em Evangelho do dia

20Não é só por eles que Eu rogo, é também por aqueles que vão acreditar em mim, por meio da sua palavra, 21para todos serem um só; como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti, que eles também estejam em Nós, a fim de que o mundo acredite que Tu Me enviaste. 22 E Eu dei-lhes a glória que Tu Me deste. para que sejam um só, como Nós somos um só: 23Eu neles e Tu em Mim, para chegarem à perfeita unidade, a fim de que o mundo reconheça que Tu Me enviaste e os amaste, como Me amaste a Mim. 24Pai, os que Me deste, quero que, onde Eu estiver, eles estejam também comigo, para contemplarem a glória que Me pertence e que Tu Me deste, por Me teres amado antes da constituição do mundo. 25Pai justo, se o mundo não Te conheceu, Eu conheci-Te, e estes reconheceram que Tu Me enviaste. 26Eu dei-lhes a conhecer o Teu nome e dar-lho-ei a conhecer, para que o amor com que Me amaste esteja neles e Eu esteja neles também.

Comentário

20-23. Por ser Cristo quem pede pela Igreja, a Sua oração é infalivelmente eficaz, de maneira que a verdadeira Igreja de Jesus Cristo sempre será una e única. A unidade é, portanto, uma propriedade essencial da Igreja. «Nós cremos que a Igreja, que Cristo fundou e pela qual rogou, é sem cessar una pela fé, pelo culto, e pelo vínculo da comunhão hierárquica» (Credo do Povo de Deus, n° 21). Além disso, o pedido de Jesus ensina quais são os fundamentos da unidade e os efeitos que se conseguirão com ela.

A fonte donde brota a unidade da Igreja é a união íntima das três Pessoas divinas, entre as quais há uma doação e amor mútuos. «Quando o Senhor Jesus pede ao Pai que todos sejam um (…) como Nós somos um, sugere — abrindo perspectivas inacessíveis à razão humana — que há uma certa analogia entre a união das Pessoas divinas entre Si e a união dos filhos de Deus na verdade e na caridade. Esta semelhança torna manifesto que o homem, única criatura sobre a terra a ser querida por Deus por si mesma, não se pode encontrar plenamente a não ser no sincero dom de si mesmo» (Gaudium et spes, n. 24). A unidade está também baseada na união dos fiéis com Jesus Cristo e por Ele com o Pai (v. 23). Com efeito, a plenitude da unidade — consummati in unum — consegue-se pela graça sobrenatural que nos vem de Cristo (cfr Ioh 15,5).

Os frutos da unidade da Igreja são, por um lado, que o mundo creia em Cristo e na Sua missão divina (vv 21-23); e, por outro, que os próprios cristãos e todos os homens reconheçam a especial predilecção de Deus, que ama os fiéis com um amor que é reflexo do que as Pessoas divinas têm entre Si. Deste modo, a oração de Jesus atinge toda a humanidade, já que todos os homens são convidados ao favor de Deus (cfr 1Tim 2,4). «Amaste-os como Me amaste a Mim»: esta frase, como explica São Tomás de Aquino, «não indica igualdade estrita no amor, mas o motivo e a semelhança. É como se dissesse: o amor pelo qual Me amaste a Mim é a razão e a causa pelas quais os amaste a eles, pois, precisamente porque Me amas a Mim amas aqueles que Me amam» (Comentário sobre S. João, ad loc.). Junto a esta explicação precisa da Teologia, há que ponderar a força expressiva das palavras de Cristo que supõem o amor ardente do Seu coração pelos homens. Em todo o discurso da Última Ceia não podemos senão vislumbrar de longe a profunda realidade dos sentimentos de Jesus Cristo, cuja grandeza de alma supera a medida limitada dos nossos corações humanos. Uma vez mais devemos render-nos diante do mistério de Deus feito homem.

  1. À Igreja, pela qual Cristo pede, pertencem todos aqueles que ao longo dos séculos hão-de crer n’Ele pela pregação dos Apóstolos. .«A missão divina confiada por Cristo aos Apóstolos durará até ao fim dos tempos (cfr Mt 28,20), uma vez que o Evangelho que eles devem anunciar é em todo o tempo o princípio de toda a vida na Igreja. Pelo que os Apóstolos trataram de estabelecer sucessores, nesta sociedade hierarquicamente constituída» (Lumen gentium, n. 20).

A origem e o fundamento apostólico da Igreja chama-se «Apostolicidade», propriedade essencial que confessamos no Credo. Consiste em que o Papa e os Bispos são sucessores de Pedro e dos Apóstolos, conservam a sua autoridade e proclamam a mesma doutrina. «Ensina, por isso, o sagrado Concilio que, por instituição divina, os Bispos sucedem aos Apóstolos, como pastores da Igreja; quem os ouve, ouve a Cristo; quem os despreza, despreza a Cristo e Aquele que enviou Cristo (cfr Lc 10,16)» (Lumen gentium, n. 20).

  1. A união dos cristãos com Cristo causa a unidade deles entre si. Esta unidade da Igreja beneficia, em última análise, toda a humanidade, pois sendo a Igreja una e única, aparece como sinal levantado diante das nações para convidar a crer em Jesus Cristo como enviado divino que vem salvar todos os homens. A Igreja continua no mundo essa missão salvadora pela sua união com Cristo. Por isso convoca todos a integrar-se na sua própria unidade e, mediante esta, a participar na união com Cristo e com o Pai.

O Concilio Vaticano II, falando dos fundamentos do ecumenismo, relaciona a unidade da Igreja com a sua universalidade: «Quase todos, se bem que de modo diverso, aspiram a uma Igreja de Deus una e visível, que seja verdadeiramente universal e enviada ao mundo inteiro, a fim de que o mundo se converta ao Evangelho e assim seja salvo, para glória de Deus» (Unitatis redintegratio, n. 1). Este caracter universal é outra nota da Igreja, denominada «Catolicidade». «Desde há séculos que a Igreja está estendida por todo o mundo, contando com pessoas de todas as raças e condições sociais. Mas a catolicidade da Igreja não depende dá extensão geográfica, mesmo que isto seja um sinal visível e um motivo de credibilidade. A Igreja era Católica já no Pentecostes; nasce Católica no Coração chagado de Jesus, como um fogo que o Espírito Santo inflama.

«No século II, os cristãos definiam como Católica a Igreja, para a distinguir das seitas que, utilizando o nome de Cristo, traíam nalgum ponto a Sua doutrina. Chamamos-lhe Católica, escreve São Cirilo, quer porque se encontra difundida por todo o orbe da Terra, dum confim ao outro, quer porque ensina de modo universal e sem defeito todos os dogmas que os homens devem conhecer, do visível e do invisível, do celestial e do terreno. Também porque submete ao recto culto todo o tipo de homens, governantes e cidadãos, doutos e ignorantes. (S. Cirilo, Catechesis, 18,23)» (Hom. Lealdade à Igreja).

Todo o cristão deve ter os mesmos sentimentos que Jesus Cristo, anelando pela unidade que Ele pede ao Pai. «Instrumento privilegiado para a participação na busca da unidade de todos os cristãos é a oração. O próprio Jesus Cristo deixou-nos o Seu último desejo de unidade por meio de uma oração ao Pai (…).

«Também o Concilio Vaticano II nos recomendou insistentemente a oração em favor da unidade, defendendo-a como ‘a alma de todo o movimento ecumênico’ (Unitatis redintegratio, n. 8). Como a alma ao corpo, assim a oração dá vida, coerência, espírito, finalidade ao movimento ecumênico.

«A oração põe-nos, antes de mais, diante do Senhor; purifica-nos nas intenções, nos sentimentos, no nosso coração, e produz a ‘conversão interior’, sem a qual não existe verdadeiro ecumenismo (cfr Unitatis redintegratio, n. 7).

«A oração, além disso, recorda-nos que a unidade, em última análise, é um dom de Deus; dom que devemos pedir e para que nos devemos preparar para que nos seja concedido» (Audiência geral, João Paulo II, 17-1-1979).

22-23. Jesus tem a glória, manifestação da divindade, porque é Deus, igual ao Pai (cfr a nota a Ioh 17,1-5). Cristo, ao dizer que comunica a Sua glória, está a indicar que por meio da graça nos torna participantes da natureza divina (2 Pet 1,4). A glória e a justificação pela graça aparecem na Sagrada Escritura estreitamente unidas: «Aqueles que Deus predestinou também os chamou. E aqueles que chamou também os justificou, e aqueles que justificou também os glorificou» (Rom 8,30). A transformação pela graça consiste em que os cristãos se tornam cada vez mais semelhantes a Cristo, que é a imagem do Pai (cfr 2 Cor 4,4; Heb 1,2-3). Deste modo, Cristo, ao comunicar a Sua glória, faz que os fiéis se unam com Deus pela participação na própria vida sobrenatural, que é a raiz da santidade dos cristãos e da Igreja: «Agora compreenderemos melhor como é que a unidade da Igreja leva à santidade, e como é que um dos aspectos capitais da sua santidade é essa unidade centrada no mistério do Deus uno e Trino: Há um só corpo e um só espírito, como também vós fostes chamados a uma só esperança pela vossa vocação. Há um só Senhor, uma só fé, um só baptismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, e governa todas as coisas e habita em todos nós (Eph 4,4-6)» (Hom. Lealdade à Igreja).

  1. Cristo termina esta oração pedindo a bem-aventurança para todos os cristãos. O termo que utiliza — «quero» em vez de «rogo» — exprime que está a pedir o mais importante, que coincide com a Vontade do Pai, que quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (cfr 1Tim 2,4); é, em última análise, a missão da Igreja: a salvação das almas.

Enquanto estamos na Terra participamos da vida de Deus pelo conhecimento (fé) e pelo amor (caridade); mas só no Céu conseguiremos a plenitude dessa vida sobrenatural, ao contemplar Deus tal qual é (cfr 1Ioh 3,2), face a face (cfr 1Cor 13,9-12). Por isso, a Igreja aponta para a eternidade, é escatológica; isto é, que tendo neste mundo todos os meios para ensinar a verdadeira doutrina, tributar a Deus o verdadeiro culto e comunicar a vida da graça, mantém viva a esperança na plenitude da vida eterna: «A Igreja, à qual todos somos chamados e na qual por graça de Deus alcançamos a santidade, só na glória celeste alcançará a sua realização plena, quando vier o tempo da restauração de todas as coisas (cfr Act 3,21) e, quando, juntamente com o gênero humano, também o universo inteiro, que ao homem está intimamente ligado, e por ele atinge o seu fim, for perfeitamente restaurado em Cristo (cfr Eph 1,10; Col 1 ,20; 2Pet 3,10-13)» (Lumen gentium, n. 48).

25-26. A revelação que Deus fez de Si mesmo por Jesus Cristo introduz-nos na participação da vida que culminará no Céu: « Só Deus pode outorgar-nos um conhecimento recto e pleno de Si mesmo, revelando-Se a Si mesmo como Pai, Filho e Espírito Santo, de cuja vida eterna somos chamados a participar pela graça aqui, na Terra, na obscuridade da fé, e, depois da morte, na luz sempiterna» (Credo do Povo de Deus, n° 9). 

Para participar do amor mútuo das Pessoas divinas Cristo revelou-nos tudo o que devemos conhecer: em primeiro lugar, o mistério do Seu ser e da Sua missão e, com isso, o próprio Deus — «dei-lhes a conhecer o Teu nome» —; assim se cumpre o que tinha anunciado: «Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho queira revelá-Lo» (Mt 11,27).

Cristo continua a dar a conhecer o amor do Pai por meio da Igreja em que Ele está sempre presente: «Sabei que Eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo» (Mt 28,20).

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