Naquelas jornadas de 1974 em São Paulo, Gilberto tinha trinta e três anos menos que agora, estava para entrar na universidade, e andava também a dar os passos decisivos para iniciar o itinerário da sua vocação no Opus Dei.
Em uma das reuniões familiares de estudantes com o Padre, no Centro de Estudos Universitários do Sumaré, Gilberto pôs-se de pé e perguntou:
– Padre, que quis expressar com aquele ponto de Caminho que diz: “Isso – o teu ideal, a tua vocação – é… uma loucura. – E os outros – os teus amigos, os teus irmãos -, uns loucos…”? Como poderíamos viver essa loucura?
Era óbvio, para os que o conhecíamos, que fervilhava nele a inquietação da sua vocação ao Opus Dei. O Padre olhou-o sorridente, com a cabeça um pouco inclinada, como que a dizer: “Estou entendendo o que você quer…”. Depois, exclamou:
– Mas.., se você sabe disso muito bem! … Escute, você nunca viu um louco?
Surpreendido, Gilberto respondeu que não.
– Não? Nunca viu ninguém que esteja louco? – estranhou o Padre – Então, olhe para mim!
Gilberto não pôde conter uma risada, e o Padre continuou:
– Faz muitos anos, diziam de mim: Está louco! Tinham razão. Eu nunca disse que não estivesse louco. Estou louquinho perdido de amor de Deus. E desejo para você a mesma doença. Isto é o que quer dizer esse ponto de Caminho. Oxalá você me entenda até tal ponto, que seja fiel ao que Deus lhe pedir! Eu bem sei que você …
Com o auxílio da graça de Deus, Gilberto foi como o Padre desejava. E, com o decorrer dos anos, tenho a certeza de que tem aprofundado, como tantos outros, no conhecimento da vida e da santidade do Fundador; e que lhe aconteceu a mesma coisa que a muitos, que ficaram deslumbrados ao se darem conta de que conheceram um homem que amava a Deus com loucura, que amava a Deus para além dos limites da simples piedade ou da bondade afetuosa, que amava a Deus com toda a loucura, a autenticidade e o enlevo do mais “perdido” dos apaixonados.
Trecho do livro São Josemaria Escrivá no Brasil, de Francisco Faus, recém lançado pela Quadrante.