em Evangelho do dia

Dia 10 de agosto

Jo 12, 24-26

24Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica ele só. Mas, se morrer, dá muito fruto. 25Quem tem amor à sua vida perde-a; e quem odeia a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. 26Se alguém está ao Meu serviço, que Me siga; e onde Eu estou, lá estará também o Meu servidor. Se alguém está ao Meu serviço, o Pai há-de honrá-lo.

Comentário

24-25. Lemos aqui o aparente paradoxo entre a humilhação de Cristo e a Sua exaltação. Assim “foi conveniente que se manifestasse a exaltação da Sua glória de tal maneira, que estivesse unida à humildade da Sua paixão” (In Ioann. Evang., 51,8).

É a mesma ideia que ensina São Paulo ao dizer que Cristo Se humilhou e Se fez obediente até à morte e morte de Cruz, e que por isso Deus Pai O exaltou sobre toda a criatura (cfr Phil 2,8-9). Constitui uma lição e um estímulo para o cristão, que há-de ver em todo o sofrimento e contrariedade uma participação na Cruz de Cristo que nos redime e nos exalta. Para ser sobrenaturalmente eficaz, deve cada um morrer para si mesmo, esquecendo-se por completo da sua comodidade e do seu egoísmo. “Se o grão de trigo não morre, permanece infecundo. – Não queres ser grão de trigo, morrer pela mortificação e dar espigas bem gradas? – Que Jesus abençoe o teu trigal!” (Caminho, n.° 199).

26. O Senhor falou do Seu sacrifício como condição para entrar na glória. E o que vale para o Mestre, também se aplica aos Seus discípulos (cfr Mt 10,24; Lc 6,40). Jesus Cristo quer que cada um de nós O sirva. É um mistério dos desígnios divinos que Ele – que é tudo, que tem tudo e não necessita de nada nem de ninguém – queira necessitar do nosso serviço para que a Sua doutrina e a salvação operada por Ele cheguem a todos os homens.

“Seguir Cristo: este é o segredo. Acompanhá-Lo tão de perto, que vivamos com Ele, como os primeiros Doze; tão de perto, que com Ele nos identifiquemos: Se não levantarmos obstáculos à graça, não tardaremos a afirmar que nos revestimos de Nosso Senhor Jesus Cristo (cfr Rom XIII, 14) (…).

Neste esforço por nos identificarmos com Cristo, costumo falar de quatro degraus: procurá-Lo, encontrá-Lo, conhecê-Lo, amá-Lo. Talvez vos pareça que estais na primeira etapa… Procurai-O com fome, procurai-O em vós mesmos com todas as vossas forças! Se o fazeis com este empenho, atrevo-me a garantir que já O encontrastes e que já começastes a conhecê-Lo e a amá-Lo e a ter a vossa conversa nos céus (cfr Phil III, 20)” (Amigos de Deus, nos 299-300).

Dia 11 de agosto

Mt 18, 1-5.10.12-14

1Naquela mesma hora, chegaram-se os discípulos a Jesus e disseram-Lhe: Quem é, pois, o maior no Reino dos Céus? 2Chamou Ele um menino, pô-lo no meio deles 3e disse: Em verdade vos digo que, se não voltardes a ser como meninos, não entrareis no Reino dos Céus. 4Todo aquele, pois, que se fizer pequeno como este menino, esse é o maior no Reino dos Céus. 5E quem receber um menino como este em Meu nome, é a Mim que recebe.

10Vede lá não desprezeis um só destes pequeninos, pois Eu vos digo que os seus Anjos, nos Céus, estão incessantemente a contemplar a face de Meu Pai que está nos Céus.

12Que vos parece? Se alguém tiver cem ovelhas e alguma delas se desgarrar, não deixará, porventura, as noventa e nove pelos montes, para ir em busca da que se desgarrou? 13E se logra encontrá-la, em verdade vos digo que se alegra mais por via dela, do que pelas noventa e nove que se não desgarraram. 14Assim, a vontade de vosso Pai que está nos Céus é que se não perca nem um só destes pequeninos.

Comentário

1-6. É claro que os discípulos ainda abrigavam ambições terrenas ao pedir o primeiro lugar para quando Cristo instaure na terra o Seu Reino (cfr Act 1,6). Para corrigir o seu orgulho, o Senhor coloca diante deles um menino, exigindo-lhes que se querem entrar no Reino dos Céus, sejam por vontade o que as crianças são por idade. As crianças caracterizam-se pela sua incapacidade de ódio, e vê-se nelas uma total inocência no que diz respeito aos vícios, e principalmente ao orgulho, que é o maior de todos. São simples e abandonam-se confiadamente.

A humildade é um dos pilares mestres da vida cristã: “Se me perguntais – dizia Santo Agostinho – que é o mais essencial na religião e na disciplina de Jesus Cristo, responder-vos-ei: o primeiro a humildade, o segundo a humildade e o terceiro a humildade” (Epístola 118).

3-4. Aplicando estas palavras às virtudes de Nossa Senhora, Frei Luís de Granada sublinha que a humildade é mais excelente que a virgindade: “Se não podes imitar a virgindade da humilde, imita a humildade da virgem. Louvável é a virgindade, mas mais necessária é a humildade. Àquela nos aconselham, a esta nos obrigam; àquela nos convidam, a esta nos forçam (…). De maneira que aquela é galardoada como sacrifício voluntário, esta pedida como sacrifício obrigatório. Finalmente, podes salvar-te sem virgindade, mas não sem humildade” (Suma da vida cristã, livro 3, parte 2, cap. 10).

5. Acolher um menino em nome de Jesus é acolher o próprio Jesus. Porque as crianças são reflexo da inocência, da simplicidade, da pureza, da ternura do Senhor; “para uma alma enamorada, as crianças e os doentes são Ele” (Caminho, n.° 419).

10. Dar escândalo aos pequenos é coisa grave: Jesus adverte-o com energia. Pois estes pequenos têm os seus anjos que os guardam e defendem, e que acusarão diante de Deus aqueles que os tenham induzido ao pecado.

No contexto fala-se dos anjos da guarda dos pequenos, visto que é a estes que se está a referir o passo. Mas todos os homens, grandes ou pequenos, têm o seu anjo da guarda. “A Providência de Deus deu aos anjos a missão de guardar a linhagem humana, e de socorrer cada homem (…). O Nosso Pai deu-nos, a cada um de nós, anjos para que sejamos fortalecidos com o seu poder e auxílio” (Catecismo Romano, IV, 9,4).

Esta doutrina deve levar-nos a uma intimidade confiante com o nosso anjo da guarda. “Tem confiança com o teu Anjo da Guarda. – Trata-o como amigo íntimo – é-o efectivamente – e ele saberá prestar-te mil e um serviços nos assuntos correntes de cada dia” (Caminho, n.° 562).

11 -14. A parábola põe em relevo a solicitude amorosa do Senhor pelos pecadores. E manifesta de modo humano a alegria de Deus ao recuperar um filho querido que se tinha extraviado.

Diante do panorama de tantas almas que vivem afastadas de Deus, o Santo Padre comenta: “Infelizmente assistimos com angústia à corrupção moral que devasta a humanidade, desprezando especialmente os pequenos, de quem fala Jesus. Que devemos fazer? Imitar o Bom Pastor e afanar-nos sem trégua pela salvação das almas. Sem esquecer a caridade material e a justiça social, devemos estar convencidos de que a caridade mais sublime é a espiritual, ou seja, o interesse pela salvação das almas. E as almas salvam-se com a oração e o sacrifício. Esta é a missão da Igreja!” (João Paulo II, Homilia às Clarissas de Albano, 14-VIII-1979).

Muitos manuscritos acrescentam, tomando-o segundo parece de Lc 19, 10, o v. 11: “Pois o Filho do Homem veio para salvar o que estava perdido”.

Dia 12 de agosto

Mt 18, 15-20

15Se teu irmão cometer alguma falta contra ti, vai e repreende-o, a sós, entre ti e ele. Se te ouvir, terás ganho o teu irmão. 16Mas se não te ouvir, toma contigo mais um ou dois, para que toda a questão se ajuste sob a palavra de duas ou três testemunhas. 17Se, porém, os não ouvir, diz à Igreja. E se nem sequer ouvir a Igreja, seja para ti como o gentio e o publicano. 18Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra, será ligado no Céu; e tudo o que desligardes na Terra, será desligado no Céu.

19Outra vez vos digo em verdade que, se dois de vós sobre a Terra concordarem em pedir alguma coisa, ser-lhes-á concedido por Meu Pai que está nos Céus. 20Porque, onde estão dois reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles.

Comentário

15-17. O Senhor faz-nos aqui uma chamada a cooperar com Ele na santificação dos outros através da correcção fraterna, entre outros possíveis meios. Às fortes palavras com que o Senhor condenava o escândalo, seguem-se agora estas outras, não menos fortes, contra o pecado da negligência (cfr Hom. sobre S. Mateus, 61).

Existe obrigação de corrigir. O Senhor indica três graus de correcção: 1) a sós, 2) diante de uma ou duas testemunhas, e 3) diante da Igreja. A primeira refere-se aos escândalos e pecados secretos ou particulares. Deve fazer-se a sós, com o fim de não proclamar sem necessidade o que é privado; também para não ferir o corrigido e facilitar a sua rectificação. Se esta correcção não desse o resultado que se busca, e a causa fosse grave, há-de recorrer-se ao segundo momento: buscar um ou dois amigos, cuja intervenção pode ser mais persuasiva. Por último vem a correcção jurídica, que se faz oficialmente diante da autoridade eclesiástica. Se o pecador assim advertido não admite a correcção, deve ser excomungado, isto é, afastado da comunhão da Igreja e dos seus sacramentos.

18. É preciso compreender este versículo em relação com o poder prometido antes a Pedro (cfr Mt 16, 13-19). Será, pois, a hierarquia da Igreja quem vai exercer este poder outorgado por Cristo a Pedro, aos Apóstolos e aos seus legítimos sucessores: o Papa e os Bispos.

19-20. “Ubi caritas et amor, Deus ibi est”, “onde há caridade e amor, aí está Deus”, canta a liturgia da Quinta-Feira Santa, inspirada no texto sagrado de 1 Ioh 4,12. Pois, com efeito, o amor não se concebe onde há um só, mas supõe duas ou mais pessoas (cfr Comentário sobre S. Mateus, 18, 19-20). Assim, quando vários cristãos se reúnem em nome de Cristo para orar, entre eles está presente o Senhor, que escuta com agrado essa oração unânime dos seus: “Todos eles se entregavam assiduamente à oração numa só alma, com algumas mulheres, incluindo Maria, mãe de Jesus” (Act l, 14). Por isso, a Igreja viveu desde o princípio a prática da oração em comum (cfr Act 12,5). “Há práticas de piedade – poucas, breve e habituais – que sempre se viveram nas famílias cristãs, e entendo que são maravilhosas: a bênção da mesa, a oração antes e depois das refeições, a recitação do Terço juntos – apesar de não faltar, nestes tempos, quem ataque essa solidíssima devoção mariana -, as orações pessoais ao levantar e ao deitar. Tratar-se-á de costumes diversos segundo os lugares, mas penso que sempre se deve fomentar algum acto de piedade, que os membros da família realizem juntos, de forma simples e natural, sem beatices” (Temas Actuais do Cristianismo, n.° 103).

Dia 13 de agosto

Mt 18, 21-19,1

21Então aproximou-se Pedro e disse-Lhe: Senhor, se meu irmão pecar contra mim, quantas vezes lhe devo perdoar? Até sete vezes? 22Disse-lhe Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23Por isso, é semelhante o Reino dos Céus a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. 24Logo ao começar, foi-lhe apresentado um que devia dez mil talentos. 25E como não tivesse com que pagar, mandou o senhor que o vendessem a ele e à mulher e aos filhos e a tudo quanto tinha e que assim se pagasse a dívida. 26Lançou-se o servo por terra e, prostrando-se diante dele, disse-lhe: “Senhor, tem paciência comigo e pagar-te-ei tudo”. 27E o senhor, compadecido daquele servo, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida. 28Ao sair, encontrou-se o servo com um dos seus companheiros que lhe devia cem dinheiros e, aferrando-o pelo pescoço afogava-o, dizendo: Paga o que deves. 29Lançou-se-lhe o companheiro aos pés e começou a suplicar-lhe: Tem paciência comigo e pagar-te-ei. 30Ele, porém, não quis, mas foi metê-lo na cadeia até que pagasse a dívida. 31Os outros servos, ao verem o que se passava, ficaram muito magoados e foram contar tudo ao senhor. 32Então o senhor chamou-o e disse-lhe: Servo perverso, perdoei-te toda aquela dívida, porque mo pediste. 33Não devias tu compadecer-te do teu companheiro, como eu me compadeci de ti? 34E, indignado, o senhor entregou-o aos algozes até que pagasse toda a dívida. 35Assim vos fará também o Meu Pai celeste, se não perdoardes, cada um a seu irmão, do íntimo dos vossos corações.

1E aconteceu que, tendo Jesus acabado estes discursos, partiu da Galileia e foi para os confins da Judeia, por além do Jordão.

Comentário

21-35. A pergunta de Pedro e, sobretudo, a resposta de Jesus dão-nos a pauta do espírito de compreensão e misericórdia que deve presidir à actuação dos cristãos.

A cifra de setenta vezes sete na linguagem hebraica equivale ao advérbio “sempre” (cfr Gen 4,24): “De modo que não encerrou o Senhor o perdão num número determinado, mas deu a entender que se tem de perdoar continuamente e sempre ” (Hom. sobre S. Mateus, 6). Também se pode observar aqui um contraste entre a atitude mesquinha dos homens em perdoar com cálculo e a misericórdia infinita de Deus. Por outro lado, a nossa situação de devedores relativamente a Deus fica muito bem reflectida na parábola. Um talento equivalia a seis mil denários e um denário era o jornal diário de um trabalhador. A dívida de dez mil talentos é uma quantidade exorbitante que nos dá ideia do valor imenso que tem o perdão que recebemos de Deus. Contudo, o ensinamento final da parábola é o de perdoar sempre e do íntimo do coração aos nossos irmãos. “Esforça-te, se é preciso, por perdoar sempre aos que te ofenderem, desde o primeiro instante, já que, por maior que seja o prejuízo ou a ofensa que te façam, mais te tem perdoado Deus a ti” (Caminho, n.° 452).

Dia 14 de agosto

Mt 19, 3-12

3Aproximaram-se d’Ele uns Fariseus, para O tentarem, e disseram-Lhe: É lícito repudiar a própria mulher por qualquer motivo? 4Respondeu Ele: Não lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e disse: 5“Por isso deixará o homem pai e mãe e unir-se-á com sua mulher e formarão os dois uma só carne?”. 6Portanto, já não são dois, mas uma carne só. Não separe, pois, o homem o que Deus ajuntou. 7Replicaram eles: Então, porque é que Moisés mandou dar-lhe libelo de repúdio e desquitá-la? 8Respondeu-lhes: Moisés, por causa da dureza do vosso coração, permitiu-vos repudiar as vossas mulheres. Mas, ao princípio, não era assim. 9Ora Eu digo-vos que todo o que se desquitar de sua mulher, excepto no caso de união ilegítima, e casar com outra, comete adultério. E quem casar com uma desquitada, comete adultério.

10Dizem-Lhe os discípulos: Se tal é a condição do homem com a sua mulher, mais vale não casar. 11Respondeu-lhes Ele: Nem todos compreendem esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido. 12Porque há eunucos de nascença, e há eunucos que foram feitos tais pelos homens, e há eunucos que tais se fizeram a si mesmos, por amor do Reino dos Céus. Quem pode compreender, compreenda.

Comentário

4-5. “O matrimônio e o amor conjugal destinam-se por sua própria natureza à geração e educação da prole. Os filhos são, sem dúvida, o maior dom do matrimônio e contribuem muito para o bem dos próprios pais. O mesmo Deus que disse “não é bom que o homem esteja só” (Gen 2,18) e que “desde a origem fez o homem varão e mulher” (Mt 19, 4), querendo comunicar-lhe uma participação especial na Sua obra criadora, abençoou o homem e a mulher dizendo: “sede fecundos e multiplicai-vos” (Gen 1, 28). Por isso, o autêntico culto do amor conjugal, e toda a vida familiar que dele nasce, sem pôr de lado os outros fins do matrimônio, tendem a que os esposos, com fortaleza de ânimo, estejam dispostos a colaborar com o amor do Criador e Salvador, que por meio deles aumenta cada dia mais e enriquece a sua família (Gaudium et spes, n. 50).

9. Em todo este passo predomina o ensinamento do Senhor acerca da unidade e da indissolubilidade do matrimônio. Como diz São João Crisóstomo, comentando este passo, o matrimônio é um com uma e para sempre (cfr Hom. sobre S. Mateus, 62).

11. “Nem todos são capazes de compreender esta doutrina”: O Senhor sabe bem que as exigências dos Seus ensinamentos à volta do matrimônio e a Sua recomendação do celibato por amor de Deus chocam com o egoísmo humano. Por isso afirma que compreender esta doutrina é dom de Deus.

12. Com este modo figurado de falar refere-Se o Senhor aos que por Seu amor renunciam ao matrimônio e Lhe oferecem totalmente a sua vida. A virgindade por amor de Deus é um dos carismas mais estimados na Igreja (cfr 1 Cor 7); mostra-se com a própria vida o estado dos bem-aventurados, que no Céu são como anjos (Mt 22, 30). Daqui que o Magistério da Igreja tenha declarado a superioridade do estado de virgindade por amor do Reino dos Céus, sobre o estado matrimonial (cfr De Sacram. matr., can. 10; cfr também Sacra virginitas). Sobre a virgindade e o celibato ensina o Concílio Vaticano II: “A santidade da Igreja é também especialmente favorecida pelos múltiplos conselhos que o Senhor propõe no Evangelho aos Seus discípulos. Entre eles sobressai o de, com o coração mais facilmente indiviso, se consagrarem só a Deus, na virgindade ou no celibato, dom da graça divina que o Pai concede a alguns (cfr Mt 19, 11; 1 Cor 7, 7). Esta continência perfeita, abraçada pelo reino dos céus, foi sempre tida em grande estima pela Igreja, como sinal e incentivo do amor e ainda como fonte privilegiada de fecundidade espiritual no mundo” (Lumen gentium, n. 42; cfr Perfectae caritatis, n. 12). E em concreto, com relação ao celibato sacerdotal, cfr o Decr. Presbyterorum ordinis n. 16 e o Decr. Optatam totius, n. 10.

Mas tanto a virgindade como o matrimônio são necessários para o crescimento da Igreja, e ambos supõem uma vocação específica da parte do Senhor: “O celibato é exactamente ‘dom do Espírito’. Um dom semelhante, muito embora diverso, está contido na vocação para o verdadeiro e fiel amor conjugal, ordenado para a procriação segundo a carne no contexto tão sublime do sacramento do Matrimônio. É conhecido que este dom é algo fundamental para construir a grande comunidade da Igreja, Povo de Deus. Entretanto, se esta comunidade quiser corresponder plenamente à sua vocação em Jesus Cristo, é necessário que nela se realize, em proporção adequada, também aquele outro ‘dom’, o dom do celibato ‘por amor do reino dos Céus'” (Carta a todos os sacerdotes, n.° 8).

Dia 15 de agosto

Mt 19, 13-15

13Então apresentaram-Lhe umas criancinhas, para que impusesse as mãos sobre elas e orasse. Os discípulos ralhavam com elas. 14Jesus, porém, disse-lhes: Deixai as criancinhas e não as estorveis de virem a Mim, porque dos que são como elas é o Reino dos Céus. 15E impôs-lhes as mãos. Depois partiu dali.

Comentário

13-14. Uma vez mais (vid. Mt 18, 1-6) mostra Jesus a sua predilecção pelas crianças, acolhendo-as e abençoando-as. Também a Igreja deu às crianças um lugar importante urgindo a necessidade do Baptismo: “Todas as crianças devem ser baptizadas. O sentir comum e a autoridade dos Santos Padres, prova que esta lei deve entender-se não só dos que estão em idade adulta, mas também das crianças na infância, e que a Igreja recebeu esta lei por Tradição apostólica. Deve crer-se, além disso, que Cristo Nosso Senhor não quis que se negasse o Sacramento e a Graça do Baptismo às crianças, das quais dizia: ‘deixai as crianças e não as impeçais de vir a Mim, porque destas é o Reino dos Céus’: as quais estreitava entre os Seus braços, punha sobre elas as mãos e as abençoava” (Catecismo Romano, II, 2, 32).

Dia 16 de agosto

Lc 1, 39-56

39Por aqueles dias, pôs-se Maria a caminho e dirigiu-se à pressa para a serra, em direcção a uma cidade de Judá. 40Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41Apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, saltou-lhe o menino no seio; Isabel ficou cheia do Espírito Santo 42e, erguendo a voz, num grande brado, exclamou: Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre. 43E donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? 44Pois, logo que me chegou aos ouvidos o eco da tua saudação, saltou de alegria o menino no meu seio. 45Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor!

46Maria disse então:

“A minha alma enaltece ao Senhor,

47e o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador,

48porque olhou para a humilde condição da Sua serva.

De facto, desde agora, me hão-de chamar ditosa todas as gerações,

49porque me fez grandes coisas o Omnipotente.

É santo o Seu Nome,

50e a Sua misericórdia vai de geração em geração para aqueles que O temem.

51Exerceu a força com o Seu braço,

dispersou os que se elevavam no seu próprio conceito.

52Derrubou os poderosos de seus tronos,

e exaltou os humildes.

53Encheu de bens os famintos,

e aos ricos despediu-os sem nada.

54Tomou a Seu cuidado Israel, Seu servo,

recordando a Sua misericórdia

55– conforme tinha dito a nossos pais –

em favor de Abraão e sua descendência, para sempre”.

56Ficou Maria com Isabel uns três meses, voltando depois para sua casa.

Comentário

39-56. Contemplamos este episódio da visitação de Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel no segundo mistério gozoso do santo Rosário: “(…) Acompanha alegremente José e Santa Maria… e ficarás a par das tradições da Casa de David. (…) Caminhamos apressadamente em direcção às montanhas, até uma aldeia da tribo de Judá (Lc 1,39).

“Chegamos. – É a casa onde vai nascer João Baptista.

– Isabel aclama, agradecida, a Mãe do Redentor: Bendita és tu entre todas as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!

A que devo eu tamanho bem, que venha visitar-me a Mãe do meu Senhor? (Lc I, 42-43).

“O Baptista, ainda por nascer, estremece… (Lc I,41). A humildade de Maria derrama-se no Magnificat… – E tu e eu, que somos – que éramos – uns soberbos, prometemos ser humildes” (Santo Rosário, segundo mistério gozoso).

39. Nossa Senhora ao conhecer pela revelação do anjo a necessidade em que se achava a sua prima Santa Isabel, próxima já do parto, apressa-se a prestar-lhe ajuda, movida pela caridade. A Santíssima Virgem não repara em dificuldades. Embora não saibamos o lugar exacto onde se achava Isabel (hoje supõe-se que é Ayn Karim), em qualquer caso o trajeto desde Nazaré até à montanha da Judéia supunha na antiguidade uma viagem de quatro dias.

Este facto da vida da Santíssima Virgem tem um claro ensinamento para os cristãos: devemos aprender d’Ela a solicitude pelos outros. ” Não podemos conviver fílialmente com Maria e pensar apenas em nós mesmos, nos nossos problemas. Não se pode tratar com a Virgem e ter, egoisticamente, problemas pessoais” (Cristo que passa, n.° 145).

42. Comenta São Beda que Isabel bendiz Maria com as mesmas palavras usadas pelo Arcanjo “para que se veja que deve ser honrada pelos anjos e pelos homens e que com razão se deve antepor a todas as mulheres” (In Lucae Evangelium expositio, ad loc.).

Na recitação da Ave Maria repetimos estas saudações divinas com as quais nos alegramos com Maria Santíssima pela sua excelsa dignidade de Mãe de Deus e bendizemos o Senhor e agradecemos-Lhe ter-nos dado Jesus Cristo por meio de Maria” (Catecismo Maior, n.° 333).

43. Isabel, ao chamar a Maria “mãe do meu Senhor”, movida pelo Espírito Santo, manifesta que a Virgem Santíssima é Mãe de Deus.

44. São João Baptista, ainda que tenha sido concebido em pecado – o pecado original – como os outros homem, todavia, nasceu sem ele, porque foi santificado nas entranhas de sua mãe Santa Isabel pela presença de Jesus Cristo (então no seio de Maria) e da Santíssima Virgem. Ao receber este benefício divino São João manifesta a sua alegria saltando de gozo no seio materno. Estes factos foram o cumprimento da profecia do arcanjo São Gabriel (cfr. Lc 1,15).

São João Crisóstomo admirava-se na contemplação desta cena do Evangelho: “Vede que novo e admirável é este mistério. Ainda não saiu do seio e já fala mediante saltos, ainda não lhe é permitido clamar e já é escutado pelos factos (…); ainda não vê a luz e já indica qual é o Sol; ainda não nasceu e já se apressa a fazer de Precursor. Estando presente o Senhor não se pode conter nem suporta esperar os prazos da natureza, mas procura romper o cárcere do seio materno e busca dar testemunho de que o Salvador está prestes a chegar” (Sermo apud Metaphr, mense Julio).

45. Adiantando-se ao coro de todas as gerações vindouras, Isabel, movida pelo Espírito Santo, proclama bem-aventurada a Mãe do Senhor e louva a sua fé. Não houve fé como a de Maria; n’Ela temos o modelo mais acabado de quais devem ser as disposições da criatura diante do seu Criador: submissão completa, acatamento pleno. Com a sua fé, Maria é o instrumento escolhido pelo Senhor para levar a cabo a Redenção como Mediadora universal de todas as graças. Com efeito, a Santíssima Virgem está associada à obra redentora de seu Filho: ” Esta associação da mãe com o Filho na obra da Salvação, manifesta-se desde a conceição virginal de Cristo até à Sua morte. Primeiro, quando Maria, tendo partido solicitamente para visitar Isabel, foi por ela chamada bem-aventurada, por causa da Fé com que acreditara na salvação prometida, e o precursor exultou no seio de sua mãe (…). Assim avançou a Virgem pelo caminho da fé, mantendo fielmente a união com o seu Filho até à cruz. Junto desta esteve, não sem desígnio de Deus (cfr. Ioh 19,25), padecendo acerbamente com o seu Filho único, e associando-se com coração de mãe ao Seu sacrifício, consentindo com amor na imolação da vítima que d’Ela nascera “(Lumen gentium, nn. 57-58).

O novo texto latino recolhe de modo literal o original grego ao dizer “quae credidit”,em vez de “quae credidisti”, como fazia a Vulgata, que neste caso é mais fiel ao sentido que à letra. Assim traduzem a maioria dos autores e assim traduzimos nós: “Feliz daquela que acreditou”.

46-55. O cântico Magnificat que Nossa Senhora pronuncia em casa de Zacarias é de uma singular beleza . Evoca alguns passos do Antigo Testamento que a Virgem Santíssima tinha meditado (recorda especialmente l Sam 2,1-10).

Neste cântico podem distinguir-se três estrofes: na primeira (vv. 46-50) Maria glorifica a Deus por a ter feito Mãe do Salvador, faz ver o motivo pelo qual a chamarão bem-aventurada todas as gerações e mostra como no mistério da Encarnação se manifestam o poder, a santidade e a misericórdia de Deus. Na segunda (vv. 51-53) a Virgem Santíssima ensina-nos como em todo o tempo o Senhor teve predilecção pelos humildes, resistindo aos soberbos e arrogantes. Na terceira (vv. 54-55) proclama que Deus, segundo a Sua promessa, teve sempre especial cuidado do povo escolhido, ao qual vai dar o maior título de glória: a Encarnação de Jesus Cristo, judeu segundo a carne (cfr Rom l ,3).

“A nossa oração pode acompanhar e imitar essa oração de Maria. Tal como Ela, sentiremos o desejo de cantar, de proclamar as maravilhas de Deus, para que a Humanidade inteira e todos os seres participem da nossa felicidade”. (Cristo que passa, n.° 144).

46-47. “Os primeiros frutos do Espírito Santo são a paz e a alegria. E a Santíssima Virgem tinha reunido em si toda a graça do Espírito Santo…” (In Psalmos homiliae, in Ps 32). Os sentimentos da alma de Maria derramam-se no Magnificat. A alma humilde diante dos favores de Deus sente-se movida ao gozo e ao agradecimento. Na Santíssima Virgem o benefício divino ultrapassa toda a graça concedida a qualquer criatura. “Virgem Mãe de Deus, o que não cabe nos Céus, feito homem, encerrou-Se no teu seio” (Antífona da Missa do Comum das festas de Santa Maria). A Virgem humilde de Nazaré vai ser a Mãe de Deus; jamais a omnipotência do Criador se manifestou de um modo tão pleno. E o Coração de Nossa Senhora manifesta de modo desbordante a sua gratidão e a sua alegria.

48-49. Diante desta manifestação de humildade de Nossa Senhora, exclama São Beda: “Convinha, pois, que assim como tinha entrado a morte no mundo pela soberba dos nossos primeiros pais, se manifestasse a entrada da Vida pela humildade de Maria” (In Lucae Evangelium expositio, ad loc.).

” Que grande é o valor da humildade! – ‘Quia respexit humilitatem…’. Acima da fé, da caridade, da pureza imaculada, reza o hino jubiloso da nossa Mãe em casa de Zacarias:

‘Porque viu a minha humildade, eis que por isto me chamarão bem-aventurada todas as gerações'” (Caminho, nº 598).

Deus premia a humildade da Virgem Santíssima com o reconhecimento por parte de todos os homens da sua grandeza: “Me hão-de chamar ditosa todas as gerações”. Isto cumpre-se sempre que alguém pronuncia as palavras da Ave Maria. Este clamor de louvor à Nossa Mãe é ininterrupto em toda a terra. O Concílio Vaticano II recorda estas palavras da Virgem Santíssima ao falar-nos do culto a Nossa Senhora: “Desde os tempos mais antigos a Santíssima Virgem é honrada com o título de ‘Mãe de Deus’, e sob a sua proteção se acolhem os fiéis, em todos os perigos e necessidades. Foi sobretudo a partir do Concílio de Éfeso que o culto do Povo de Deus para com Maria cresceu admiravelmente, na veneração e no amor, na invocação e na imitação, segundo as suas proféticas palavras: ‘Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada, porque realizou em mim grandes coisas Aquele que é poderoso'” (Lumen gentium, n. 66).

50. “A sua misericórdia vai de geração em geração”. Estas palavras, “já desde o momento da Encarnação, abrem nova perspectiva da história da salvação. Após a ressurreição de Cristo, esta nova perspectiva passa para o plano histórico e, ao mesmo tempo, reveste-se de sentido escatológico novo. Desde então sucedem-se sempre novas gerações de homens na imensa família humana, em dimensões sempre crescentes; sucedem-se também novas gerações do Povo de Deus, assinaladas pelo sinal da Cruz e da Ressurreição e ‘seladas’ com o sinal do mistério pascal de Cristo, revelação absoluta daquela misericórdia que Maria proclamou à entrada da casa da sua parente: ‘A sua misericórdia estende-se de geração em geração’ (…).

“Maria, portanto, é aquela que conhece mais profundamente o mistério da misericórdia divina. Conhece o seu preço e sabe quanto é elevado. Neste sentido chamamos-lhe Mãe da misericórdia, Nossa Senhora da Misericórdia, ou Mãe da divina misericórdia. Em cada um destes títulos há um profundo significado teológico, porque exprimem a particuíar preparação da sua alma e de toda a sua pessoa, para torná-la capaz de descobrir, primeiro, através dos complexos acontecimentos de Israel e, depois, daqueles que dizem respeito a cada um dos homens e à humanidade inteira, a misericórdia da qual todos se tornam participantes, segundo o eterno desígnio da Santíssima Trindade, ‘de geração em geração'” (Dives in misericordia, n. 9).

51. “Os que se elevavam no seu próprio conceito”: São os que querem aparecer como superiores aos outros, a quem desprezam. E também alude à condição daqueles que na sua arrogância projectam planos de ordenação da sociedade do mundo de costas ou contra a Lei de Deus. Embora possa parecer que de momento têm êxito, no fim cumprem-se estas palavras do cântico da Virgem Santíssima, pois Deus dispersá-los-á como já fez com os que tentaram edificar a torre de Babel, que pretendiam chegasse até ao Céu (cfr Gen 11,4).

“Quando o orgulho se apodera da alma, não é estranho que atrás dele, como pela arreata, venham todos os vícios: a avareza, as intemperanças, a inveja, a injustiça. O soberbo procura inutilmente arrancar Deus – que é misericordioso com todas as criaturas – do Seu trono para se colocar lá ele, que actua com entranhas de crueldade.

“Temos de pedir ao Senhor que não nos deixe cair nesta tentação. A soberba é o pior dos pecados e o mais ridículo. (…) A soberba é desagradável, mesmo humanamente, porque o que se considera superior a todos e a tudo está continuamente a contemplar-se a si mesmo e a desprezar os outros, que lhe pagam na mesma moeda, rindo-se da sua fatuidade” (Amigos de Deus, n.° 100).

53. Esta Providência divina manifestou-se muitíssimas vezes ao longo da História. Assim, Deus alimentou com o maná o povo de Israel na sua peregrinação pelo deserto durante quarenta anos (Ex 16,4-35); igualmente Elias por meio de um anjo (l Reg 19, 5-8); Daniel no fosso dos leões (Dan 14,31-40); a viúva de Sarepta com o azeite que miraculosamente não se esgotava (l Reg 17,8 ss.). Assim também culminou as ânsias de santidade da Virgem Santíssima com a Encarnação do Verbo.

Deus tinha alimentado com a Sua Lei e a pregação dos Seus Profetas o povo eleito, mas o resto da humanidade sentia a necessidade da palavra de Deus. Agora, com a Encarnação do Verbo, Deus satisfaz a indigência da humanidade inteira. Serão os humildes que acolherão este oferecimento de Deus; os auto-suficientes, ao não desejarem os bens divinos, ficarão privados deles (cfr In Psalmos homiliae, in Ps 33).

54. Deus conduziu o povo israelita como uma criança, como Seu filho a quem amava ternamente: “Yahwéh, teu Deus, conduziu-te por todo o caminho que tendes percorrido, como um homem conduz o seu filho…” (Dt 1,31). Isto fê-lo Deus muitas vezes, valendo-se de Moisés, de Josué, de Samuel, de David, etc., e agora conduz o Seu povo de maneira definitiva enviando o Messias. A origem última deste proceder divino é a grande misericórdia de Deus que Se compadeceu da miséria de Israel e de todo o gênero humano.

55. A misericórdia de Deus foi prometida desde tempos antigos aos Patriarcas. Assim, a Adão (Gen 3,15), a Abraão (Gen 22,18), a David (2 Sam 7,12), etc. A Encarnação de Cristo tinha sido preparada e decretada por Deus desde a eternidade para a salvação da humanidade inteira. Tal é o amor que Deus tem aos homens; o próprio Filho de Deus Encarnado o declarará: “De facto. Deus amou de tal maneira o mundo que lhe deu o Seu Filho Unigênito, para que todo o que n’Ele acredita não pereça, mas tenha a vida eterna” (Ioh 3,16).

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