, que conservou sempre um coração de menino.

Penso que Nossa Senhora terá ficado contente por falarmos – hoje aqui – de João Paulo II. Afinal, foi o Papa dEla: Totus Tuus! (Teu sem reservas), foi o seu lema. E D. Álvaro, com certeza, vai nos ajudar a sermos muito amigos e devotos do Bem-aventurado João Paulo II.

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