22Mas os Escribas, descidos de Jerusalém, diziam: Está possesso de Belzebu, e é em virtude do príncipe dos Demônios que os expulsa. 23Chamou-os Ele e disse-lhes, em parábolas: Como pode Satanás expulsar a Satanás? 24Se um reino se divide contra si mesmo, não pode um tal reino sustentar-se. 25E, se uma casa se divide contra si mesma, não poderá esta casa sustentar-se. 26Se, pois, Satanás se levantou contra si mesmo e se dividiu, não pode sustentar-se, mas está no fim. 27O facto é que ninguém pode entrar em casa dum valente e saquear-lhe as alfaias, sem primeiro o prender; só então lhe saqueará a casa.
28Em verdade vos digo que aos filhos dos homens serão perdoados todos os pecados e todas as blasfêmias que proferirem; 29mas quem blasfemar contra o Espírito Santo jamais alcançará perdão: será réu de delito eterno, 30porque diziam: — Está possesso de um espírito imundo.
Comentário
22-23. Até os milagres de Jesus foram mal entendidos por aqueles escribas que O acusam de ser instrumento do príncipe dos demônios: Beelzebu. Este nome pode relacionar-se com Beelzebub, assim o escrevem alguns códices, nome de um deus da cidade filisteia do Eqroii (Accaron), que significa «deus das moscas». Embora seja mais provável que o príncipe dos demônios se denomine Beelzebu, porque este termo significa «deus do estéreo», e estéreo chamavam os Judeus aos sacrifícios pagãos. Beelzebub ou Beelzebu, era aquele a quem se dirigiam, em última análise, esses sacrifícios: o demônio (l Cor 10, 20). É o mesmo personagem misterioso, mas real, que Jesus chama Satanás, que significa o adversário, e a que Cristo veio arrancar o domínio que tinha sobre o mundo (l Cor 15, 24-28; Col 1, 13 s.), numa luta incessante (Mt 4, 1-10; Ioh 16, 11). Estes nomes mostram a realidade do demônio, como um ser pessoal, que tem ao seu serviço outros muitos da sua natureza (Mc 5,9).
24-27. O Senhor convida agora os fariseus, obcecados e endurecidos, a fazer uma consideração simples: se alguém expulsa o demônio, isto quer dizer que é mais forte do que ele. É uma exortação mais a reconhecer em Jesus o Deus «forte», o Deus que com o Seu poder liberta o homem da escravidão do demônio. Terminou o domínio de Satanás: o príncipe deste mundo está a ponto de ser expulso. A vitória de Jesus sobre o poder das trevas, que culmina na Sua Morte e Ressurreição, demonstra que a luz está já no mundo. Disse-o o próprio Senhor: «Agora é o julgamento deste mundo. Agora é que o Príncipe deste mundo vai ser lançado fora» (Ioh 12,31-32).
28-30. Jesus acaba de realizar um milagre, mas os escribas não o reconhecem «porque eles diziam: Tem um espírito imundo» (v. 30). Não querem admitir que Deus é o autor do milagre. Nessa atitude consiste precisamente a gravidade especial da blasfêmia contra o Espírito Santo: atribuir ao príncipe do mal, a Satanás, as obras de bondade realizadas pelo próprio Deus. Quem actuasse assim viria a ser como um doente que, no cúmulo da sua desconfiança, repelisse o médico como um inimigo, e rejeitasse como um veneno o remédio que o poderia salvar. Por isso diz Nosso Senhor que o que blasfema contra o Espírito Santo não terá perdão: não porque Deus não possa perdoar todos os pecados, mas porque esse homem, na sua obcecação perante Deus, rejeita Jesus Cristo, a Sua doutrina e os Seus milagres, e despreza as graças do Espírito Santo como se fossem enganos para o perder (cfr Catecismo Romano, II, 5, 19; Suma Teológica, II-II q. 14, a. 3). Veja-se a nota a Mt 12, 31-32.