em Evangelho do dia

Eu sou a verdadeira cepa, e Meu Pai é o agricultor. 2Toda a vara que em Mim e não dá fruto, Ele corta-a, e toda aquela que dá fruto, Ele limpa-a, para dar mais fruto. 3Vós já estais limpos devido à palavra que vos expus. 4Permanecei em Mim, e Eu permanecerei em vós. Assim como a vara que não pode dar fruto por si mesma, se não permanecer na cepa, assim vós também não, se não permanecerdes em Mim. 5Eu sou a cepa, vós as varas. Aquele que permanece em Mim e em quem Eu permaneço é que dá muito fruto, porque, sem Mim, nada podeis fazer. 6Se alguém não permanece em Mim, é lançado fora, como a vara, e seca. Tais varas, apanham-nas, lançam-nas ao fogo e elas ardem. 7Se permanecerdes em Mim e as Minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e ser-vos-á concedido. 8A glória de Meu Pai é que deis muito fruto; então vos tomareis Meus discípulos.

Comentário

    1.  comparação do povo escolhido com uma videira tinha sido utilizada já no Antigo Testamento: no Salmo 80 fala-se da ruína e da restauração da vinha arrancada do Egipto e plantada noutra terra; e no cântico de Isaías (5,1-7) Deus queixa-Se de que a Sua vinha, apesar dos cuidados amorosos, tenha produzido agraços em lugar de uvas. Jesus tinha utilizado estas imagens na parábola dos vinhateiros homicidas (Mt 21,33-43) para significar a rejeição do Filho por parte dos Judeus e o chamamento aos gentios. Aqui, porém, a comparação tem um sentido diferente, mais pessoal: Cristo apresenta-Se como a verdadeira videira, porque à velha videira, ao antigo povo escolhido, sucedeu o novo, a Igreja, cuja cabeça é Cristo (cfr 1Cor 3,9). É preciso estar unidos à nova e verdadeira Videira, a Cristo, para produzir fruto. Não se trata já apenas de pertencer a uma comunidade, mas de viver a vida de Cristo, vida da Graça, que é a seiva vivificante que anima o crente e o capacita para dar frutos de vida eterna. Esta imagem da videira, por outro lado, ajuda a compreender a unidade da Igreja, Corpo Místico de Cristo, em que todos os membros estão intimamente unidos com a Cabeça, e nela, unidos também uns com os outros (1Cor 12,12-26; Rom 12,4-5; Eph 4,15-16).
    2. O Senhor descreve duas situações: a daqueles que, mesmo estando unidos à videira com vínculos externos, não dão fruto; e a daqueles que, mesmo dando fruto, podem dar mais. Isto ensina-nos também a Epístola de São Tiago ao dizer que não basta a fé (lac 2,17). Embora seja certo que a fé é o começo da salvação, e sem a fé não podemos agradar a Deus, também é verdade que a fé viva há-de dar o fruto das obras. «Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão têm valor, mas somente a fé que actua pela caridade» (Gal 5,6). Assim pois, pode dizer-se que para dar frutos agradáveis a Deus não basta ter recebido o Baptismo e professar externamente a fé, mas é preciso participar da vida de Cristo pela graça e colaborar na Sua obra redentora.

    Jesus utiliza o mesmo verbo para falar da poda das varas e da limpeza dos discípulos no versículo seguinte; à letra deveria traduzir-se: «A todo o que dá fruto limpa-o para que dê mais fruto». Fica assim claro que Deus não Se contenta com uma entrega a meias. Por isto purifica os Seus através da contradição e das dificuldades, que são como uma poda, para que deem mais fruto. Aqui podemos ver uma explicação do porquê do sofrimento: «Não ouviste dos lábios do Mestre a parábola da videira e das varas? — Consola-te. Ele é exigente porque és vara que dá fruto… E poda-te, ‘ut fructum plus afferas’ — para que dês mais fruto.

    «É claro: dói esse cortar, esse arrancar. Mas, depois, que louçania nos frutos, que maturidade nas obras!» (Caminho, n.°701).

    1. 3. Jesus ao lavar os pés a Pedro já tinha dito que os Seus Apóstolos estavam limpos, ainda que nem todos (cfr Ioh 13,10). Agora volta a referir-Se a essa limpeza interior por virtude dos ensinamentos que aceitaram. «Pois a palavra de Cristo purifica em primeiro lugar dos erros, instruindo (cfr Tit 1,9,) (…); em segundo lugar, purifica os corações dos afectos terrenos, despertando-os para as coisas celestiais (…); finalmente, a palavra purifica pelo vigor da fé: pois ‘purificou os seus corações pela fé’ (Act 15,9)» (Comentário sobre S. João, ad loc.).

    4-5. O Senhor continua a deduzir consequências da comparação da videira e das varas. Agora sublinha a inutilidade de quem se afasta d’Ele, tal como a da vara separada da videira. «Reparai nesses sarmentos repletos, porque participam da seiva do tronco. Só assim aqueles minúsculos rebentos de alguns meses antes puderam converter-se em polpa doce e madura, que encherá de alegria a vista e o coração das pessoas (Ps CHI,15). No solo ficam talvez algumas varas toscas, soltas, meias enterradas. Eram sarmentos também, mas secos, estiolados. São o símbolo mais gráfico da esterilidade. Porque, sem Mim, nada podeis fazer» (Amigos de Deus, n° 254).

    A vida de união com Cristo transcende necessariamente o âmbito individual do cristão para se projectar em benefício dos outros: daí brota a fecundidade apostólica, já que «o apostolado, seja ele de que tipo for, consiste numa superabundância da vida interior» (Amigos de Deus, n° 239). O Concilio Vaticano II, citando o presente passo de São João, ensina como deve ser o apostolado dos cristãos: «A fonte e origem de todo o apostolado da Igreja é Cristo, enviado pelo Pai. Sendo assim, é evidente que a fecundidade do apostolado dos leigos depende da sua união vital com Cristo, segundo as palavras do Senhor: ‘aquele que permanece em Mim e em quem Eu permaneço, esse produz muito fruto; pois, sem Mim, nada podeis fazer’. Esta vida de íntima união com Cristo na Igreja é alimentada pelos auxílios espirituais comuns a todos os fiéis e, de modo especial, pela participação activa na sagrada Liturgia; e os leigos devem servir-se deles de tal modo que, desempenhando correctamente as diversas tarefas terrenas nas condições ordinárias da existência, não separem da própria vida a união com Cristo, mas antes, realizando a própria actividade segundo a vontade de Deus, nela cresçam» (Apostolicam actuositatem, n. 4).

    6. Quem não está unido a Cristo por meio da graça terá, finalmente, o mesmo destino que as varas secas: o fogo. E claro o paralelismo com outras imagens da pregação do Senhor acerca do Inferno: as parábolas da árvore boa e da má (Mt 8,15-20), da rede de arrasto (Mt 13,49-50), do convidado para as bodas (Mt 22,11-14), etc. Santo Agostinho comenta assim este passo: «Os sarmentos da videira são do mais desprezível se não estão unidos à cepa; e do mais nobre se o estão (…). Se se cortam não servem de nada nem para o vinhateiro nem para o carpinteiro. Para os sarmentos uma de duas: ou a videira ou o fogo. Se não estão na videira, vão para o fogo: para não irem para o fogo, que estejam unidos à videira» (In Ioann. Evang., 81,3).

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