em Evangelho do dia

Dia 2 de novembro

37Tudo o que o Pai Me dá há-de vir a Mim, e aquele que vem a Mim não o hei-de repelir, 38porque desci do Céu, não para fazer a Minha vontade, mas a vontade d’Aquele que Me enviou. 39Ora é esta a vontade d’Aquele que Me enviou: que daquilo que Me deu, Eu nada perca, mas o ressuscite no último dia. 40De facto, é esta a vontade de Meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e acredita n’Ele tenha a vida eterna; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia.

Comentário

37-40. Jesus revela com clareza que Ele é o Enviado do Pai. Já antes o tinha anunciado São João Baptista (Ioh 3,33-36), e o próprio Jesus o afirmou no diálogo com Nicodemos (Ioh 3,17-21) e o proclamou diante dos Judeus em Jerusalém (Ioh 5,20-30). Visto que Jesus é o enviado do Pai, o pão da vida que desceu do Céu para dar a vida ao mundo, todo aquele que acreditar n’Ele tem a vida eterna, pois a Vontade de Deus é que todos se salvem por meio de Jesus Cristo. Nas palavras de Jesus estão contidos três mistérios: 1) o da fé em Jesus Cristo, que é ir a Jesus aceitando os Seus milagres (sinais) e as Suas palavras; 2) o da ressurreição dos crentes, que se inicia nesta vida pela fé e se cumprirá plenamente no Céu; 3) o da predestinação, que é o desígnio da Vontade de nosso Pai do Céu, de que todos os homens possam salvar-se. Estas palavras solenes do Senhor enchem de esperança o crente.

Santo Agostinho, comentando os vv. 37 e 38, exalta o valor da humildade de Jesus, modelo perfeito da humildade do cristão, ao não querer fazer a Sua vontade, mas a do Pai que O enviou: “Que mistério há aqui tão grande! (…). Eu vim humilde, Eu vim ensinar a humildade; Eu sou o mestre da humildade. Aquele que vem a Mim, incorpora-se a Mim; aquele que vem a Mim torna-se humilde, e aquele que adere a Mim será humilde, porque não faz a sua vontade, mas a de Deus” (In Ioann. Evang., 25,15 e 16).

Dia 3 de novembro

Lc 14, 15-24

15Quando isto ouviu, disse-Lhe um dos convivas: Feliz de quem tomar alimento no Reino de Deus. 16Respondeu-lhe Jesus: Certo homem ia dar um grande jantar e fez muitos convites. 17À hora do jantar, mandou o criado a dizer aos convidados: “Vinde, que as coisas já estão prontas”. 18Mas todos, à uma, começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: “Comprei um campo e preciso de ir vê-lo; peço-te que me dispenses”. 19Disse outro: “Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; peço-te que me dispenses”. 20E outro disse: “Casei-me e, por isso, não posso ir”. 21O criado, ao chegar, comunicou isto ao senhor. Então, irritado, disse o dono da casa ao criado: “Sai imediatamente às praças e às ruas da cidade e traz para aqui os pobres, os estropiados, os cegos e os coxos”. 22“Senhor- disse o criado – está feito o que determinaste, e ainda há lugar”. 23Disse o senhor ao criado: “Sai aos caminhos e às azinhagas e compele-os a entrar, a fim de se encher a minha casa. 24Pois vos digo que nenhum daqueles que foram convidados provará do meu jantar”.

Comentário

15. A expressão “tomar alimento no Reino de Deus” significa na linguagem da Bíblia participar da bem-aventurança eterna, simbolizada num grande banquete (cfr Is 25,6; Mt 22,1-14).

16-24. Diante do convite de Deus à fé e à correspondência pessoal, há que sacrificar qualquer interesse humano, por mais lícito e nobre que se nos apresente, se impede a resposta cabal ao chamamento divino. Essas aparentes razões ou deveres são, de facto, meras desculpas. Por isso aparece clara a culpabilidade dos convidados desagradecidos.

“Compele a entrar”: Não se trata de violentar a liberdade de ninguém – Deus não quer que O amemos à força -, mas de ajudar a decidir-se pelo bem, deixando os respeitos humanos, a ocasião de pecado, a ignorância… “Obriga-se alguém a entrar” com a oração, com o sacrifício, com o testemunho de uma vida cristã, com a amizade, numa palavra, com o apostolado. “Se, para salvar uma vida terrena, empregamos a força, com o aplauso de todos, para evitar que um homem se suicide…, não havemos de poder empregar a mesma coacção – a santa coacção – para salvar a Vida (com maiúscula) de muitos que se obstinam em suicidar idiotamente a sua alma?” (Caminho, n° 399).

Dia 4 de novembro

Lc 14, 25-33

25Caminhavam com Jesus grandes multidões. Ele voltou-Se e disse-lhes: 26Se alguém vem ter comigo sem odiar pai, mãe, esposa, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode ser Meu discípulo. 27Quem não carrega com a sua cruz para vir após Mim não pode ser Meu discípulo.

28Pois, quem dentre vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro a calcular a despesa e a ver se tem com que acabá-la? 29Não suceda que, depois de assentar os alicerces, não podendo completá-la, comecem todos os que vêem a troçar dele, 30dizendo: “Este homem começou a construir e não pôde completar”. 31Ou qual é o rei que parte ao encontro de outro rei, para travar combate, e não se senta primeiro a deliberar se é capaz de se opor, com dez mil soldados, àquele que vem sobre ele com vinte mil? 32Aliás, estando o outro ainda longe, manda-lhe uma deputação a pedir as condições de paz. 33Assim, pois, todo aquele dentre vós que não se desliga de todos os seus haveres não pode ser Meu discípulo.

Comentário

26. Estas palavras do Senhor não devem desconcertar ninguém. O amor a Deus e a Jesus Cristo deve ocupar o primeiro lugar na nossa vida e devemos afastar tudo aquilo que ponha obstáculos a este amor: “Amemos neste mundo a todos, comenta São Gregório Magno, ainda que seja ao inimigo; mas odeie-se o que se nos opõe no caminho de Deus, ainda que seja parente… Devemos, pois, amar o próximo; devemos ter caridade com todos; com os parentes e com os estranhos, mas sem nos afastarmos do amor de Deus por amor deles” (In Evangelia homiliae, 37, 3). Em última análise, trata-se de observar a ordem da caridade: Deus tem prioridade sobre tudo.

Este versículo há-de entender-se, portanto, dentro do conjunto dos ensinamentos e das exigências do Senhor (cfr Lc 6, 27-35). Estas palavras “são duras. Decerto nem o odiar nem o aborrecer exprimem bem o pensamento original de Jesus. De qualquer maneira, as palavras do Senhor foram fortes, pois não se reduzem a um amor menor, como por vezes se interpreta temperadamente, para suavizar a frase. É tremenda essa expressão tão taxativa, não porque implique uma atitude negativa ou impiedosa, pois o Jesus que fala agora é o mesmo que manda amar os outros como a própria alma e entrega a Sua vida pelos homens: aquela locução indica simplesmente que perante Deus não cabem meias-tintas. Poderiam traduzir-se as palavras de Cristo por amar mais, amar melhor, ou então por não amar com um amor egoísta nem também com um amor de vistas curtas: devemos amar com o Amor de Deus” (Cristo que passa, n° 97).

Como explica o Concílio Vaticano II, os cristãos “procuram mais agradar a Deus que aos homens, sempre dispostos a deixar tudo por Cristo” (Apostolicam actuositatem, n. 4).

27. Cristo “sofrendo por nós, não só nos deu exemplo, para que sigamos os Seus passos, mas também abriu um novo caminho, em que a vida e a morte são santificados e i recebem um novo sentido” (Gaudium et spes, n. 22).

O caminho do cristão é a imitação de Jesus Cristo. Não há outro modo de o seguir senão acompanhá-Lo com a própria Cruz. A experiência mostra-nos a realidade do sofrimento, e que este leva à infelicidade se não se aceita com sentido cristão. A Cruz não é uma tragédia, mas pedagogia de Deus que nos santifica por meio da dor para nos identificarmos com Cristo e nos tornarmos merecedores da glória. Por isso é tão cristão amar a dor: “Bendita seja a dor. – Amada seja a dor. – Santificada seja a dor… Glorificada seja a dor!” (Caminho, n° 208).

28-35. O Senhor mostra-nos com diversas comparações que se a própria prudência humana exige que o homem preveja os riscos das suas empresas, com maior razão o cristão se abraçará voluntária e generosamente à Cruz, porque sem ela não poderia seguir Jesus Cristo “‘Quia hic homo coepit aedificare et non potuit consummare!’ – começou a edificar e não pôde terminar!

Triste comentário, que, se quiseres, não se fará de ti, porque tens todos os meios para coroar o edifício da tua santificação: a graça de Deus e a tua vontade” (Caminho, n° 324).

33. Se antes o Senhor falou de “odiar” os pais e até a própria vida, agora exige com igual vigor o desprendimento total das riquezas. Este versículo é aplicação directa das duas parábolas anteriores: assim como é imprudente um rei que pretende lutar com um número insuficiente de soldados, também é insensato quem quiser seguir o Senhor sem renunciar a todos os seus bens. Esta renúncia das riquezas há-de ser efectiva e concreta: o coração deve estar desembaraçado de todos os bens materiais para poder seguir os passos do Senhor. E é que, como dirá mais adiante, é impossível “servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16,13). Não é infrequente que o Senhor peça a alguns viver em pobreza absoluta e voluntária; e de todos exige o desprendimento afectivo e a generosidade ao empregar os bens materiais. Se o cristão há-de estar pronto a renunciar à própria vida, com mais motivo há-de está-lo relativamente às riquezas: “Se és homem de Deus, põe em desprezar as riquezas o mesmo empenho que põem os homens do mundo em possuí-las” (Caminho, n° 633).

Por outro lado, para que a alma possa encher-se de Deus, há-de esvaziar-se primeiro de tudo aquilo que lho pudesse impedir: “A doutrina que o Filho de Deus veio ensinar foi o menosprezo de todas as coisas, para poder receber o preço do espírito de Deus em si. Porque, enquanto não se desfizer delas, a alma não tem capacidade para receber o espírito de Deus em pura transformação” (Subida ao Monte Carmelo, liv. I, cap.5, n° 2).

Dia 5 de novembro

Lc 15, 1-10

1Ora os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus para O ouvirem. 2E os Fariseus e os Escribas murmuravam entre si, dizendo: Este homem acolhe os pecadores e come com eles. 3Propôs-lhes então a seguinte parábola: 4Quem dentre vós – disse Ele – possuindo cem ovelhas e, tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, para ir atrás da que está perdida, até a encontrar? 5E, ao encontrá-la, a não põe, radiante, aos ombros 6e, ao chegar a casa, não convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: “Alegrai-vos comigo, porque achei a minha ovelha perdida.”? 7Eu vos digo que haverá assim mais alegria no Céu por um só pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não têm necessidade de arrependimento.

8Ou qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e tendo perdido uma, não acende uma lâmpada, não varre a casa e não procura cuidadosamente, até a encontrar? 9Ao encontrá-la, convoca as amigas e vizinhas e diz: “Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que perdera”. 10Assim, vos digo Eu, é que há alegria entre os Anjos de Deus por um só pecador que se arrepende.

Comentário

1-2. Não é esta a primeira vez que publicanos e pecadores se aproximam de Jesus (cfr Mt 9,10). A pregação do Senhor atraía pela sua simplicidade e pelas suas exigências de entrega e de amor. Os fariseus tinham-Lhe inveja porque a gente ia atrás d’Ele (cfr Mt 26,3-5; Ioh 11,47). Essa atitude farisaica pode repetir-se entre os cristãos: uma dureza de juízo tal que não aceite que um pecador, por maiores que tenham sido os seus pecados, possa converter-se e ser santo; uma cegueira de mente tal que impeça reconhecer o bem que fazem os outros e alegrar-se disso. Nosso Senhor já vai ao encontro desta atitude errada quando responde aos Seus discípulos que se queixam de que outros expulsem demónios em Seu nome: “Não lho proibais, pois não há ninguém que faça um milagre em Meu nome e possa a seguir falar mal de Mim” (Mc 9,39). Igualmente São Paulo alegrava-se de que outros anunciassem Cristo, e inclusivamente passava por alto que o fizessem por interesse, desde que Cristo fosse pregado (cfr Phil 1,17-18).

5-6. A tradição cristã, fundada também noutros passos evangélicos (cfr Ioh 10,11), aplica esta parábola a Cristo, Bom Pastor, que sente falta e busca com afã a ovelha perdida: o Verbo, desencaminhada a humanidade pelo pecado, sai ao seu encontro na Encarnação. Neste sentido comenta São Gregório Magno: “Pôs a ovelha aos ombros, porque, ao assumir a natureza humana, Ele próprio carregou com os nossos pecados” (In Evangelia homiliae, 2,14).

O Concílio Vaticano II aplica estes versículos de São Lucas ao cuidado pastoral que hão-de ter os sacerdotes: “No seu trato e solicitude de cada dia, não se esqueçam de apresentar aos fiéis e infiéis, aos católicos e não-católicos, a imagem do autêntico ministério sacerdotal e pastoral, de dar a todos o testemunho de verdade e de vida, e de procurar também, como bons pastores, aqueles que, baptizados embora na Igreja católica, abandonaram os sacramentos ou até mesmo a fé” (Lumen gentium, n. 28). Mas um cuidado semelhante, vivido fraternalmente, incumbe também a todo o fiel cristão, que deve ajudar os seus irmãos os homens no caminho da salvação e da santificação.

7. Isto não quer dizer que o Senhor não estime a perseverança dos justos, mas que aqui se põe em realce o gozo de Deus e dos bem-aventurados diante do pecador que se converte. É um claro chamamento ao arrependimento e a não duvidar nunca do perdão de Deus. “Outra queda…, e que queda!… Desesperar-te? Não; humilhar-te e recorrer, por Maria, tua Mãe, ao Amor Misericordioso de Jesus. – Um ‘miserere’ e, coração ao alto! – A começar de novo” (Caminho, nº 711).

8. A dracma era uma moeda de prata que equivalia a um denário, isto é, aproximadamente o jornal de um trabalhador agrícola (cfr Mt 20,2).

Dia 6 de novembro

Lc 16, 1-8

1Disse também aos Seus discípulos: Havia um homem rico, que tinha um infiel administrador, e este foi acusado perante ele de lhe malbaratar os bens. 2Chamou-o e disse-lhe: “Que é isto que oiço a teu respeito? Presta contas da tua administração, pois já não poderás administrar”. 3Disse consigo o administrador: “Que hei-de fazer, visto o meu senhor me ir tirar a administração? Cavar não posso; mendigar, tenho vergonha… 4Já sei o que hei-de fazer, para que me recebam em casa, quando for removido da administração”. 5E, mandando chamar um a um os devedores do seu senhor, disse ao primeiro: “Quanto deves ao meu senhor?”. 6Este respondeu: “Cem talhas de azeite”. “Toma o teu recibo – retorquiu-lhe – senta-te depressa e escreve cinquenta”. 7A seguir, disse a outro: “E tu, quanto deves?”. Este respondeu: “Cem medidas de trigo”. “Toma o teu recibo – retorquiu-lhe – e escreve oitenta”. 8E o senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido acauteladamente. É que os filhos deste mundo são mais cautelosos que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes.

Comentário

1-8. O administrador infiel congemina o modo de resolver a sua futura situação de indigência. O Senhor dá por suposta – era evidente – a imoralidade de tal actuação. Põe em realce e louva, porém, a agudeza e o empenho que demonstra este homem para tirar proveito material da sua antiga condição de administrador. Jesus quer que na salvação da alma e na propagação do Reino de Deus apliquemos, pelo menos, a mesma sagacidade e o mesmo esforço que põem os homens nos seus negócios materiais ou na luta por fazer triunfar um ideal humano. O facto de contar com a graça de Deus não exime de modo algum de pôr todos os meios humanos honestos que sejam possíveis, ainda que isso suponha esforço árduo e sacrifício heróico.

“Que empenho põem os homens nas suas coisas terrenas!: sonhos de honras, ambição de riquezas, preocupações de sensualidade. – Eles e elas, ricos e pobres, velhos e homens feitos, e jovens, e até crianças; todos, a mesma coisa.

– Quando tu e eu pusermos o mesmo empenho nos assuntos da nossa alma, teremos uma fé viva e operante; e não haverá obstáculo que não vençamos nos nossos empreendimentos apostólicos” (Caminho, nº 317).

Dia 7 de novembro

Lc 16, 9-15

9E Eu digo-vos a vós: Arranjai amigos com o vil dinheiro para, quando este faltar, eles vos receberem nas tendas eternas.

10Quem é fiel em mui pouco é fiel também em muito, e quem é infiel em mui pouco é infiel também em muito.

11Portanto, se não fostes fiéis no que toca ao vil dinheiro, quem vos há-de confiar o verdadeiro bem? 12E se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso?

13Nenhum servo pode servir a dois senhores, porquanto, ou há-de odiar a um e amar o outro, ou então ligar-se-á a um, desprezando o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro.

14Os Fariseus, que eram amigos do dinheiro, ouviam tudo isto e escarneciam d’Ele. 15Disse-lhes então: Vós pretendeis passar por justos aos olhos dos homens, mas Deus conhece os vossos corações. Ora o que se dá por sublime aos homens é abominável aos olhos de Deus.

Comentário

1-8. O administrador infiel congemina o modo de resolver a sua futura situação de indigência. O Senhor dá por suposta – era evidente – a imoralidade de tal actuação. Põe em realce e louva, porém, a agudeza e o empenho que demonstra este homem para tirar proveito material da sua antiga condição de administrador. Jesus quer que na salvação da alma e na propagação do Reino de Deus apliquemos, pelo menos, a mesma sagacidade e o mesmo esforço que põem os homens nos seus negócios materiais ou na luta por fazer triunfar um ideal humano. O facto de contar com a graça de Deus não exime de modo algum de pôr todos os meios humanos honestos que sejam possíveis, ainda que isso suponha esforço árduo e sacrifício heróico.

“Que empenho põem os homens nas suas coisas terrenas!: sonhos de honras, ambição de riquezas, preocupações de sensualidade. – Eles e elas, ricos e pobres, velhos e homens feitos, e jovens, e até crianças; todos, a mesma coisa.

– Quando tu e eu pusermos o mesmo empenho nos assuntos da nossa alma, teremos uma fé viva e operante; e não haverá obstáculo que não vençamos nos nossos empreendimentos apostólicos” (Caminho, nº 317).

9-11. Chama-se aqui “vil dinheiro” – aos bens deste mundo que foram obtidos por processos injustos. É tanta a misericórdia divina que essa mesma riqueza injusta pode ser também ocasião de virtude por meio da restituição, da reparação de danos e prejuízos e, depois, excedendo-se na ajuda ao próximo, nas esmolas, no fomento das fontes trabalho, de riqueza, etc. Tal é o caso de Zaqueu, chefe de publicanos, que se compromete a restituir o quádruplo do que tivesse roubado e, além disso, a entregar a metade dos seus bens aos necessitados. O Senhor diante dessa atitude declara categoricamente que a salvação entrou naquele dia na casa de Zaqueu (cfr Lc 19, 1-10).

Nosso Senhor fala de fidelidade no pouco referindo-se às riquezas, já que na realidade estas são mui pouca coisa comparadas com os bens espirituais. Se o homem é fiel, generoso e desprendido no uso dessas riquezas caducas, receberá no fim o prémio da vida eterna, a riqueza máxima e definitiva. Por outro lado, a vida humana pela sua própria natureza é um tecido de coisas pequenas; quem não lhes prestar atenção não poderá realizar coisas grandes.

“Tudo aquilo em que intervimos nós, os pobrezitos dos homens – mesmo a santidade – é um tecido de pequenas coisas, que – segundo a intenção com que se fazem – podem formar uma tapeçaria esplêndida de heroísmo ou de baixeza, de virtudes ou de pecados.

As gestas relatam sempre aventuras gigantescas, mas misturadas com pormenores caseiros do herói. – Oxalá tenhas sempre em muito apreço – é a linha recta! – as coisas pequenas” (Caminho, nº 826).

A parábola do administrador infiel é uma imagem da vida do homem. Tudo o que temos é dom de Deus, e nós somos os seus administradores, que tarde ou cedo teremos de Lhe prestar contas.

12. Por alheio entendem-se os bens deste mundo, porque são passageiros e mutáveis. Por vosso entendem-se os bens do espírito, valores imperecedoiros, que são radicalmente nossos porque nos acompanharão na vida eterna. Por outras palavras: como nos irá ser dado o Céu se não tivermos sido fiéis na terra?

13-14. O serviço na antiguidade levava consigo uma dedicação tão total e absorvente ao amo que não havia lugar para compartilhá-la com outro trabalho ou com outro amo.

A tarefa do nosso serviço a Deus, da nossa santificação, exige que encaminhemos para Ele todos os actos da nossa vida. O cristão não tem um tempo para Deus e outro para os negócios deste mundo, mas estes devem converter-se em serviço a Deus e ao próximo pela rectidão de intenção, pela justiça e pela caridade.

Os fariseus zombam da exigência de Jesus para justificarem o apego que tinham às riquezas; por vezes também os homens procuram ridicularizar o serviço total a Deus e o desprendimento dos bens materiais porque não só não estão dispostos a pô-lo em prática, mas nem sequer concebem que outros possam ter essa generosidade: parece-lhes que devem existir sempre interesses ocultos.

15. “Abominável”: A palavra original grega significa culto aos ídolos e, por derivação, o horror que tal culto produz no verdadeiro adorador de Deus. Por isso a frase exprime a repugnância que produz a Deus a atitude dos fariseus, que ao quererem ser exaltados se põem, como ídolos, no lugar de Deus.

Dia 8 de novembro

Mc 12, 38-44

38E Ele, no Seu ensino, dizia: Guardai-vos dos Escribas, que gostam de passear com vestidos roçagantes, de ser saudados nas praças, 39de ocupar as primeiras cadeiras nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes; 40que devoram as casas das viúvas e simulam orar longamente. Estes receberão julgamento mais severo.

41Sentando-Se depois defronte do gazofilácio, observava como a gente lá deitava moedas de cobre. Muitos ricos deitavam muito. 42Veio uma pobre viúva e deitou duas pequeninas moedas, que perfaziam um quadrante. 43E Ele, chamando os discípulos disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deitou no gazofilácio mais que todos. 44Pois que todos deitaram do que lhes sobejava, mas esta, da sua indigência, deitou quanto tinha, todo o seu sustento.

Comentário

38-40. O Senhor repreende o afã desordenado das honras humanas: “Deve advertir-se que não proíbe as saudações na praça nem ocupar os primeiros assentos àqueles a quem corresponde pelo seu ofício; mas previne os fiéis de que devem evitar, como homens maus, os que amam indevidamente tais honras” (In Marci Evangelium expositio, ad loc.).

41-44. O pequeno episódio é ocasião para que Nosso Senhor dê um ensinamento em que quer realçar a importância do que aparentemente é insignificante. Usa uma expressão um tanto paradoxal: a pobre viúva deitou mais que s ricos. Diante de Deus o valor das acções consiste mais na rectidão de intenção e na generosidade de espírito, que na quantia do que se dá.

“Não viste os fulgores do olhar de Jesus quando a pobre viúva deixou no Templo a sua pequena esmola? – Dá-Lhe tu o que puderes dar; não está o mérito no pouco nem no muito, mas na vontade com que o deres” (Caminho, nº 829).

Por isso mesmo, também são agradáveis a Deus as nossas acções, ainda que não tenham a perfeição que seria de desejar. São Francisco de Sales comenta: “Como no tesouro do Templo foram estimadas as duas moedazinhas da pobre viúva (…), as pequenas obras boas, ainda que cumpridas com um pouco de descuido e não com toda a energia da nossa caridade, não deixam de ser gratas a Deus e de ter o seu mérito diante d’Ele; donde, ainda que elas por si mesmas não valham para aumentar o amor precedente (…), a Providência divina, que toma conta delas e pela Sua bondade as estima, imediatamente as recompensa com aumento de caridade nesta vida e com a atribuição de maior glória no Céu” (Tratado do amor de Deus, livro 3, cap. 2).

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