em Evangelho do dia

Jesus foi para o monte das Oliveiras. 2De madrugada, apareceu outra vez no Templo, e todo o povo ia ter com Ele; sentou-Se então e pôs-Se a instruí-los.

3Entretanto, os Escribas e os Fariseus trazem-Lhe uma mulher apanhada em adul­tério e, depois de a colocarem no meio, 4dizem-Lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante a cometer adultério. 5Ora Moisés, na Lei, mandou-nos apedrejar tais mulheres. E Tu que dizes? 6Isto diziam eles para Lhe armarem uma cilada, a fim de terem de que O acusar. Mas Jesus, inclinando-Se, pôs-Se a escrever no chão com o dedo.

7Como persistissem em interrogá-Lo, ergueu-Se e disse-lhes: Aquele de vós que estiver sem pecado seja o primeiro a lançar-lhe uma pedra! 8E, inclinando-Se novamente, recomeçou a escrever no chão. 9Eles, porém, ao ouvirem isto, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus com a mulher, que continuava ali no meio. 10Jesus ergueu-Se e disse-lhe: Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? 11Ela respondeu: Ninguém, Senhor. Nem Eu te condeno — volveu-lhe Jesus. — Vai e dora­vante não tornes a pecar.

Comentário

1-11. Este episódio falta em bastantes códices antigos, mas conservava-o a Vulgata quando o Magistério da Igreja definiu o Canon dos livros sagrados no Concilio de Trento. Portanto, a canonicidade e a inspiração deste texto estão fora de toda a dúvida. A Igreja utilizou-o e continua a utilizá-lo na liturgia. A recente edição da Neo-vulgata inclui-o neste mesmo lugar.

Santo Agostinho explicava já as dúvidas acerca deste passo dizendo que a grande misericórdia de Jesus manifes­tada com esta mulher parecia a alguns espíritos, exageradamente rigoristas, quê poderia dar azo a uma relaxação das exigências morais. Daqui que muitos copistas o suprimissem dos seus manuscritos (cfr De coniugiis adulterínis, 2,6).

Ao comentar o episódio da mulher adúltera, Frei Luís de Granada escreve, entre outras, esta consideração geral acerca da misericórdia de Jesus: «Tais, pois, convém que sejam, meu irmão, as tuas entranhas, tais as tuas obras e as tuas palavras, se queres ser uma formosíssima reprodução deste Senhor. E por isto não se contenta o Apóstolo com mandar-nos que sejamos misericordiosos, mas, diz, que nos vistamos, como filhos de Deus, de entranhas de misericórdia (cfr Col 3,12). Vê, pois, como estaria o mundo se todos os homens trouxessem este vestido.

«Tudo isto se disse para que, por estas obras tão assina­ladas, se conheça algo daquele grande abismo de bondade e de misericórdia do nosso Salvador, a qual nestas obras tão claramente resplandece, pois (…) não podemos nesta vida conhecer Deus por Si, mas pelas Suas obras (…). Mas aqui também convém avisar que nunca de tal maneira nos transportemos em contemplar a divina misericórdia, que não nos recordemos da justiça; nem de tal maneira contem­plemos a justiça, que não nos recordemos da misericórdia; para que nem a esperança careça de temor, nem o temor da esperança» (Vida de Jesus Cristo, 13, 4.°).

  1. Sabemos que Nosso Senhor Se retirou várias vezes durante a noite a orar no monte das Oliveiras (cfr Ioh 18,2; Lc 22,39), situado a Este de Jerusalém. O vale da torrente Cédron (Ioh 18,1) separa-o da colina onde estava edificado o Templo. Era desde tempos antigos lugar de oração: ali foi David adorar a Deus no duro transe da revolta de Absalão (2 Sam 15,32) e ali o profeta Ezequiel contemplou a glória de Yahwéh que entrava no novo Templo (Ez 43,1-4). Ao pé do monte encontrava-se um horto, cujo nome era Getsemani, ou «lugar de azeite», uma quinta fechada com plantação de oliveiras. A tradição cristã rodeou o lugar de respeito e conservou-o como sítio de oração. Em fins do século IV construiu-se uma igreja, sobre cujos restos se edificou a actual. Perduram ainda algumas poucas oliveiras milenárias que podem muito bem ser rebentos dos tempos do Senhor.
  2. A pergunta dos escribas e fariseus esconde uma insídia: como o Senhor Se tinha manifestado repetidas vezes compreensivo com os que eram considerados pecadores, recorrem agora a Ele com este caso para ver se também Se mostra indulgente, e assim poderem acusá-Lo de não respei­tar um dos preceitos terminantes da Lei (cfr Lev 20,10).
  3. A resposta de Jesus alude ao modo de praticar a lapidação entre os Judeus: as testemunhas do delito tinham que atirar as primeiras pedras, depois seguia-se a comuni­dade, como para apagar colectivamente o opróbrio que recaía sobre o povo (cfr Dt 17,7). A questão, que lhe propõem de um ponto de vista legal, Jesus eleva-a ao plano moral — que sustenta e justifica o legal — interpelando a cons­ciência de cada um. Não viola a Lei, diz Santo Agostinho, e ao mesmo tempo não quer que se perca o que Ele estava a buscar, porque tinha vindo para salvar o que estava perdido: «Vede que resposta tão cheia de justiça, de mansidão e de verdade. Oh verdadeira resposta da Sabedoria! Ouviste-o: Cumpra-se a Lei, que seja apedrejada a adúltera. Mas, como podem cumprir a Lei e castigar aquela mulher uns peca­dores? Veja-se cada um a si mesmo, entre no seu interior e ponha-se em presença do tribunal do seu coração e da sua consciência, e ver-se-á obrigado a confessar-se pecador. Sofra o castigo aquela pecadora, porém não por mão de pecadores; execute-se a Lei, mas não pelos seus transgres­sores» (In Ioann. Evang., 33,5).
  4. «Apenas dois ficam ali: a miserável e a Misericórdia. E o Senhor, depois de ter cravado o dardo da Sua justiça no coração dos judeus, nem Se digna olhar sequer como vão desaparecendo, mas afasta deles a Sua vista e volta outra vez a escrever com o dedo na terra. Quando se afastaram todos e ficou só a mulher, levantou os olhos e fixou-os nela. Já ouvimos a voz da justiça; ouçamos agora também a voz da mansidão. Que aterrada deve ter ficado aquela mulher quando ouviu dizer ao Senhor: ‘Aquele de vós que estiver sem pecado, que atire primeiro a pedra’, porque temia ser castigada por Aquele em que não podia achar-se pecado algum. Mas Aquele que tinha afastado de Si os Seus inimigos com as palavras da justiça, olhando-a com olhos de miseri­córdia, pergunta-lhe: Ninguém te condenou? Responde ela: Ninguém, Senhor. E Ele: Nem Eu te condeno; Eu próprio, de quem talvez tenhas temido ser castigada, porque em Mim não achaste pecado algum. ‘Também Eu não te condeno’. Senhor, que é isto? Favoreces Tu os pecadores? Claro que não. Vê o que se segue: Vai e desde agora não peques mais. Portanto, o Senhor deu sentença de condenação contra o pecado, mas não contra a mulher» (In Ioann. Evang., 33,5-6). Jesus, que é o Justo, não condena; ao contrário, aqueles, que são pecadores, ditam sentença de morte. A misericórdia infinita de Deus há-de mover-nos a ter sempre compaixão daqueles que cometem pecado, porque também nós somos pecadores e necessitamos do perdão de Deus.
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