em Evangelho do dia

Naquela mesma hora, chegaram-se os discípulos a Jesus e disseram-Lhe: Quem é, pois, o maior no Reino dos Céus? 2Chamou Ele um menino, pô-lo no meio deles 3e disse: Em verdade vos digo que, se não voltardes a ser, como meninos, não entrareis no Reino dos Céus. 4Todo aquele, pois, que se fizer pequeno como este menino, esse é o maior no Reino dos Céus. 5E quem receber um menino como este em Meu nome, é a Mim que recebe.

10Vede lá não desprezeis um só destes : pequeninos, pois Eu vos digo que os seus Anjos, nos Céus, estão incessantemente a contemplar a face de Meu Pai que está nos Céus. 

12Que vos parece? Se alguém tiver cem ovelhas e alguma delas se desgarrar, não deixará, porventura, as noventa e nove pelos montes, para ir em busca da que se desgarrou? 13E se logra encontrá-la, em verdade vos digo que se alegra mais por via dela, do que pelas noventa e nove que se não desgarraram. 14Assim, a vontade de vosso Pai que está nos Céus é que se não perca nem um só destes pequeninos.

Comentário

1-35. O conjunto dos ensinamentos de Jesus Cristo que se conservam no cap. 18 de São Mateus, tem sido chamado com frequência Discurso eclesiástico, pois constitui uma espécie de corpo de ordenamentos e advertências que têm em vista o bom andamento da vida posterior da Igreja.

O primeiro passo (Mt 18, 1-5) vai dirigido aos reitores, isto é, à futura hierarquia da Igreja, com o fim de os instruir e prevenir contra as inclinações naturais do orgulho humano e da ambição pelos cargos de governo, pondo como base a humildade. Seguem-se uns versículos (6-10) em que Jesus encarece a solicitude paternal com que os pastores da Igreja devem cuidar dos pequenos. Este termo abarca todos aqueles que, por qualquer causa (novos na fé, pouco instruídos, pouca idade, etc.), necessitam de ser especialmente ajudados. O divino Mestre detém-se a prevenir contra os prejuízos do escândalo: a caridade fraterna dos cristãos, e de modo particular dos pastores, exige de todos, e especialmente destes últimos, evitar tudo aquilo — mesmo o que de si pudesse ser correcto — que possa constituir um perigo para a salvação espiritual dos mais débeis ou pequenos: Deus tem particular providência deles e castigará aqueles que lhes causem dano.

Não menor atenção presta o Senhor também àqueles que se achem em situação espiritual difícil. É preciso então irem busca da ovelha perdida, inclusive heroicamente (vv. 12-14). Se a Igreja em geral, e cada cristão em particular, deve ter ânsia de estender o Evangelho, com mais razão ainda deve esforçar-se para que todos aqueles homens que já abraçaram a fé não se separem dela.

Relevante importância doutrinai tem o passo seguinte (vv. 15-18) sobre a correcção fraterna: a propósito dela, Jesus Cristo emprega o termo igreja como um organismo social, uma comunidade concreta, visível e compacta, em estreita dependência d’Ele e dos Seus Doze Apóstolos, que possuirão, eles e os seus sucessores, o omnímodo «poder das chaves», poder espiritual que será apoiado pelo próprio Deus. Entre esses poderes está o de perdoar ou reter os pecados, o de receber ou excomungar da Igreja, etc. Admirável poder divino, dado por Jesus à hierarquia da Igreja, guardado pelo próprio Deus com uma providência singular, mediante a presença para sempre de Jesus na Sua Igreja e a assistência do Espírito Santo ao seu Magistério hierárquico.

Segue-se ainda um passo (vv. 19-20) em que Jesus promete a Sua presença quando vários fiéis se reúnam para orar. A isso une-se a doutrina da necessidade da oração (v. 20) e do perdão das ofensas entre «os irmãos» (vv. 21-22), perdão que não tem limites. Termina o capítulo com a parábola do devedor cruel (vv. 23-35), em que o Senhor exemplifica a doutrina sobre o perdão.

Todo este capítulo 18, o Discurso eclesiástico, contempla, pois, a vida futura da Igreja no seu estádio terrestre, e formula as regras práticas de comportamento dos cristãos, de certo modo, como um complemento da carta magna do novo Reino trazido por Cristo, contida no Sermão da Montanha (caps. 5-7).

1-6. É claro que os discípulos ainda abrigavam ambições terrenas ao pedir o primeiro lugar para quando Cristo instaure na terra o Seu Reino (cfr Act 1 ,6). Para corrigir o seu orgulho, o Senhor coloca diante deles um menino, exigindo-lhes que se querem entrar no Reino dos Céus, sejam por vontade o que as crianças são por idade. As crianças caracterizam-se pela sua incapacidade de ódio, e vê-se nelas uma total inocência no que diz respeito aos vícios, e principalmente ao orgulho, que é o maior de todos. São simples e abandonam-se confiadamente.

A humildade é um dos pilares mestres da vida cristã: «Se me perguntais — dizia Santo Agostinho — que é o mais essencial na religião e na disciplina de Jesus Cristo, responder-vos-ei: o primeiro a humildade, o segundo a humildade e o terceiro a humildade» (Epístola 118).

3-4. Aplicando estas palavras às virtudes de Nossa Senhora, Frei Luís de Granada sublinha que a humildade é mais excelente que a virgindade: «Se não podes imitar a virgindade da humilde, imita a humildade da virgem. Louvável é a virgindade, mas mais necessária é a humildade. Aquela nos aconselham, a esta nos obrigam; àquela nos convidam, a esta nos forçam (…). De maneira que aquela é galardoada como sacrifício voluntário, esta pedida como sacrifício obrigatório. Finalmente, podes salvar-te sem virgindade, mas não sem humildade» (Suma da vida cristã, livro 3, parte 2, cap. 10).

  1. Acolher um menino em nome de Jesus é acolher o próprio Jesus. Porque as crianças são reflexo da inocência, da simplicidade, da pureza, da ternura do Senhor; «para uma alma enamorada, as crianças e os doentes são Ele» (Caminho, n° 419).
  2. Dar escândalo aos pequenos é coisa grave: Jesus adverte-o com energia. Pois estes pequenos têm os seus anjos que os guardam e defendem, e que acusarão diante de Deus aqueles que os tenham induzido ao pecado.

No contexto fala-se dos anjos da guarda dos pequenos, visto que é a estes que se está a referir o passo. Mas todos os homens, grandes ou pequenos, têm o seu anjo da guarda. «A Providência de Deus deu aos anjos a missão de guardar a linhagem humana, e de socorrer cada homem (…). O Nosso Pai deu-nos, a cada um de nós, anjos para que sejamos fortalecidos com o seu poder e auxílio» (Catecismo Romano, IV, 9,4).

Esta doutrina deve levar-nos a uma intimidade confiante com o nosso anjo da guarda. «Tem confiança com o teu Anjo da Guarda. — Trata-o como amigo íntimo — é-o efectivamente — e ele saberá prestar-te mil e um serviços nos assuntos correntes de cada dia» (Caminho, n° 562).

11-14. A parábola põe em relevo a solicitude amorosa do Senhor pelos pecadores. E manifesta de modo humano a alegria de Deus ao recuperar um filho querido que se tinha extraviado.

Diante do panorama de tantas almas que vivem afastadas de Deus, o Santo Padre comenta: «Infelizmente assistimos com angústia à corrupção moral que devasta a humanidade, desprezando especialmente os pequenos, de quem fala Jesus. (Que devemos fazer? Imitar o Bom Pastor e afanar-nos sem trégua pela salvação das almas. Sem esquecer a caridade material e a justiça social, devemos estar convencidos dê que a caridade mais sublime é a espiritual, ou seja, o interesse pela salvação das almas. E as almas salvam-se com a oração e o sacrifício. Esta é a missão da Igreja!» (João Paulo II, Homília às Clarissas de Albano, 14-VIII-1979).

Muitos manuscritos acrescentam, tomando-o segundo parece de Lc 19, 10, o v. 11: «Pois o Filho do Homem veio para salvar o que estava perdido».

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