«Vós tendes de nascer de novo». 8O vento sopra onde quer, e tu ouves a sua voz, mas não sabes donde vem nem para onde vai. Assim é todo aquele que nasceu do Espírito. 9Nicodemos interveio, para Lhe dizer: Como pode ser isso? 10Respondeu-lhe Jesus, dizendo: Tu és mestre em Israel e não o sabes?! 11Em verdade, em verdade te digo: Nós falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas vós não recebeis o Nosso testemunho. 12Se vos disse coisas da Terra e as não acreditais, como haveis de acreditar, se vos disser coisas do Céu? 13Ninguém subiu ao Céu, a não ser Aquele que do Céu desceu, o Filho do homem. 14Do mesmo modo que Moisés elevou a serpente no deserto, assim tem de ser elevado o Filho do homem, 15para que todo aquele que acredita tenha, por Ele, a vida eterna.
Comentário
10-12. Ante a perplexidade de Nicodemos, Jesus ratifica o valor das Suas palavras, e explica-lhe que fala das coisas do Céu porque procede do Céu, e para Se fazer compreender usa comparações e imagens terrenas. Não obstante, esta linguagem não é suficiente para aqueles que adoptam uma posição de incredulidade.
Comenta o Crisóstomo: «Com razão Cristo não disse: não compreendeis, mas: não credes. Porque se alguém não quer admitir aquilo que se pode perceber com a mente, este seria acusado com razão de estupidez; contudo, se alguém não admite aquilo que não se percebe com a mente mas com a fé, este já não peca por estupidez, mas por incredulidade» (Hom. sobre S. João, 27,1).
- Afirmação solene da divindade de Jesus. Ninguém sobe ao Céu e, portanto, ninguém pode conhecer perfeitamente os segredos de Deus, senão o próprio Deus que encarnou e desceu do Céu: Jesus, segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Filho do Homem profetizado no Antigo Testamento (cfr Dn 7,13), ao qual foi concedido senhorio eterno sobre todos os povos, nações e línguas.
Ao encarnar o Verbo não deixa de ser Deus. E assim, ainda que esteja na terra enquanto homem, nem por isso deixa de estar no Céu enquanto Deus. Só depois da Ressurreição e da Ascensão, Jesus Cristo está no Céu também enquanto homem.
14-15. A serpente de bronze, alçada por Moisés num mastro, era o remédio indicado por Deus para curar aqueles que eram mordidos pelas serpentes venenosas do deserto (cfr Num 21,8-9). Jesus Cristo compara este facto com a Sua Crucifixão, para explicar assim o valor da Sua exaltação na Cruz, que é salvação para todos os que O fixem com fé. Neste sentido podemos dizer que no bom ladrão se cumpre já o poder salvífico de Cristo na Cruz: esse homem descobriu no Crucificado o Rei de Israel, o Messias, que imediatamente lhe promete o Paraíso para aquele mesmo dia (cfr Lc 23,39-43).
O Filho de Deus tomou a nossa natureza humana para dar a conhecer os mistérios ocultos da vida divina (cfr Mc 4,11; Ioh 1,18; 3,1-13; Eph 3,9) e para livrar do pecado e da morte aqueles que O fixem com fé e amor (cfr Ioh 19,37; Gal 3,1) e aceitem a cruz de cada dia.
A fé de que nos fala o Senhor não se reduz simplesmente à aceitação intelectual das verdades que Ele nos ensinou, mas inclui reconhecê-Lo como Filho de Deus (cfr 1 Ioh5,1), participar da Sua própria Vida (cfr Ioh 1,12), e entregarmo-nos por amor, tornando-nos assim semelhantes a Ele (cfr Ioh 10,27; 1Ioh 3,2). Mas esta fé constitui um dom de Deus (cfr Ioh 3,3.5-8), a quem devemos pedir que a fortaleça e acrescente, como fizeram os Apóstolos: Senhor, «aumenta-nos a fé» (Lc 17,5). Sendo a fé um dom divino, sobrenatural e gratuito, é, ao mesmo tempo, uma virtude, um hábito bom, susceptível de ser exercitado pessoalmente e, portanto, robustecido através desse exercício. Daí que o cristão, que já possui o dom divino da fé, ajudado pela graça deva fazer actos explícitos de fé para que esta virtude cresça nele.