Fui membro numerário do Opus Dei por quase 20 anos. Saí da Obra por não conseguir resolver minhas dúvidas sobre se esse era mesmo o meu caminho espiritual nessa vida, se era a minha vocação. Deixar de ser membro de uma instituição como o Opus Dei é sempre uma decisão difícil, por muitas razões: a seriedade do assunto, o receio de tomar a decisão errada, a preocupação de não dar mau exemplo…
Agradeço muitíssimo o apoio que recebi dos diretores da Obra nesses anos todos, a compreensão, o carinho, a oração. Quando manifestei pela primeira vez minhas dúvidas e titubeios, os diretores da Obra que me atenderam me ajudaram a pensar muito bem no assunto. Se, pelo contrário, me tivessem dito: “Ok, você quer ir embora hoje ou prefere amanhã?”, o Opus Dei não seria uma instituição católica séria nem respeitaria aqueles que, como eu e como tantos e tantas, entraram nessa Obra com a intenção de seguir esse caminho divino por toda a vida. O que se diria de um marido ou de uma mulher que dissesse ao outro, titubeante em relação ao casamento: “Quer ir embora hoje ou prefere amanhã?”.
Na verdade, o que tenho a agradecer ao Opus Dei não tem tamanho. O que aprendi de bom na vida, aprendi sobretudo na minha família e no Opus Dei (que é minha família também, da qual agora, como cooperador, sou parente próximo). A Obra é um lugar onde se aprende ouvindo e, mais ainda, vendo o exemplo de luta pela santidade de tanta gente, que eu admiro até não poder mais. Sei o que é generosidade, desprendimento, alegria, espírito de serviço, humildade, zelo apostólico etc etc. Sei que viver o catolicismo em plenitude no meio do mundo é possível e vale a pena! Sei disso, acima de tudo, porque vi essas virtudes encarnadas em pessoas do Opus Dei com quem convivi.
Se valeu a pena? Não troco por nada os anos que passei como membro da Obra! (Mesmo do ponto de vista estritamente humano foi bom: é gostoso demais conviver com pessoas educadas, cultas, alegres, atenciosas, que se esforçam por serem santas!) Espero ser capaz de fazer render os talentos (absolutamente imerecidos – assim são os dons!) que Deus me deu nesses anos todos.
Marcelo Andrade