em Evangelho do dia

Não julgueis, para não serdes julgados. 2Porque, com o juízo com que julgardes, sereis julgados e com a medida com que medirdes, vos será medido.

3Porque vês o argueiro no olho do teu irmão e não advertes na trave que tens no teu? 4Ou como ousas dizer a teu irmão: deixa-me tirar o argueiro do teu olho, tu que tens uma trave no teu? 5Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e então verás bem, para tirar o argueiro do olho de teu irmão. 

6Não deis as coisas santas aos cães, nem Respeito deiteis as vossas pérolas aos porcos, não seja caso que eles as calquem aos pés e, voltando-se, vos despedacem.

7Pedi e dar-se-vos-á, buscai e encontrareis, batei e abrir-se-vos-á. 8Porque, todo o da oração que pede recebe, e o que busca encontra e ao que bate, abrir-se-á.

9Haverá entre vós alguém que dê uma pedra ao filho, se ele lhe pedir pão? 10E lhe dê uma serpente, se ele lhe pedir peixe? 11Se, pois, vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos-, quanto mais vosso Pai que está nos Céus dará coisas boas aos que Lhe pedirem?

12Tudo aquilo, pois, que quereis que os A outros vos façam a vós, fazei-o também vós a eles, porque esta é a Lei e os Profetas.

13Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçosa a via que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. 14quão estreita é a porta, e apertada a via que leva à vida! E são poucos os que dão com ela.

15Guardai-vos dos falsos profetas que vêm a vós com veste de ovelhas mas, por dentro, são lobos rapaces. 


Comentário

1-2. Como noutros lugares, os verbos na voz passiva («serdes julgados», «vos será medido») têm como sujeito Deus, ainda que não esteja explicitamente dito: «Não julgueis os outros e não sereis julgados por Deus». É claro que o juízo de que se fala aqui é sempre um juízo condenatório; portanto, se não queremos ser condenados por Deus, não condenemos nunca o próximo. «Pois Deus mede como medimos e perdoa como perdoamos, e socorre-nos da maneira e com as entranhas com que nos vê socorrer» (Exposição do livro de Job, cap. 29).

  1. Jesus condena aqui o juízo que fazemos temerariamente acerca dos nossos irmãos, quando por ligeireza ou por malvadez julgamos pejorativamente acerca do seu comportamento, dos seus sentimentos ou das suas intenções. O malicioso dito «pensa mal e acertarás» está contra a doutrina de Jesus Cristo.

São Paulo, ao falar da caridade cristã, assinala como notas salientes: «a caridade é paciente, é benigna… não pensa mal… tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo tolera» (1Cor 13, 4.5.7.). Por isso: «Não admitas um mau pensamento acerca de ninguém, mesmo que as palavras ou obras do interessado deem motivo para assim julgares razoavelmente» (Caminho, n° 442). « Não queiramos julgar. — Cada qual vê as coisas do seu ponto de vista… e com o seu entendimento, bem limitado quase sempre, e com os olhos obscuros ou enevoados, com trevas de exaltação muitas vezes» (Caminho, n°451).

3-5. O que tem a vista deformada vê deformadas as coisas, ainda que estas sejam correctas. Já Santo Agostinho dava este conselho: «Procurai adquirir as virtudes que credes que faltam nos vossos irmãos, e já não vereis os seus defeitos, porque não os tendes vós» (Enarrationes in Psalmos, 30, 2, 7). Neste caso, o refrão popular «julga o ladrão que todos são da sua condição» concorda com esta doutrina de Jesus Cristo. Por outro lado: «Fazer crítica, destruir, não é difícil: o Último aprendiz de pedreiro sabe assestar a sua ferramenta na pedra nobre e bela de uma catedral.» — Construir: eis o trabalho que exige mestres» (Caminho, n°456).

  1. Nesta breve fórmula, a modo de sentença, Jesus ensina um discernimento prudente na pregação da palavra de Deus e na entrega dos meios de santificação. A Igreja, já desde o princípio, teve em conta esta advertência, que se manifesta especialmente no respeito com que rodeou a administração dos sacramentos e, de modo singular, a Santíssima Eucaristia. A confiança filial não exime do sincero e profundo respeito com que se deve tratar tanto Deus como as coisas santas.

7-11. O Mestre ensina de diversas maneiras a eficácia da oração. A oração é uma elevação da mente para Deus para O adorar, dar-Lhe graças e pedir-Lhe o que necessitamos (cfr Catecismo Maior, nº255). Jesus insiste na oração de petição, que é o primeiro movimento espontâneo da alma que reconhece Deus como seu Criador e Pai. Como criatura de Deus e como Seu filho, o homem necessita pedir-Lhe humildemente todas as coisas.

Ao falar da eficácia da oração, Jesus não faz restrições: «Todo o que pede, recebe», porque Deus é nosso Pai. E São Jerônimo comenta: «Está escrito: a todo o que pede se dá; logo, se a ti não se te dá, não se te dá porque não pedes; portanto, pede e receberás» (Comm. in Matth., 7). Não obstante, apesar de a oração ser de si infalível, por vezes não obtemos o que queríamos. Santo Agostinho diz que a nossa oração não é escutada porque pedimos «aut mali, aut male, aut mala». «Mali»: porque somos maus, porque as nossas disposições pessoais não são boas; «male»: porque pedimos mal, sem fé, sem perseverança, sem humildade; «mala»: porque pedimos coisas más, quer dizer, o que não nos convém, o que pode causar-nos dano (cfr De civitate Dei, XX, 22 e 27; De Senti. Dom. in monte, H, 27,73). Em última análise, a oração não é eficaz quando não é verdadeira oração. Portanto: «Faz oração. Em que negócio humano te podem dar mais garantias de êxito?» (Caminho, n° 96).

  1. A sentença de Jesus, chamada «regra de ouro», oferece um critério prático para reconhecer o alcance das nossas obrigações e da nossa caridade para com os outros. Mas uma consideração superficial correria o risco de mudá-lo num móbil egoísta do nosso comportamento: não se trata, evidentemente, de um do ut dês («dou-te para que me dês»), lhas de fazer o bem aos outros sem pôr condições, como em boa lógica as não pomos no amor a nós mesmos. Esta regra prática ficará completada com o «mandamento novo» de Jesus Cristo (Ioh 13, 34), onde nos ensina a amar os outros como Ele mesmo nos amou.

13-14. «Entrai»: Este verbo no Evangelho de São Mateus tem frequentemente como termo o «Reino dos Céus» ou as Suas expressões equivalentes (a Vida, o banquete nupcial, o gozo do Senhor, etc.). Podemos interpretar que «entrai» Constitui um convite imperioso. A senda do pecado é momentaneamente prazenteira e não requer esforço, mas a sua meta é a perdição eterna. Pelo contrário, percorrer o caminho de uma vida cristã generosa, sincera e dura, é custoso — daí que Jesus fale de porta estreita e caminho estreito —, mas a sua meta é a Vida ou salvação eterna.

A senda do cristão é levar a Cruz. «Se o homem se determina a sujeitar-se a levar esta cruz, que é um determinar-se a querer de veras achar e levar trabalho em todas as coisas por Deus, em todas elas achará grande alívio e suavidade para andar este caminho assim, despido de tudo, sem querer nada. Porém, se pretende ter algo, quer de Deus, quer de outra coisa, com alguma propriedade, não vai despido nem abnegado em tudo; e assim, nem caberá nem poderá subir por esta senda estreita» (Subida ao Monte Carmelo, liv. 2, cap. 7, n° 7).

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