em Evangelho do dia

Dia 20 de julho

Mt 12, 38-42

38Tomaram então a palavra alguns dos Escribas e Fariseus, dizendo: Mestre, queríamos ver-Te fazer um sinal. 39Ele, porém, respondeu-lhes: Esta geração, má e adúltera, pretende um sinal, e não se lhe dará sinal nenhum, senão o sinal do profeta Jonas. 40Pois, assim como Jonas esteve, três dias e três noites, no ventre do cetáceo, assim estará também o Filho do homem, três dias e três noites, no seio da terra. 41Os Ninivitas levantar-se-ão no dia do Juízo com esta geração e condená-la-ão, porque fizeram penitência com a pregação de Jonas. E aqui está algo mais que Jonas. 42A rainha do Meio-Dia erguer-se-á no dia do Juízo com esta geração e condená-la-á, porque veio dos confins da terra, para ouvir a sabedoria de Salomão, e aqui está algo mais do que Salomão.

Comentário

39-40. Este sinal que os judeus pediam pode ter sido um milagre ou outra acção prodigiosa; queriam que Jesus confirmasse com espectáculo o que pregava com simplicidade. Mas o Senhor responde-lhes anunciando o mistério da Sua Morte e Ressurreição, servindo-Se da figura de Jonas. “Não se lhe dará sinal nenhum, senão o sinal do profeta Jonas”. Com estas palavras Jesus Cristo mostra que a Sua Ressurreição gloriosa é o “sinal” por excelência, a prova decisiva do carácter divino da Sua pessoa, da Sua missão e da Sua doutrina.

Quando o apóstolo São Paulo (l Cor 15, 3-4) confessa que Jesus Cristo “ressuscitou ao terceiro dia segundo as Escrituras” – com palavras que literalmente passaram para o símbolo Niceno-constantinopolitano, que é o Credo que se recita na Santa Missa -, sem dúvida está a aludir principalmente a este passo. Também vemos outra alusão à figura de Jonas nas palavras do Senhor, pronunciadas pouco antes da Sua Ascensão: “Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia” (Lc 24,45-46).

41-42. Nínive era uma cidade da Mesopotâmia (hoje Iraque), à qual foi enviado o profeta Jonas. Os ninivitas fizeram penitência (Ion 3, 6-9) porque reconheceram o profeta e aceitaram a sua mensagem. Jerusalém, pelo contrário, não quer reconhecer Jesus, de quem Jonas era apenas figura. A rainha do Meio-dia é a rainha de Sábá, ao Sul da Arábia, que visitou Salomão (l Reg 10, 1-10) e ficou maravilhada com a sabedoria que Deus tinha infundido no rei de Israel. Jesus está prefigurado também em Salomão, em quem a tradição de Israel via o homem sábio por excelência. A censura de Jesus acentua-se com o exemplo de pagãos convertidos, e vislumbra-se a universalidade do cristianismo, que se implantará entre os gentios.

A frase de Jesus “aqui está algo mais que Jonas” e “… mais que Salomão” denota uma certa ironia. Esse “algo mais” na realidade é infinitamente mais, mas Jesus prefere suavizar essa diferença entre Ele e qualquer outro personagem, por muito importante que tivesse sido, do Antigo Testamento.

Dia 21 de julho

Mt 12, 46-50

46Enquanto Ele falava ao povo, estavam fora Sua Mãe e irmãos, procurando falar-Lhe. 47Disse-Lhe alguém: Olha, Tua Mãe e Teus irmãos estão lá fora e querem falar-Te. 48Ele, porém, respondeu ao que Lho disse: Quem é a Minha mãe e quem são os Meus irmãos? 49E, estendendo a mão para os Seus discípulos, disse: Eis a Minha mãe e os Meus irmãos. 50Porque todo aquele que fizer a vontade de Meu Pai que está nos Céus, esse é Meu irmão, e irmã, e mãe.

Comentário

46-47. “Irmãos”: Nos idiomas antigos, hebraico, árabe, aramaico, etc., não havia palavras concretas para indicar os graus de parentesco que existem noutros idiomas mais modernos. Em geral, todos os pertencentes a uma mesma família, clã, inclusive tribo, eram “irmãos”.

No caso concreto que aqui nos ocupa deve ter-se presente, além disso, que os familiares de Jesus eram parentes de diverso grau e que se trata de dois grupos: uns por parte da Santíssima Virgem, e outros de São José. Mt 13, 55-56 menciona, como a viver em Nazaré, Tiago, José, Simão e Judas “irmãos do Senhor”, e alude também a “irmãs” (cfr Mc 6, 3). Por outro lado, Mt 27, 56 diz-nos que destes, Tiago e José são filhos de uma certa Maria, diferente da Virgem, e Simão e Judas não são irmãos de Tiago e José, mas, segundo parece, filhos de um irmão de São José.

Jesus, porém, era para todos “o filho de Maria” (Mc 6, 3) ou “o filho do carpinteiro” (Mt 13, 55).

A Igreja sempre professou com plena certeza que Jesus Cristo não teve irmãos de sangue em sentido próprio: é o dogma da perpétua virgindade de Maria.

48-50. É evidente o amor de Jesus por Sua mãe Santa Maria e por São José. O Nosso Salvador aproveita este episódio para nos ensinar que no Seu Reino os direitos do sangue não têm primazia. Em Lc 8,19 encontramos a mesma doutrina. O que faz a vontade do Seu Pai Celeste é considerado por Jesus como da Sua própria família. Por isso, mesmo sacrificando os sentimentos naturais da família, deverá abandoná-la quando lho peça o cumprimento da missão que o Pai lhe confiou (cfr Lc 2,49).

Podemos dizer que a própria Virgem Maria é mais amada por Jesus por causa dos laços criados entre ambos pela graça do que em virtude da geração natural, que fez d’Ela Sua Mãe segundo a carne: a maternidade divina é a fonte de todas as outras prerrogativas da Santíssima Virgem; mas esta mesma maternidade é, por sua vez, a primeira e a maior das graças outorgadas a Maria.

Dia 22 de julho

Jo 20, 1-2.11-18

1No primeiro dia da semana, vem Maria de Magdala, de manhãzinha, ainda escuro, ao túmulo e vê a pedra retirada do túmulo. 2Corre então e vai ter com Simão Pedro e com o outro discípulo aquele que Jesus amava. Tiraram o Senhor do Túmulo, lhes diz ela, e não sabemos onde O puseram. 11Entretanto, Maria estava cá fora a chorar, junto do túmulo. Enquanto chorava, debruçou-se para dentro do túmulo e 12viu dois Anjos vestidos de branco, sentados, um à cabeceira e outro aos pés, onde jazera o corpo de Jesus. 13Mulher, perguntaram-lhe eles, porque choras? Porque tiraram o meu Senhor, lhes diz ela, e não sei onde O puseram. 14Dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus ali de pé. Não sabia, porém, que era Jesus. 15Mulher, diz-lhe Jesus, porque choras? A quem procuras? Ela supondo que era o jardineiro, respondeu-Lhe: Senhor, se foste Tu que O levaste, diz-me onde O puseste, para eu O ir buscar. 16Maria! diz-lhe Jesus. Ela, voltando-se, diz-Lhe em hebraico: Rabbuni! que quer dizer: “Mestre!” 17Não Me prendas, responde-lhe Jesus, que ainda não subi para o Pai; mas vai ter com Meus irmãos e diz-lhes que vou subir para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus. 18Maria de Magdala parte, para ir anunciar aos discípulos: Vi o Senhor! ajuntando o que Este lhe havia dito.

Comentário

1-2. Os quatro Evangelhos narram os primeiros testemunhos das santas mulheres e dos discípulos acerca da Ressurreição gloriosa de Cristo. Tais testemunhos referem-se, num primeiro momento, à realidade do sepulcro vazio (cfr Mt 28,1-15; Mc 16,1 ss.; Lc 24,1-12). Depois relatarão diversas aparições de Jesus Ressuscitado.

Maria Madalena é uma das que assistiam o Senhor nas Suas viagens (Lc 8,1-3); junto com a Virgem Maria seguiu-O corajosamente até à Cruz (Ioh 19,25), e viu onde tinham depositado o Seu Corpo (Lc 23,55). Agora, uma vez passado o repouso obrigatório do Sábado, vai visitar o túmulo. Notemos o pormenor evangélico: “De manhãzinha, ainda escuro”: o amor e a veneração fazem-na ir sem demora junto ao Corpo do Senhor.

11-18. São comovedores o carinho e a delicadeza desta mulher preocupada pela sorte do Corpo morto de Jesus. Leal na Paixão, o amor da que esteve possessa por sete demônios (cfr Lc 8,2) continua a ser grande e inflamado. O Senhor tinha-a livrado do Maligno, e aquela graça frutificou em correspondência humilde e generosa.

Depois de consolar a Madalena, Jesus dá-lhe uma mensagem para os Apóstolos, a quem chama com o apelativo entranhável de “irmãos”. Tal mensagem supõe um Pai comum, ainda que seja de modo essencialmente diferente: “Vou subir para Meu Pai – por natureza – e vosso Pai” – que o é pela adopção que ganhei para vós com a Minha morte -. É grande a misericórdia e a compreensão de Jesus que, como Bom Pastor, cuida de recolher os discípulos que O tinham abandonado na Paixão e que estavam escondidos por medo aos judeus (Ioh 20,19).

O exemplo de Maria Madalena, que persevera na fidelidade ao Senhor em momentos difíceis, ensina-nos que quem busca com sinceridade e constância a Jesus Cristo acaba por O encontrar. O gesto familiar de Jesus que chama “irmãos” aos Seus discípulos, apesar de O terem abandonado, deve encher-nos de esperança no meio das nossas infidelidades.

15. O diálogo de Jesus com a Madalena reflecte o estado de ânimo de todos os discípulos, que não esperavam a Ressurreição do Senhor.

17. “Não Me prendas”: No texto original esta frase está construída em imperativo presente, que indica continuidade da acção que se realiza. A frase negativa do texto grego, reflectida na Neo-vulgata (“noli me tenere”), indica que o Senhor manda à Madalena que deixe de O reter, que O solte, pois ainda terá ocasião de O ver antes da Ascensão aos céus.

Dia 23 de julho

Mt 13, 10-17

10Aproximaram-se os discípulos e disseram-Lhe: Porque lhes falas em parábolas? 11Ele respondeu-lhes, dizendo: Porque a vós foi dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus; àqueles, porém, não lhes foi dado. 12Pois ao que tem, dar-se-lhe-á e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. 13Por isso, lhes falo em parábolas, porque, vendo, não vêem e, ouvindo, não ouvem nem compreendem. 14E cumpre-se neles a profecia de Isaías, a qual diz: “Ouvireis com os ouvidos e não entendereis, e olhareis com os olhos e não vereis. 15Porque se embotou o coração deste povo: e tornaram duros os ouvidos, e fecharam os olhos, não seja caso que vejam com os olhos, e oiçam com os ouvidos, e entendam com o coração, e se convertam, e Eu os sare.” 16Ditosos, porém, os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. 17Porque, em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que estais a ver e não viram, e ouvir o que estais a ouvir e não ouviram.

Comentário

10-13. A realidade do Reino que Jesus ia instaurar encontrou de facto uma repulsa no judaísmo do Seu tempo, talvez pela concepção demasiado nacionalista e humana com que esperavam o Messias. Por isso, Jesus na Sua pregação teve em conta as disposições diversas dos Seus ouvintes a que alude na parábola do semeador. Aos que estavam bem dispostos a apresentação enigmática da parábola aumentar-lhes-ia o interesse; Jesus, com efeito, explica depois o significado ao numeroso grupo dos discípulos; pelo contrário, aos que não queriam aprender era inútil explicar mais.

Por outro lado, as parábolas – e em geral qualquer comparação ou analogia – são empregadas para dar a conhecer ou explicar algo que é difícil de compreender, como são as realidades sobrenaturais que Jesus Cristo revela. Assim como é necessário velar a luz do sol pela sua intensa luminosidade, para a acomodar à capacidade visiva do homem, pois caso contrário ficaria cego e não veria nada, de modo semelhante, as parábolas velam algo da realidade sobrenatural, para que possa compreender-se, sem ficar cego quem a contempla.

Estes versículos apresentam, além disso, algo muito profundo: por que é que a revelação de Deus e da Sua graça produzem efeitos tão díspares entre os homens? É o mistério da graça divina – que é um dom gratuito – e da livre correspondência humana a essa graça. As palavras de Jesus revelam com toda a força a responsabilidade que tem o homem de se dispor bem para aceitar a graça de Deus e corresponder a ela. A menção de Isaías feita por Jesus (Mt 13, 14-15) é uma profecia do endurecimento que terão como castigo aqueles que tiverem resistido à graça.

Em qualquer caso, a interpretação destes versículos deve ser feita à luz das três considerações seguintes: 1) Jesus Cristo amou os homens, incluídos os do Seu próprio povo, até dar a vida por todos para os salvar a todos; 2) a forma literária da parábola é de si eficazmente didáctica e esclarecedora: a sua finalidade última é ensinar, não enganar nem obscurecer; 3) o desprezo da graça divina é algo culpável que, na verdade, merece castigo; Jesus, porém, não veio directamente para castigar, mas para salvar.

12. O Senhor está a falar com os Seus discípulos e explica-lhes que a eles, justamente porque têm fé n’Ele e desejam conhecer mais a fundo a Sua doutrina, lhes será dado um conhecimento mais profundo das verdades divinas. Mas os que “não O seguem” (cfr a nota a Mt 4,18-22) depois de O terem conhecido perdem o interesse pelas coisas de Deus, estarão cada dia mais cegos, e é como se lhes fosse tirado o pouco que tinham.

Por outro lado, o versículo ajuda a entender o sentido da parábola do semeador, parábola que explica admiravelmente a economia sobrenatural da graça divina: Deus concede a graça e o homem corresponde a ela livremente. Deste modo acontece que há aqueles que ao corresponder com generosidade recebem nova graça, chegando assim a abundar cada dia mais em graça e santidade. Pelo contrário, aqueles que rejeitam os dons divinos fecham-se em si mesmos e, vivendo no egoísmo e afecto ao pecado, chegam a perder a graça de Deus totalmente. É, pois, este versículo uma advertência clara e grave de Nosso Senhor, pela qual, com todo o peso da Sua autoridade divina, nos exorta – sem nos tirar a nossa liberdade – à responsabilidade de sermos fiéis: devemos fazer frutificar os dons que Deus nos vai enviando e aproveitar as ocasiões de santificação cristã que nos são oferecidas ao longo da nossa vida.

14-15. Compreendem as palavras divinas apenas os que têm boas disposições. Não basta a materialidade de as ouvir. Durante a pregação de Jesus Cristo voltam a cumprir-se as antigas palavras proféticas de Isaías.

Mas não pensemos que o não querer ouvir nem ver nem compreender foi coisa exclusiva daqueles homens contemporâneos de Jesus; cada um de nós também tem as suas durezas de ouvido, de coração e de entendimento perante a palavra de Deus, perante a Sua graça. Além disso, não basta saber a doutrina da fé: é absolutamente necessário vivê-la com todas as suas exigências morais e ascéticas. Jesus foi cravado no madeiro não só pelos pregos e pelos pecados de alguns judeus, mas também pelos nossos pecados, que íamos cometer séculos depois, mas que já actuavam sobre a Humanidade santíssima de Jesus Cristo, que carregava com os nossos pecados.

16-17. Perante a obstinação de muitos judeus, que presenciando a vida de Jesus não creram n’Ele, Nosso Senhor louva a docilidade à graça dos discípulos, abertos a reconhe-cê-Lo como o Messias e a acolher os Seus ensinamentos.

Bem-aventurados, felizes, chama o Senhor aos Seus discípulos. Com efeito, os profetas e justos do AT, durante séculos, tinham vivido com a esperança de gozar um dia da paz do Messias vindouro, mas morreram sem alcançar essa dita na terra. O velho Simeão, no termo da sua vida. encheu-se de gozo ao contemplar Jesus Menino que era apresentado no Templo: “Ele recebeu-O nos braços e bendisse a Deus, exclamando: Agora, Senhor, podes despedir o Teu servo em paz segundo a Tua palavra, porque os meus olhos viram a Salvação” (Lc 2, 28-30). Os discípulos, que durante a vida pública do Senhor tiveram a dita de O ver e de conviver com Ele, recordarão, ao cabo dos anos, este dom inenarrável, e um deles começará assim a sua primeira carta: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e tocaram as nossas mãos acerca do Verbo da vida;…o que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos a vós, para que tenhais também comunhão conosco, pois a nossa comunhão é com o Pai e com o Seu Filho Jesus Cristo. Escrevemo-vos isto para que a vossa alegria seja completa” (I Ioh l, 1-4).

Essa sorte singular não dependeu, evidentemente, de especiais méritos pessoais, mas dos desígnios de Deus, que considerou oportuno ter chegado já o tempo do cumprimento das promessas do AT. De qualquer modo, Deus concede a cada alma as suas oportunidades de encontro com Cristo: cada um de nós há-de ter sensibilidade para as captar e não as deixar escapar. Também houve muitos homens e mulheres da Palestina que viram e ouviram o Filho de Deus Encarnado, mas não tiveram finura espiritual para captar n’Ele o que perceberam os Apóstolos e discípulos.

Dia 24 de julho

Mt 13, 18-23

18Vós, pois, ouvi a parábola do semeador. 19Todo aquele que ouve a palavra do Reino e não a entende: vem o Maligno e arrebata a semente lançada no seu coração. Este é a semente que foi semeada ao longo do caminho. 20A que foi semeada em terreno pedregoso, essa é aquele que ouve a palavra e logo a recebe com alegria. 21Mas não tem raiz em si mesmo, senão que é volúvel e, apenas sobrevém alguma tribulação ou perseguição, por causa da palavra, logo se escandaliza. 22E a que foi semeada entre os espinhos essa é aquele que ouve a palavra, mas os cuidados do século e a fascinação das riquezas sufocam-na, e não produz fruto. 23E a que foi semeada em terra boa, essa é aquele que ouve a palavra e a entende: o qual, por isso mesmo, dá fruto produzindo, ora cem, ora sessenta, ora trinta.

Comentário

19. Não compreende porque lhe falta amor, não por falta de inteligência; essa disposição abre a porta da alma ao diabo.

Dia 25 de julho

Mt 20, 20-28

20Aproximou-se então d’Ele a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, e prostrou-se por terra para Lhe pedir alguma coisa. 21Disse-lhe Ele: Que queres? E ela: Ordena que estes meus dois filhos se sentem um à Tua direita, outro à Tua esquerda no Teu Reino. 22Respondeu Jesus e disse: Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu hei-de beber? Responderam-Lhe: Podemos. 23Diz-lhes Ele: O Meu cálice bebê-lo-eis; agora o sentar-se à Minha direita ou à Minha esquerda, não Me toca a Mim concedê-lo, mas é para quem Meu Pai o tem preparado. 24Ao ouvirem isto, os dez indignaram-se contra os dois irmãos. 25Jesus, porém, chamou-os e disse: Sabeis que os soberanos das nações as tratam como senhores, e os grandes lhes fazem sentir o seu poder. 26Entre vós não é assim. Pelo contrário, o que entre vós quiser ser grande, faça-se vosso servo. 27E quem quiser entre vós ser o primeiro, faça-se vosso escravo. 28Do mesmo modo que o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em redenção por muitos.

Comentário

20. Os filhos de Zebedeu são Tiago Maior e João. A sua mãe, Salomé, pensando na instauração iminente do reino temporal do Messias, solicita para os filhos os dois lugares mais influentes. Cristo repreende-os porque desconhecem a verdadeira natureza do Reino dos Céus, que é espiritual, e porque ignoram a verdadeira natureza do governo na Igreja que ia fundar, que é serviço e martírio. “Se pensas que, ao trabalhar por Cristo, os cargos são algo mais do que cargas, quantas amarguras te esperam!” (Caminho, n.° 950).

22. “Beber o cálice” significa sofrer perseguições e martírio pelo seguimento de Cristo. “Podemos”: Os filhos de Zebedeu responderam audazmente que sim; esta generosa expressão evoca aquela outra que escreveria anos mais tarde São Paulo: “Tudo posso n’Aquele que me conforta” (Phil 4,13).

23. “O Meu cálice bebê-lo-eis”: Tiago Maior morrerá mártir em Jerusalém pelo ano 44 (cfr Act 12,2); e João, depois de ter sofrido cárcere e açoites em Jerusalém (cfr Act 4, 3; 5,40-41), padecerá longo desterro na ilha de Patmos (cfr Apc 1,9).

Destas palavras do Senhor deduz-se que o acesso aos lugares de governo na Igreja não deve ser fruto da ambição e das intrigas humanas, mas consequência da vocação divina. Cristo, que tinha os olhos postos em cumprir a Vontade de Seu Pai Celeste, não ia distribuir os cargos levado por considerações humanas, mas segundo os desígnios do Pai.

26. O Concílio Vaticano II insiste de uma maneira notável neste aspecto de serviço que a Igreja oferece ao mundo, e que os cristãos hão-de apresentar como testemunho da sua identidade cristã: “Este sagrado Concílio, proclamando a sublime vocação do homem, e afirmando que nele está depositado um germe divino, oferece ao género humano a sincera cooperação da Igreja, a fim de instaurar a fraternidade universal que a esta vocação corresponde. Nenhuma ambição terrena move a Igreja, mas unicamente este objectivo: continuar, sob a direcção do Espírito Consolador, a obra de Cristo que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, para salvar e não para julgar, para servir e não para ser servido” (Gaudium et spes, n. 3; cfr Lumen gentium, n. 32; Ad gentes, n. 12; Unitatis redintegratio, n. 7).

27-28. Jesus Cristo apresenta-Se a Si mesmo como exemplo que deve ser imitado por aqueles que exercem a autoridade na Igreja. Ele, que é Deus e Juiz que há-de vir a julgar o mundo (cfr Phil 2,5-11; Ioh 5,22-27; Act 10,42; Mt 28,18), não Se impõe, mas serve-nos por amor até ao ponto de entregar a vida por nós (cfr Ioh 15,13): esta é a Sua forma de ser o primeiro. Assim o entendeu São Pedro, que exorta os presbíteros a que apascentem o rebanho de Deus a eles confiado, não como dominadores sobre a herança, mas servindo de exemplo (cfr l Pet 5, 1-3); e São Paulo, que não estando submetido a ninguém, se faz servo de todos para a todos ganhar (cfr l Cor 9,19 ss; 2 Cor 4, 5). O “serviço” de Cristo à humanidade vai encaminhando para a salvação. Com efeito, a frase “dar a vida em redenção por muitos” não deve ser interpretada como uma restrição da vontade salvífica universal de Deus. “Muitos” aqui não se contrapõe a “todos” mas a “um”: Um é o que salva e a todos é oferecida a salvação.

Dia 26 de julho

Jo 6, 1-15

1Depois disto, retirou-Se Jesus para outro lado do Mar da Galileia, ou de Tiberíade. 2Seguia-O numerosa multidão, por ver os milagres que fazia nos enfermos. 3Jesus subiu ao monte e lá Se sentou com os discípulos. 4Estava próxima a Páscoa, a festa dos Judeus. 5Erguendo então os olhos e vendo que vinha ter com Ele numerosa multidão, Jesus diz a Filipe: Onde havemos de comprar pão para eles comerem? 6Dizia isto para o experimentar, pois bem sabia o que ia fazer. 7Respondeu-Lhe Filipe: Não lhes chegam duzentos denários de pão, para receber cada qual um poucochinho. 8Disse-Lhe um dos discípulos, André, irmão de Simão Pedro: 9Está aqui um pequeno que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isso para tanta gente? 10Jesus, porém, respondeu: Fazei com que eles se recostem. Ora havia muita erva no local. Recostaram-se, pois, os homens, em número de cerca de cinco mil. 11Então, Jesus tomou os pães, e, depois de dar graças, distribuiu-os aos convivas; e o mesmo fez dos peixes, tanto quanto lhes apetecia. 12Quando ficaram saciados, disse aos discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca. 13Recolheram-nos, pois, e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada, que haviam sobrado aos que tinham estado a comer. 14Ao verem aqueles homens o milagre que Ele fizera, começaram a dizer: Este é, na verdade, o Profeta que está para vir ao mundo. 15Mas Jesus, percebendo que viriam arrebatá-Lo, para O fazerem rei, retirou-Se novamente, sozinho para o monte.

Comentário

1. Refere-se ao segundo lago formado pelo Jordão. Nos Evangelhos costuma chamar-se-lhe umas vezes “Lago de Genesaré” (Lc 5,1), pela localidade do mesmo nome situada na margem Noroeste do lago; outras, “Mar da Galileia” (Mt 4,18; 15,29; Mc 1,16; 7,31), pelo nome da região em que se encontra. São João chama-lhe também “Mar de Tiberíades” (cfr 21,1), devido à cidade desse nome fundada por Herodes Antipas em honra do imperador Tibério. No tempo de Jesus Cristo havia à volta deste lago várias cidades: Tiberíades, Magdala, Cafarnaum, Betsaida, etc.; as suas margens foram com freqüência cenário da pregação do Senhor.

2. Ainda que São João não refira mais que sete milagres e não mencione outros que narram os Sinópticos, neste versículo, e mais expressamente no fim do seu Evangelho (20,30; 21,25), diz que foram muitos os milagres realizados pelo Senhor; a selecção desses sete é devida a que o Evangelista, querendo mostrar algumas facetas do mistério de Cristo, escolhe – inspirado por Deus – aqueles que estão mais em harmonia com o seu propósito. Narra agora o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, que está em relação directa com os discursos de Cafarnaum, em que Jesus Se apresenta a Si mesmo como “o pão da vida” (6,35.48).

4. O Evangelho de São João costuma mencionar as festas judaicas quando refere muitos dos acontecimentos do ministério público do Senhor. Aqui estamos diante de um destes casos (cfr Duração do Ministério Público, pp. 81 s.; Introdução ao Evangelho segundo São João, pp. 1088 s.). Pouco antes desta Páscoa, Jesus realiza o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, prefigurando a Páscoa cristã e o mistério da Santíssima Eucaristia, como Ele próprio explica no discurso que começa no v. 26, onde promete dar-Se como alimento da nossa alma.

5-9. Jesus é sensível às necessidades espirituais e materiais dos homens. Aqui vemo-Lo a tomar a iniciativa para satisfazer a fome daquela multidão que O segue.

Com estes diálogos e o milagre que vai realizar, Jesus ensina também aos Seus discípulos a confiar n’Ele perante as dificuldades que encontrarão nas suas futuras tarefas apostólicas, empreendendo-as com os meios que tiverem, ainda que sejam insuficientes, como neste caso o eram os cinco pães e os dois peixes. Ele entrará com o que falta. Na vida cristã há que pôr ao serviço do Senhor o que temos, ainda que nos pareça muito pouco. O Senhor saberá multiplicar a eficácia desses meios tão insignificantes.

“Tenhamos, pois, Fé, sem permitir que o desalento nos domine; sem nos determos em cálculos meramente humanos. Para superar os obstáculos, há que começar a trabalhar, metendo-nos em cheio,nessa tarefa, de maneira que o nosso próprio esforço nos leve a abrir novos caminhos” (Cristo que passa, n° 160).

10. O Evangelista transmite um pormenor à primeira vista intranscendente: “Naquele lugar havia muita erva”. Isto indica que o milagre aconteceu em plena Primavera da Palestina, em dias muito próximos da Páscoa, como disse no v. 4. Ainda que na Palestina sejam muito escassos os prados, existe, mesmo hoje, uma verdadeira pradaria na margem oriental do lago de Genesaré, chamada el-Batihah, onde podiam sentar-se os cinco mil homens e onde, portanto, pode ter-se verificado este milagre.

11. O relato do milagre começa quase com as mesmas palavras com que os Sinópticos e São Paulo narram a instituição da Eucaristia (cfr Mt 26,26; Mc 14,22; Lc 22,19; 1 Cor 11,25). Tal coincidência indica que o milagre, além de ser uma manifestação da misericórdia de Jesus para com os necessitados, é figura da Santíssima Eucaristia, da qual o Senhor falará pouco depois (cfr Ioh 6,26-59).

12-13. A abundância de pormenores reflecte o realismo da narração: o nome dos Apóstolos que falam com o Senhor (vv. 5.8), a espécie dos pães que eram de cevada (v. 9), o rapaz que levava essas provisões (v. 9) e, por último, Jesus que manda recolher os pedaços.

O milagre denota o poder divino de Jesus sobre a matéria, e a liberalidade com que o realiza evoca a abundância dos bens messiânicos que os profetas tinham predito (cfr. Ier 31,14).

O mandato de recolher os pedaços que sobram ensina que os bens materiais, por serem dons de Deus, não se devem desperdiçar, mas hão-de ser usados com espírito de pobreza (cfr a nota a Mc 6,42). Neste sentido explica Paulo VI que “depois de ter alimentado com liberalidade a multidão, o Senhor recomenda aos Seus discípulos que recolham o que sobrou para que nada se perca (cfr Ioh 6,12). Que formosa lição de economia, no sentido mais nobre e mais pleno da palavra, para a nossa época dominada pelo esbanjamento! Além disso, leva consigo a condenação de toda uma concepção da sociedade em que até o próprio consumo tende a converter-se no seu próprio bem, desprezando os que se vêem necessitados e em detrimento, em última análise, dos que julgam ser os seus beneficiários, incapazes já de perceber que o homem é chamado a um destino mais alto” (Discurso aos participantes na Conferência mundial da Alimentação, 9-XI-1974).

14-15. A fé que o milagre suscita naqueles homens é ainda muito imperfeita: reconhecem-No como o Messias prometido no Antigo Testamento (cfr Dt 18,15), mas pensam num messianismo terreno e nacionalista, querem fazê-Lo rei porque consideram que o Messias os há-de livrar da dominação romana.

O Senhor, que mais adiante (vv. 26-27) explicará o verdadeiro sentido da multiplicação dos pães e dos peixes, limita-Se a fugir daquele lugar, para evitar uma proclamação popular alheia à Sua verdadeira missão. No diálogo com Pilatos (cfr Ioh 18,36) explicará que o Seu Reino “não é deste mundo”.

“Os Evangelhos mostram claramente como para Jesus era uma tentação o que alterasse a Sua missão de Servidor de Yahwéh (cfr Mt 4,8; Lc 4,5). Não aceita a posição daqueles que misturavam as coisas de Deus com atitudes meramente políticas (cfr Mt 22,21; Mc 12,17; Ioh 18,36) (…). A perspectiva da Sua missão é muito mais profunda. Consiste na salvação integral por um amor transformante, pacificador, de perdão e de reconciliação. Não há dúvida, por outro lado, que tudo isto é muito exigente para a atitude do cristão que quer servir de verdade os irmãos mais pequenos, os pobres, os necessitados, os marginalizados; numa palavra, todos os que reflectem nas suas vidas o rosto dorido do Senhor (cfr Lumen gentium, n. 8)” (Discurso episcopado latinoamericano, n° I,4).

Não se pode, pois, confundir o cristianismo com uma ideologia social ou política, por mais nobre que seja.

“Não penso na tarefa dos cristãos na Terra como o nascer duma corrente político-religiosa – seria uma loucura – nem mesmo com o bom propósito de difundir o espírito de Cristo em todas as actividades dos homens. O que é preciso é pôr em Deus o coração de cada um, seja ele quem for. Procuremos falar a todos os cristãos, para que no lugar onde estiverem (…) saibam dar testemunho, com o exemplo e com a palavra, da fé que professam. O cristão vive no mundo com pleno direito, por ser homem. Se aceita que no seu coração habite Cristo, que reine Cristo, em todo o seu trabalho humano encontrar-se-á – bem forte – a eficácia salvadora do Senhor” (Cristo que passa, n° 183).

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