em Evangelho do dia

27Deixo-vos a paz, dou-vos a Minha paz. Não é como o mundo a dá que Eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração, nem se torne pusilânime. 28Ouvistes que vos disse: «Eu vou, mas volto para junto de vós». Se Me amasseis, alegrar-vos-íeis por Eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que Eu. 29Pois bem, disse-vo-lo antes de acontecer, para que acrediteis quando isso acontecer. 30Já não falarei muito convosco, pois vai chegar o Príncipe do Mundo. Ele nada pode contra Mim, 31mas é para que o mundo saiba que amo o Pai, que faço como o Pai Me mandou.

Comentário

  1. Desejar a paz, era, e é também hoje, a forma usual de saudação dos Hebreus e dos Árabes. Essa mesma saudação que empregava Jesus, continuaram a usá-la os Apóstolos, segundo vemos pelas suas cartas (cfr 1Pet 1,3; 3 Ioh 15; Rom 1,7; etc.), e dela se continua a servir a Igreja na Liturgia; assim, por exemplo, antes da Comunhão o celebrante deseja aos presentes a paz, condição para participar dignamente no Santo Sacrifício (cfr Mt 5,23), e por sua vez, fruto do mesmo.

A saudação ordinária do povo hebreu recupera na boca do Senhor o seu sentido mais profundo; a paz é um dos dons messiânicos por excelência (cfr Is 9,7; 48,18; Mich 5,5; Mt 10,22; Lc 2,14; 19,38). A paz que nos dá Jesus transcende por completo a do mundo (veja-se a nota a Mt 10,34-37), que pode ser superficial e aparente, compatível com a injustiça. Pelo contrário, a paz de Cristo é sobretudo reconciliação com Deus e entre os homens, um dos frutos do Espírito Santo (cfr Gal 5,22-23), «é serenidade da mente, tranquilidade da alma, simplicidade do coração, vínculo de amor, união de caridade: não pode adquirir a herança de Deus quem não cumpra o Seu testamento de paz, nem pode viver unido a Cristo quem está separado do cristianismo» (De verb. Dom. serm., 58).

«Cristo é ‘a nossa paz’ (Eph 2,14). Hoje e sempre, Ele repete-nos: ‘A paz vos deixo, a Minha paz vos dou’. Nunca na história da humanidade se falou tanto da paz e se tem desejado tanto como nos nossos dias (…). E, não obstante, constata-se mais e mais como a paz é ameaçada e destruída (…). A paz é um resultado de muitas atitudes e realidades convergentes; é o resultado de preocupações morais, de princípios éticos, baseados na mensagem do Evangelho e corroborados por ele.

«Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1971, o meu venerado predecessor, Paulo VI, o peregrino da paz, dizia: ‘A verdadeira paz deve fundar-se na justiça, no sentido da dignidade inviolável do homem, no reconhecimento de uma igualdade indelével e desejável entre os homens, no princípio básico da fraternidade humana, isto é, no respeito e amor devido a cada homem, porque é homem’. Esta mesma mensagem repeti eu no México e na Polônia. Repito-a aqui na Irlanda. Todo o ser humano tem direitos inaliená­veis que devem ser respeitados. Toda a comunidade humana — étnica, histórica, cultural ou religiosa — tem direitos que devem ser respeitados. A paz está ameaçada sempre que um destes direitos é violado. A lei moral, guardiã dos direitos do homem, protectora da dignidade da pessoa humana, não pode ser deixada de lado por nenhuma pessoa, nenhum grupo, nem pelo próprio Estado, por nenhum motivo, nem sequer pela segurança ou no interesse da lei ou da ordem pública. A lei de Deus está muito acima de todas as razões de Estado. Enquanto existirem: injustiças em qualquer campo que diga respeito à dignidade da pessoa humana, quer seja no campo político, social ou econômico, quer seja na esfera cultural ou na religiosa, não haverá verdadeira paz (…). A paz não pode ser estabelecida pela violência, a paz não pode florescer nunca num clima de terror, de intimi­dação ou de morte. O próprio Jesus disse: ‘Todos os que empregam a espada perecerão à espada’ (Mt 25,52). Esta é a palavra de Deus, a que ordena aos homens desta geração violenta que desistam do ódio e da violência e se arrepen­dam» (Homília Drogheda).

O gozo e a paz que. nos traz Cristo hão-de caracterizar o estado de ânimo de um crente: «Repele esses escrúpulos que te tiram a paz. — Não é de Deus o que rouba a paz da alma

«Quando Deus te visitar, hás-de sentir a verdade daquelas saudações: dou-vos a paz…, deixo-vos a paz…, a paz seja convosco… E isto, no meio da tribulação» (Caminho, n° 258).

  1. Jesus Cristo, enquanto Filho Unigênito de Deus, possui a glória divina desde a eternidade, mas durante o tempo da Sua vida na terra essa glória está velada e oculta por detrás da Sua Santíssima Humanidade (cfr 17,5; Phil 2,7). Só se manifesta em algumas ocasiões, como nos milagres (cfr 2,11), ou na Transfiguração (cfr Mt 17,1-8 e par.). Vai ser agora, mediante a Morte, Ressurreição e Ascensão aos céus, que Jesus vai ser glorificado, também no Seu Corpo, voltando ao Pai e entrando na Sua glória. Por isso, a Sua saída deste mundo devia ser causa de alegria para os discípulos; mas estes não entendem bem as palavras do Senhor, e entristecem-se porque os afecta mais a pena da separação física do Mestre que o pensamento da glória que O espera.

Quando Jesus diz que o Pai é maior que Ele, está a considerar a Sua natureza humana; assim, enquanto homem, Jesus vai ser glorificado ascendendo à direita do Pai. Jesus Cristo «é igual ao Pai segundo a divindade, menor que o Pai segundo a humanidade» (Símbolo Atanasiano). Santo Agos­tinho exorta: «Reconheçamos, pois, a dupla natureza de Cristo: uma, pela qual é igual ao Pai, que é a divina; e a humana, que o torna inferior ao Pai. Uma e outra natureza não constituem dois mas um só Cristo…» (In Ioann. Evang., 78,3). Não obstante, embora o Pai e o Filho sejam iguais em natureza, eternidade e dignidade, também podem enten­der-se as palavras do Senhor considerando que «maior» se refere à origem: só o Pai é «princípio sem princípio», enquanto o Filho procede eternamente do Pai por geração também eterna. Jesus Cristo é Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro (cfr Símbolo Niceno-Constantinopolitano).

30. É certo que o mundo é bom porque saiu das mãos do Criador, e que Deus de tal maneira o amou que lhe entregou o Seu Filho Unigénito (cfr Ioh 3,16). Não obstante, por mundo entende-se neste passo o conjunto dos homens que rejeitam Cristo; por isso, príncipe desse mundo é o demônio (cfr Ioh 1,10; 7,7; 15,18-19). Este opõe-se à obra de Jesus já desde o começo da Sua vida pública nas tentações do deserto (cfr Mt 4,1-11 e par.). Agora, na Paixão, volta a aparecer para obter a vitória sobre Cristo, ainda que seja momentânea e aparente. Esta é a hora do poder das trevas, em que, servin­do-se do traidor (cfr Lc 22,53; Ioh 13,27), o demônio consegue que prendam o Senhor e O crucifiquem.

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