24Jesus disse então aos discípulos: Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. 25Porque, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por minha causa, encontrá-la-á. 26Pois, de que servirá ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma? Ou que dará o homem em resgate da sua alma? 27Porque o Filho do homem há-de vir na glória de Seu Pai, com os Seus Anjos, e então remunerará a cada um segundo as suas obras. 28Em verdade vos digo: há alguns aqui que não experimentarão a morte, antes de verem o Filho do homem no Seu Reino.
Comentário
- «O amor de Deus que ‘foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado’ (Rom 5, 5), torna os leigos capazes de exprimir em verdade, na própria vida, o espírito das Bem-aventuranças. Seguindo a Cristo pobre, nem se deixam abater com a falta dos bens temporais nem se exaltam com a sua abundância; imitando a Cristo humilde, não são cobiçosos da glória vã (cfr Gal 5, 26), mas procuram mais agradar a Deus que aos homens, sempre dispostos a deixar tudo por Cristo (cfr Lc 14, 25) e a sofrer perseguição pela justiça (cfr t5,10), lembrados da palavra do Senhor: ‘se alguém quiser seguir-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me’ (Mt 16, 24)» (Apostolicam actuositatem, n. 4).
- O cristão não pode passar por alto estas palavras de Jesus Cristo. Deve arriscar-se, jogar a vida presente em troca de conseguir a eterna. « Que pouco é uma vida para oferecê-la a Deus!…» (Caminho, n.°420).
A exigência do Senhor inclui renunciar à própria vontade para a identificar com a de Deus, não aconteça que, como comenta São João da Cruz, tenhamos a sorte de muitos «que queriam que Deus quisesse o que eles querem, e entristecem-se de querer o que Deus quer, e têm repugnância em acomodar a sua vontade à de Deus. Disto vem que muitas vezes, no que não acham a sua vontade e gosto, pensam não ser da vontade de Deus e, pelo contrário, quando se satisfazem, creem que Deus Se satisfaz, medindo também a Deus por si, e não a si mesmos por Deus» (Noite Escura, liv. I, cap. 7, n° 3).
26-27. As palavras de Cristo são de uma clareza meridiana: situam cada homem, individualmente, diante do Juízo Final. A salvação tem, pois, um caracter radicalmente pessoal: «remunerará a cada um segundo as suas obras» (v. 27).
O fim do homem não é ganhar os bens temporais deste mundo, que são apenas meios ou instrumentos; o fim último do homem é o próprio Deus, que é possuído como antecipação aqui na terra pela graça, e plenamente e para sempre na Glória. Jesus indica qual é o caminho para conseguir esse fim: negar-se a si mesmo (isto é, tudo o que é comodidade, egoísmo, apego aos bens temporais) e levar a cruz. Porque nenhum bem terreno, que é caduco, é comparável à salvação eterna da alma. Como explica com precisão teológica São Tomás, «o menor bem da graça é superior a todo o bem do universo» (Suma Teológica, I-II, q. 113, a. 9).
28. Ao dizer isto, Jesus não se refere à Sua última vinda de que fala no versículo anterior, mas está a referir-Se a outros factos que aconteceriam antes e que constituiriam um sinal da Sua glorificação depois da morte. Assim, a vinda de que fala aqui o Senhor pode referir-se em primeiro lugar à Sua Ressurreição e aparições. Também poderia estar relacionada com a Transfiguração, que mostra já a glória de Cristo. Finalmente, essa vinda de Cristo no Seu Reino poderia ver-se manifestada na destruição de Jerusalém, em que é significado o fim do antigo povo de Israel como realização do Reino de Deus e a sua substituição pela Igreja, novo Reino.