em Evangelho do dia

Dia 17 de maio

Jo 16, 29-33

29Dizem os discípulos: Agora é que estás a falar abertamente e não dizes parábola nenhuma. 30Agora sabemos que tudo conheces e não precisas que ninguém Te interrogue. Por isso acreditamos que saíste de Deus. 31Respondeu-lhes Jesus: Acreditais agora? 32Olhai que vai chegar a hora, e já chegou, em que vos dispersareis, cada qual para seu lado, e Me deixareis só; se bem que não estou só, porque o Pai está comigo. 33Eu disse-vos isto, para terdes paz em Mim. No mundo tereis tribulações. Mas coragem! Eu venci o mundo!

Comentário

25-30. Como se vê também noutros passos dos Evangelhos, Jesus explicava a Sua doutrina aos Apóstolos detidamente e com mais clareza que às multidões (cfr Mc 4, 10-12 e par.). Desta forma ia-os preparando para os enviar a pregar o Evangelho por todo o mundo (cfr Mt 28,18-20). Não obstante, o Senhor também realiza essa instrução dos Apóstolos por meio de figuras ou parábolas, inclusivamente na intimidade do discurso da Ceia: a videira, a mulher que dá à luz, etc. Esta forma de ensinar desperta a curiosidade dos Apóstolos, que, como não acabam de entender, querem perguntar mais (cfr vv. 17-18). Jesus anuncia-lhes que vai chegar o momento em que lhes falará com toda a clareza, e assim possam compreendê-Lo de todo. Isto acontecerá depois da Ressurreição (cfr Act 1,3). Mas já agora, pelo facto de conhecer os seus pensamentos, lhes está a manifestar uma vez mais que é Deus, pois só Deus pode conhecer o que há no mundo interior do homem (cfr 2,25). Por outro lado, a frase do v. 28 “saí do Pai e vim ao mundo; de novo deixo o mundo e vou para o Pai” resume o mistério da Sua Pessoa (cfr Ioh 1,14; 20,31).

31-32. Jesus modera o entusiasmo dos Apóstolos, que se manifesta numa espontânea profissão de fé, com uma pergunta que tem um duplo aspecto. Por um lado, é como uma repreensão por terem tardado tanto em crer n’Ele: é certo que em ocasiões anteriores manifestaram a sua fé no Mestre (cfr Ioh 6,68-69; etc.), mas até agora não reconhecem claramente que Ele é o enviado do Pai. Por outro lado, refere-Se à falta de estabilidade daquela fé: crêem e, não obstante, pouco depois abandoná-Lo-ão nas mãos dos Seus inimigos. Jesus exige uma fé firme: não basta que se manifeste em momentos de entusiasmo, mas é necessário que se prove diante das dificuldades.

33. O Concilio Vaticano II ensina a propósito deste passo: “O Senhor Jesus, que disse: Confiai, Eu venci o mundo, não prometeu à Sua Igreja, com estas palavras, a vitória perfeita, já na terra. Todavia, o sagrado Concílio alegra-se porque a terra semeada pelo Evangelho frutifica em muitas partes pela acção do Espírito do Senhor, que enche todo o mundo” (Presbyterorum ordinis, n. 22).

Dia 18 de maio

Jo 17, 1-11a

1Assim falou Jesus. Depois, erguendo os olhos ao Céu, disse: Pai, chegou a hora: glorifica o Teu Filho, para o Teu Filho Te glorificar, 2de acordo com o poder que Lhe outorgaste sobre toda a criatura, com o qual Ele dará a vida eterna a todos os que Lhe deste. 3É esta a vida eterna: que Te conheçam a Ti, único Deus verdadeiro, e Aquele que enviaste, Jesus Cristo. 4Eu glorifiquei-Te na Terra, consumando a obra que Me deste a fazer. 5E agora glorifica-Me Tu, ó Pai, junto de Ti mesmo, com a glória que Eu tinha junto de Ti, antes de o mundo existir. 6Manifestei o Teu nome aos homens que, do mundo, Me deste. Eram Teus e deste-Mos a Mim; eles guardaram a Tua palavra. 7Agora sabem que tudo quanto Me deste vem de ti, 8porque Eu dei-lhes as palavras que Tu Me deste, e eles receberam-nas; reconheceram verdadeiramente que Eu saí de Ti e acreditaram que Tu Me enviaste. 9Por eles é que Eu peço; não é pelo mundo que peço, é por aqueles que Me deste, porque são Teus. 10Mas tudo o que é Meu é Teu e o que é Teu é Meu; e neles Eu estou glorificado. 11aJá não estou no mundo, mas eles estão no mundo, enquanto Eu vou para Ti.

Comentário

1-26. Depois do discurso da Ceia (caps. 13-16) começa a chamada Oração sacerdotal de Cristo, que ocupa todo o cap. 17. Denomina-se oração sacerdotal porque Jesus Se dirige a Seu Pai num diálogo emocionado, em que, como Sacerdote, Lhe oferece o sacrifício iminente da Sua Paixão e Morte. Desta forma revela-nos elementos essenciais da Sua missão redentora e serve-nos de modelo e de ensinamento: “O Senhor, Unigénito e coeterno do Pai, teria podido orar em silêncio se era necessário, mas quis manifestar-Se ao Pai como suplicante porque é o nosso Mestre (…). Daí que esta oração pelos discípulos não tenha sido útil só para aqueles que a ouviram, mas para todos os que havíamos de lê-la” (In Ioann. Evang., 104,2).

A Oração sacerdotal consta de três partes: na primeira (vv. 1-5), Jesus pede a glorificação da Sua Santíssima Humanidade e a aceitação por parte do Pai do Seu sacrifício na Cruz. Na segunda (vv. 6-19), roga pelos Seus discípulos, que vai enviar ao mundo para proclamarem a obra redentora que Ele está prestes a consumar. Por último (vv. 20-26), roga pela unidade entre todos os que hão-de crer n’Ele ao longo dos séculos, até conseguir a plena união com Ele próprio na glória.

1-5. A palavra “glória” designa aqui o esplendor, o poder e a honra próprios de Deus. O Filho é Deus igual ao Pai, e desde a Sua Encarnação e nascimento, principalmente na Sua Morte e Ressurreição, manifestou a Sua divindade: “Vimos a Sua glória, glória como de Unigénito do Pai” (Ioh 1,14). A glorificação de Jesus Cristo abrange um tríplice aspecto: primeiro, serve para glória do Pai, porque Cristo, obedecendo ao decreto redentor de Deus (cfr Phil 2,6 ss.), dá a conhecer o Pai e leva ao fim deste modo a obra salvífica divina (v. 4). Segundo, Cristo é glorificado porque a Sua Divindade, que esteve velada voluntariamente, por fim vai manifestar-se através da Sua Humanidade que, depois da Ressurreição, se mostrará revestida do mesmo poder divino sobre toda a criatura (vv. 2-5). Terceiro, Cristo, com a Sua glorificação, oferece ao homem a possibilidade de alcançar a vida eterna, conhecer Deus Pai e Jesus Cristo, Seu Filho Unigênito; o que redunda em glorificação do Pai e de Jesus Cristo, ao mesmo tempo que implica a participação do homem na glória divina (v. 3).

“O Filho glorifica-Te fazendo que Te conheçam todos aqueles que Lhe confiaste. É verdade que se a vida eterna é o conhecimento de Deus, tanto mais tendemos a viver quanto mais progredimos neste conhecimento (…). O louvor de Deus não terá fim onde o conhecimento do mesmo Deus será pleno; e porque no Céu este conhecimento será completo, também será completa a glorificação de Deus” (In Ioann Evang., 105,3).

6-8. Nosso Senhor rogou ao Pai por Si mesmo; agora roga pelos Seus Apóstolos, que serão os continuadores da Sua obra redentora no mundo. Ao orar por eles, Jesus descreve algumas prerrogativas dos que vão formar o Colégio Apostólico.

Em primeiro lugar, a escolha: “Eram Teus…”. Deus Pai tinha-os escolhido desde toda a eternidade (cfr Eph 1,3-4) e, no momento próprio, Jesus comunicou-lhes esta escolha: “O Senhor Jesus, depois de ter feito oração ao Pai, chamando a Si os que Ele quis, constituiu Doze para que vivessem com Ele e para os enviar a pregar o Reino de Deus (cfr Mc 3,13-19; Mt 10,1-42); a estes Apóstolos (cfr Lc 6,13) instituiu-os a modo de Colégio, isto é, de grupo estável, à frente do qual colocou Pedro, escolhido dentre eles mesmos (cfr Ioh 21,15-17)” (Lumen gentium, n. 19). Por outro lado, os Apóstolos gozaram do privilégio de escutar directamente de Jesus Cristo a doutrina revelada. Mediante essa doutrina recebida com docilidade, chegaram a conhecer que Jesus tinha saído do Pai e que, portanto, é o enviado de Deus (v. 8); isto é, conseguiram o conhecimento das relações entre o Pai e o Filho.

O cristão, também discípulo, vai adquirindo pela vida de fé, com a intimidade com Jesus Cristo, o conhecimento de Deus e das coisas divinas.

“Ao recordarmos esta delicadeza humana de Cristo, que gasta a Sua vida em serviço dos outros, fazemos muito mais do que descrever um modo possível de nos comportarmos: estamos a descobrir Deus. Toda a actuação de Cristo tem um valor transcendente; dá-nos a conhecer o modo de ser de Deus; convida-nos a crer no amor de Deus, que nos criou e que quer levar-nos até à Sua intimidade” (Cristo que passa, n. 109).

Dia 19 de maio

Jo 17, 11b-19

11bPai Santo, guarda-os no Teu nome, o nome que Me deste, para serem um só, como Nós. 12Quando Eu estava com eles, guardava-os no Teu nome, o nome que Me deste, e preservei-os, não se tendo perdido nenhum deles, a não ser o filho da perdição, para se cumprir a Escritura. 13Mas agora vou para Ti e, ainda no mundo, digo isto, para eles terem em si a plenitude da Minha alegria. 14Eu dei-lhes a Tua palavra, e o mundo odiou-os, por não serem do mundo, como Eu não sou do mundo. 15Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno. 16Eles não são do mundo, como Eu não sou do mundo. 17Consagra-os na verdade. A Tua palavra é a verdade. 18Assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo. 19Eu consagro-Me por eles, para eles serem também consagrados na verdade.

Comentário

11-19. Jesus agora pede ao Pai para os Seus quatro coisas: a unidade, a perseverança, o gozo e a santidade. Ao pedir que os guarde em Seu nome (v. 11) está a rogar que perseverem na doutrina recebida (cfr v. 6) e em comunhão íntima com Ele. Conseqüência imediata desta comunhão é a unidade: “Para serem um só, como Nós”; a unidade que pede para os discípulos é reflexo da que existe entre as três Pessoas divinas.

Roga, além disso, que nenhum deles se perca, que o Pai os guarde e proteja, tal como Ele os protegeu enquanto esteve com eles. Em terceiro lugar, da união com Deus e da perseverança no Seu amor surge a participação no gozo completo de Cristo (v. 13). Nesta vida, quanto melhor conhecermos Deus e mais intimamente estivermos unidos a Ele, maior dita teremos. Na vida eterna, a nossa alegria será completa, porque o conhecimento e amor a Deus terão chegado à sua plenitude.

Por último, o Senhor roga pelos que, vivendo no meio do mundo, não são do mundo, para que sejam santos de verdade (v. 17) e levem a cabo a missão que Ele lhes confia, como Ele realizou a que recebeu do Pai (v. 18).

12. “Para se cumprir a Escritura”: É uma alusão ao que, pouco antes (Ioh 13,18), tinha dito aos Apóstolos citando explicitamente o texto sagrado: “Aquele que come o pão comigo levantará contra Mim o seu calcanhar” (Ps 41,10). A finalidade desta e de outras alusões de Cristo à traição de Judas é consolidar a fé dos Apóstolos, manifestando que conhecia tudo de antemão e que as Escrituras já o tinham anunciado.

De qualquer modo, Judas perdeu-se por sua culpa e não porque Deus o determinasse a isso; assim, a sua traição deve ter-se ido preparando pouco a pouco, mediante pequenas infidelidades, apesar de que Nosso Senhor em muitas ocasiões o ajudou para que pudesse arrepender-se e voltar ao bom caminho (cfr a nota a Ioh 13,21-32); não obstante, Judas não correspondeu a essas graças e perdeu-se por sua própria vontade. Deus, que vê o futuro, predisse a traição de Judas na Escritura; Cristo, como verdadeiro Deus, conhecia essa perdição.e anuncia-a agora aos Seus discípulos com imensa dor.

14-16. “Mundo” na Sagrada Escritura tem várias acepções. A primeira designa o conjunto da criação (Gen 1,1 ss.), e dentro dela a humanidade, os homens, que Deus ama enternecidamente (Prv 8,31). Neste contexto entende-se o pedido do Senhor: “Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno” (v. 15). “Constantemente o tenho ensinado com palavras da Santa Escritura: o mundo não é mau, porque saiu das mãos de Deus, porque Yahwéh olhou para ele e viu que era bom (cfr Gen 1,7 e ss.). Nós, os homens, é que o tornamos mau e feio com os nossos pecados e as nossas infidelidades. Não duvideis, meus filhos: qualquer forma de evasão das honestas realidades diárias é, para vós, homens e mulheres do mundo, coisa oposta à vontade de Deus” (Temas Actuais do Cristianismo, n° 114).

Em segundo lugar, “mundo” indica os bens da terra, de si caducos e que podem apresentar oposição aos bens do espírito (cfr Mt 16,26).

Finalmente, porque os homens maus foram escravizados pelo pecado e pelo demônio, “príncipe deste mundo” (Ioh 12,31; 16,11), o “mundo” é considerado por vezes como inimigo de Deus e contrário a Cristo e aos Seus seguidores (Ioh 1,10). Neste sentido, o mundo é mau, e por isso Jesus não é do mundo, nem o são os Seus discípulos (v. 16). Também a essa acepção pejorativa se refere a doutrina tradicional que considera o mundo, junto com o demônio e a carne, como inimigos da alma diante dos quais se deve estar em constante vigilância. “O mundo, o demônio e a carne são uns aventureiros que, aproveitando-se da fraqueza do selvagem que trazes dentro de ti, querem que, em troca do fictício brilho dum prazer – que nada vale – lhes entregues o ouro fino e as pérolas e os brilhantes e os rubis embebidos no Sangue vivo e redentor do teu Deus, que são o preço e o tesouro da tua eternidade” (Caminho, n° 708).

17-19. Jesus pede a santidade para os Seus discípulos. O único Santo é Deus, de cuja santidade participam as pessoas e as coisas. “Santificar” consiste em consagrar e dedicar algo a Deus, excluindo-o dos usos profanos; neste sentido Deus diz a Jeremias: “Antes de teres saído do seio materno Eu te santifiquei, te constituí profeta para as nações” (Ier 1,5). A consagração a Deus exige a perfeição ou santidade do dom consagrado. Daí que uma pessoa consagrada deva ter a santidade moral, exercitar-se nas virtudes morais. Ambas as coisas – consagração e perfeição – pede aqui o Senhor para os Seus discípulos, porque delas necessitam para cumprir a sua missão sobrenatural no mundo.

“Eu consagro-Me por eles…”: Estas palavras querem dizer que Jesus Cristo, que carregou com os pecados dos homens, Se consagra ao Pai por meio do Seu sacrifício na Cruz. Por este todos os cristãos ficam santificados: “Por isso também Jesus, para santificar o povo com o Seu sangue, padeceu fora da cidade” (Heb 13,12). Na verdade, depois da morte de Cristo, os homens mediante o Baptismo tornam-se filhos de Deus, participantes da natureza divina e capazes de alcançar a santidade a que foram chamados (cfr Lumen gentium, n. 40).

Dia 20 de maio

Jo 17, 20-26

20Não é só por eles que Eu rogo, é também por aqueles que vão acreditar em mim, por meio da sua palavra, 21para todos serem um só; como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti, que eles também estejam em Nós, a fim de que o mundo acredite que Tu Me enviaste. 22E Eu dei-lhes a glória que Tu Me deste, para que sejam um só, como Nós somos um só: 23Eu neles e Tu em Mim, para chegarem à perfeita unidade, a fim de que o mundo reconheça que Tu Me enviaste e os amaste, como Me amaste a Mim. 24Pai, os que Me deste, quero que, onde Eu estiver, eles estejam também comigo, para contemplarem a glória que Me pertence e que Tu Me deste, por Me teres amado antes da constituição do mundo. 25Pai justo, se o mundo não Te conheceu, Eu conheci-Te, e estes reconheceram que Tu Me enviaste. 26Eu dei-lhes a conhecer o Teu nome e dar-lho-ei a conhecer, para que o amor com que Me amaste esteja neles e Eu esteja neles também.

Comentário

20-23. Por ser Cristo quem pede pela Igreja, a Sua oração é infalivelmente eficaz, de maneira que a verdadeira Igreja de Jesus Cristo sempre será una e única. A unidade é, portanto, uma propriedade essencial da Igreja. “Nós cremos que a Igreja, que Cristo fundou e pela qual rogou, é sem cessar una pela fé, pelo culto, e pelo vínculo da comunhão hierárquica” (Credo do Povo de Deus, n° 21). Além disso, o pedido de Jesus ensina quais são os fundamentos da unidade e os efeitos que se conseguirão com ela.

A fonte donde brota a unidade da Igreja é a união íntima das três Pessoas divinas, entre as quais há uma doação e amor mútuos. “Quando o Senhor Jesus pede ao Pai que todos sejam um (…) como Nós somos um, sugere – abrindo perspectivas inacessíveis à razão humana – que há uma certa analogia entre a união das Pessoas divinas entre Si e a união dos filhos de Deus na verdade e na caridade. Esta semelhança torna manifesto que o homem, única criatura sobre a terra a ser querida por Deus por si mesma, não se pode encontrar plenamente a não ser no sincero dom de si mesmo” (Gaudium et spes, n. 24). A unidade está também baseada na união dos fiéis com Jesus Cristo e por Ele com o Pai (v. 23). Com efeito, a plenitude da unidade – consummati in unum – consegue-se pela graça sobrenatural que nos vem de Cristo (cfr Ioh 15,5).

Os frutos da unidade da Igreja são, por um lado, que o mundo creia em Cristo e na Sua missão divina (vv. 21-23); e, por outro, que os próprios cristãos e todos os homens reconheçam a especial predilecção de Deus, que ama os fiéis com um amor que é reflexo do que as Pessoas divinas têm entre Si. Deste modo, a oração de Jesus atinge toda a humanidade, já que todos os homens são convidados ao favor de Deus (cfr 1 Tim 2,4). “Amaste-os como Me amaste a Mim”: esta frase, como explica São Tomás de Aquino, “não indica igualdade estrita no amor, mas o motivo e a semelhança. É como se dissesse: o amor pelo qual Me amaste a Mim é a razão e a causa pelas quais os amaste a eles, pois, precisamente porque Me amas a Mim amas aqueles que Me amam” (Comentário sobre S. João, ad loc.). Junto a esta explicação precisa da Teologia, há que ponderar a força expressiva das palavras de Cristo que supõem o amor ardente do Seu coração pelos homens. Em todo o discurso da Última Ceia não podemos senão vislumbrar de longe a profunda realidade dos sentimentos de Jesus Cristo, cuja grandeza de alma supera a medida limitada dos nossos corações humanos. Uma vez mais devemos render-nos diante do mistério de Deus feito homem.

20. À Igreja, pela qual Cristo pede, pertencem todos aqueles que ao longo dos séculos hão-de crer n’Ele pela pregação dos Apóstolos. “A missão divina confiada por Cristo aos Apóstolos durará até ao fim dos tempos (cfr Mt 28,20), uma vez que o Evangelho que eles devem anunciar é em todo o tempo o princípio de toda a vida na Igreja. Pelo que os Apóstolos trataram de estabelecer sucessores, nesta sociedade hierarquicamente constituída” (Lumen gentium, n. 20).

A origem e o fundamento apostólico da Igreja chama-se “Apostolicidade”, propriedade essencial que confessamos no Credo. Consiste em que o Papa e os Bispos são sucessores de Pedro e dos Apóstolos, conservam a sua autoridade e proclamam a mesma doutrina. “Ensina, por isso, o sagrado Concílio que, por instituição divina, os Bispos sucedem aos Apóstolos, como pastores da Igreja; quem os ouve, ouve a Cristo; quem os despreza, despreza a Cristo e Aquele que enviou Cristo (cfr Lc 10,16)” (Lumen gentium, n. 20).

21. A união dos cristãos com Cristo causa a unidade deles entre si. Esta unidade da Igreja beneficia, em última análise, toda a humanidade, pois sendo a Igreja una e única, aparece como sinal levantado diante das nações para convidar a crer em Jesus Cristo como enviado divino que vem salvar todos os homens. A Igreja continua no mundo essa missão salvadora pela sua união com Cristo. Por isso convoca todos a integrar-se na sua própria unidade e, mediante esta, a participar na união com Cristo e com o Pai.

O Concilio Vaticano II, falando dos fundamentos do ecumenismo, relaciona a unidade da Igreja com a sua universalidade: “Quase todos, se bem que de modo diverso, aspiram a uma Igreja de Deus una e visível, que seja verdadeiramente universal e enviada ao mundo inteiro, a fim de que o mundo se converta ao Evangelho e assim seja salvo, para glória de Deus” (Unitatis redintegratio, n. 1). Este carácter universal é outra nota da Igreja, denominada “Catolicidade”.

“Desde há séculos que a Igreja está estendida por todo o mundo, contando com pessoas de todas as raças e condições sociais. Mas a catolicidade da Igreja não depende da extensão geográfica, mesmo que isto seja um sinal visível e um motivo de credibilidade. A Igreja era Católica já no Pentecostes; nasce Católica no Coração chagado de Jesus, como um fogo que o Espírito Santo inflama. No século II, os cristãos definiam como Católica a Igreja, para a distinguir das seitas que, utilizando o nome de Cristo, traíam nalgum ponto a Sua doutrina. Chamamos-lhe Católica, escreve São Cirilo, quer porque se encontra difundida por todo o orbe da Terra, dum confim ao outro, quer porque ensina de modo universal e sem defeito todos os dogmas que os homens devem conhecer, do visível e do invisível, do celestial e do terreno. Também porque submete ao recto culto todo o tipo de homens, governantes e cidadãos, doutos e ignorantes. (S. Cirilo, Catechesis, 18,23)” (Hom. Lealdade à Igreja).

Todo o cristão deve ter os mesmos sentimentos que Jesus Cristo, anelando pela unidade que Ele pede ao Pai.

“Instrumento privilegiado para a participação na busca da unidade de todos os cristãos é a oração. O próprio Jesus Cristo deixou-nos o Seu último desejo de unidade por meio de uma oração ao Pai (…). Também o Concilio Vaticano II nos recomendou insistentemente a oração em favor da unidade, defendendo-a como ‘a alma de todo o movimento ecumênico’ (Unitatis redintegratio, n. 8). Como a alma ao corpo, assim a oração dá vida, coerência, espírito, finalidade ao movimento ecumênico. A oração põe-nos, antes de mais, diante do Senhor; purifica-nos nas intenções, nos sentimentos, no nosso coração, e produz a ‘conversão interior’, sem a qual não existe verdadeiro ecumenismo (cfr Unitatis redintegratio, n. 7). A oração, além disso, recorda-nos que a unidade, em última análise, é um dom de Deus; dom que devemos pedir e para que nos devemos preparar para que nos seja concedido” (Audiência geral, João Paulo II, 17-I-1979).

22-23. Jesus tem a glória, manifestação da divindade, porque é Deus, igual ao Pai. Cristo, ao dizer que comunica a Sua glória, está a indicar que por meio da graça nos torna participantes da natureza divina (2 Pet 1,4). A glória e a justificação pela graça aparecem na Sagrada Escritura estreitamente unidas: “Aqueles que Deus predestinou também os chamou. E aqueles que chamou também os justificou, e aqueles que justificou também os glorificou” (Rom 8,30). A transformação pela graça consiste em que os cristãos se tornam cada vez mais semelhantes a Cristo, que é a imagem do Pai (cfr 2 Cor 4,4; Heb l ,2-3). Deste modo, Cristo, ao comunicar a Sua glória, faz que os fiéis se unam com Deus pela participação na própria vida sobrenatural, que é a raiz da santidade dos cristãos e da Igreja: “Agora compreenderemos melhor como é que a unidade da Igreja leva à santidade, e como é que um dos aspectos capitais da sua santidade é essa unidade centrada no mistério do Deus uno e Trino: Há um só corpo e um só espírito, como também vós fostes chamados a uma só esperança pela vossa vocação. Há um só Senhor, uma só fé, um só baptismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, e governa todas as coisas e habita em todos nós (Eph 4,4-6)” (Hom. Lealdade à Igreja).

24. Cristo termina esta oração pedindo a bem-aventurança para todos os cristãos. O termo que utiliza – “quero” em vez de “rogo” – exprime que está a pedir o mais importante, que coincide com a Vontade do Pai, que quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (cfr 1 Tim 2,4); é, em última análise, a missão da Igreja: a salvação das almas.

Enquanto estamos na Terra participamos da vida de Deus pelo conhecimento (fé) e pelo amor (caridade); mas só no Céu conseguiremos a plenitude dessa vida sobrenatural, ao contemplar Deus tal qual é (cfr 1 Ioh 3,2), face a face (cfr 1 Cor 13,9-12). Por isso, a Igreja aponta para a eternidade, é escatológica; isto é, que tendo neste mundo todos os meios para ensinar a verdadeira doutrina, tributar a Deus o verdadeiro culto e comunicar a vida da graça, mantém viva a esperança na plenitude da vida eterna: “A Igreja, à qual todos somos chamados e na qual por graça de Deus alcançamos a santidade, só na glória celeste alcançará a sua realização plena, quando vier o tempo da restauração de todas as coisas (cfr Act 3,21) e, quando, juntamente com o gênero humano, também o universo inteiro, que ao homem está intimamente ligado, e por ele atinge o seu fim, for perfeitamente restaurado em Cristo (cfr Eph 1,10; Col 1,20; 2 Pet 3,10-13)” (Lumen gentium, n. 48).

25-26. A revelação que Deus fez de Si mesmo por Jesus Cristo introduz-nos na participação da vida que culminará no Céu: “Só Deus pode outorgar-nos um conhecimento recto e pleno de Si mesmo, revelando-Se a Si mesmo como Pai, Filho e Espírito Santo, de cuja vida eterna somos chamados a participar pela graça aqui, na Terra, na obscuridade da fé, e, depois da morte, na luz sempiterna” (Credo do Povo de Deus, n° 9).

Para participar do amor mútuo das Pessoas divinas Cristo revelou-nos tudo o que devemos conhecer: em primeiro lugar, o mistério do Seu ser e da Sua missão e, com isso, o próprio Deus – “dei-lhes a conhecer o Teu nome” -; assim se cumpre o que tinha anunciado: “Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho queira revelá-Lo” (Mt 11,27).

Cristo continua a dar a conhecer o amor do Pai por meio da Igreja em que Ele está sempre presente: “Sabei que Eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo” (Mt 28,20).

Dia 21 de maio

Jo 21, 15-19

15No fim do almoço, pergunta Jesus ao Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-Me tu mais do que estes? Sim, Senhor, responde-Lhe ele. Tu sabes que Te amo! Diz-lhe Jesus: Apascenta os Meus cordeiros. 16Volta a perguntar-Lhe segunda vez: Simão, filho de João, tu amas-Me? Sim, Senhor, responde-Lhe ele. Tu sabes que Te amo. Diz-Lhe Jesus: Apascenta as Minhas ovelhas. 17Pergunta-Lhe terceira vez: Simão, filho de João, tu amas-Me? Pedro entristece-se por lhe ter perguntado pela terceira vez: “Tu amas-me?” E responde-Lhe: Tu sabes tudo, Senhor, Tu bem sabes que Te amo. Diz-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas. 18Em verdade, em verdade te digo: Quando eras mais novo, tu mesmo te cingias e andavas por onde querias. Mas, quando fores velho, estenderás as tuas mãos e outro é que há-de cingir-te e levar-te para onde não queres. 19Disse-o para indicar por que morte ele havia de glorificar a Deus. Dito isto, acrescenta: Segue-Me.

Comentário

15-17. Jesus Cristo tinha prometido a Pedro o primado da Igreja (cfr Mt 16,16-19). Apesar das três negações do Apóstolo durante a Paixão, confere-lhe agora o Primado prometido. “Jesus Cristo interroga Pedro, por três vezes, como se lhe quisesse dar a oportunidade de reparar a sua tripla negação. Pedro já aprendeu, escarmentado com a sua própria miséria: está profundamente convencido de que são inúteis aqueles seus alardes temerários; tem consciência da sua debilidade. Por isso, põe tudo nas mãos de Cristo. Senhor, Tu sabes que eu Te amo” (Amigos de Deus, n° 267). A entrega do Primado a Pedro foi directa e imediata. Assim o entendeu sempre a Igreja e o definiu o Concilio Vaticano I: “Ensinamos, pois, e declaramos que, segundo os testemunhos do Evangelho, o primado de jurisdição sobre a Igreja universal de Deus foi prometido e conferido imediata e directamente ao bem-aventurado Pedro por Cristo Nosso Senhor (…). Porque só a Simão Pedro conferiu Jesus depois da Sua Ressurreição a jurisdição de pastor e reitor supremo sobre todo o Seu rebanho, dizendo: ‘Apascenta os Meus cordeiros’. ‘Apascenta as Minhas ovelhas'” (Pastor aeternus, cap. 1).

O Primado é uma graça que é conferida a Pedro e aos seus sucessores os Papas; é um dos elementos fundacionais da Igreja para guardar e proteger a sua unidade: “Para que o episcopado fosse uno e indiviso e a multidão universal dos crentes se conservasse na unidade da fé e da comunhão (…) ao preferir o bem-aventurado Pedro aos outros Apóstolos, nele instituiu um princípio perpétuo de uma e de outra unidade, e um fundamento visível” (Pastor aeternus, Dz-Sch 3051; cfr Lumen gentium, n. 18). Portanto, o Primado de Pedro perpetua-se em todos e em cada um dos seus sucessores por disposição de Cristo, não por costume ou legislação humana.

Em razão do Primado, Pedro, e cada um dos seus sucessores, é Pastor de toda a Igreja e Vigário de Cristo na terra, porque desempenha o poder vicário do próprio Cristo. O amor ao Papa, que Santa Catarina de Sena chamava “o doce Cristo na terra”, deve estar coalhado de oração, sacrifício e obediência.

18-19. Segundo a tradição, São Pedro seguiu o seu Mestre até morrer crucificado, de cabeça para baixo. “Pedro e Paulo sofreram martírio em Roma durante a perseguição de Nero aos cristãos, que teve lugar entre os anos 64 e 68. O martírio de ambos os Apóstolos é recordado por São Clemente, sucessor do próprio Pedro na Sede da Igreja Romana, que escrevendo aos Coríntios lhes propõe os exemplos generosos dos dois atletas, com estas palavras: por causa dos zelos e da inveja, os que eram colunas principais e santíssimas padeceram perseguição e lutaram até à morte” (Petrum et Paulum).

“Segue-Me”: Esta palavra evocaria no Apóstolo o seu primeiro chamamento (cfr Mt 4,19) e as condições de entrega absoluta que o Senhor impõe aos Seus discípulos: “Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia, e siga-Me” (Lc 9,23). O próprio São Pedro, numa das suas cartas, deixa-nos o testemunho de que a exigência da Cruz é necessária para todo o cristão: “Pois para isto fostes chamados, já que também Cristo padeceu por vós, dando-vos exemplo, para que sigais os Seus passos” (1 Pet 2,21).

Dia 22 de maio

Jo 21, 20-25

20Pedro, voltando-se, vê vir atrás deles o discípulo que Jesus amava, esse precisamente que se havia inclinado, na ceia, sobre o Seu peito e Lhe perguntava: “Senhor, quem é que Te vai entregar?” 21Ao vê-lo, pois, disse Pedro a Jesus: E este, Senhor? 22Responde-lhe Jesus: Se Eu quiser que Ele fique até Eu vir, que tens com isso? Tu, segue-Me. 23Correu, pois, entre os irmãos o boato de que esse discípulo não morreria. Jesus, porém, não disse a Pedro: “ele não morre”, mas sim: “se eu quiser que ele fique até Eu vir, que tens com isso?” 24É esse o discípulo que dá testemunhe destas coisas e as escreveu; e nós sabemos que é verídico o seu testemunho. 25Há ainda muitas outras coisas feitas por Jesus. Se elas se escrevessem uma a uma, penso que nem o próprio mundo poderia conter os livros que se tinham de escrever.

Comentário

20-23. Segundo Santo Ireneu (Adversus haereses, II, 22,5; III, 3,4) São João viveu mais tempo que os outros Apóstolos, chegando aos tempos de Trajano (anos 98-117). Talvez o Evangelista tenha escrito estes versículos para desfazer aquela opinião de que ele não morreria. Segundo o texto, Jesus não responde à pergunta de Pedro. O importante não é satisfazer a curiosidade acerca do futuro, mas servir com fidelidade o Senhor seguindo o caminho que a cada um lhe marca.

24. Apela-se para o testemunho do discípulo “que Jesus amou” como garantia da veracidade de quanto se escreveu desde o começo do livro. Tudo o que este Evangelho dirá deve ser retido pelos leitores como absolutamente verídico.

Muitos comentaristas modernos supõem que os versículos 24 e 25 foram acrescentados por discípulos do Apóstolo, como conclusão ao Evangelho, quando começou a difundir-se, pouco depois de São João o ter acabado. Em qualquer dos casos, o facto é que ambos os versículos aparecem em todos os manuscritos existentes do quarto Evangelho.

25. O que São João nos narrou sob a inspiração do Espírito Santo tem uma finalidade: fortalecer a nossa fé em Jesus Cristo mediante a consideração do que Ele fez e ensinou. Nunca esgotaremos o rico e insondável conteúdo da figura de Nosso Senhor, como também o não esgota o quarto Evangelho. “Quando alguém começa a interessar-se por Jesus Cristo já não O pode deixar. Sempre fica algo para saber, algo para dizer; fica o mais importante. São João Evangelista termina o seu Evangelho precisamente assim (Ioh 21,25). É tão grande a riqueza das coisas que se referem a Cristo, tanta a profundidade que temos de explorar e procurar compreender (…), tanta a luz, a força, a alegria, o anelo que d’Ele brotam, tão reais são a experiência e a vida que d’Ele nos vem, que parece inconveniente, anticientífico, irreverente, dar por terminada a reflexão que a Sua vinda ao mundo, a Sua presença na história e na cultura, a hipótese, por não dizer a realidade da Sua relação vital com a nossa própria consciência, honestamente exige de nós” (Audiência geral Paulo VI, 20-11-1974).

Dia 23 de maio (Pentecostes)

Jo 20, 19-23

19Na tarde deste dia, o primeiro da semana, estando, por medo dos Judeus, fechadas as portas no lugar onde se encontravam os discípulos, veio Jesus colocar-Se no meio deles e disse-lhes: A paz seja convosco! 20Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria, ao verem o Senhor. 21Jesus então disse-lhes de novo: A paz seja convosco! Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos mando a vós. 22Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. 23Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficar-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficar-lhes-ão retidos.

Comentário

19-20. Jesus aparece aos Apóstolos na própria tarde do Domingo em que ressuscitou. Apresenta-Se no meio deles sem necessidade de abrir as portas, já que goza das qualidades do corpo glorioso; mas para desfazer a possível impressão de que é só um espírito, mostra-lhes as mãos e o lado: não fica nenhuma dúvida de que é o próprio Jesus e de que verdadeiramente ressuscitou. Além disso, saúda-os por duas vezes com a fórmula usual entre os Judeus, com o acento entranhável que noutras ocasiões poria nessa saudação. Com essas palavras amigáveis ficavam dissipados o temor e a vergonha que teriam os Apóstolos por se terem comportado deslealmente durante a Paixão. Desta forma voltou a criar-se o ambiente de intimidade, em que Jesus lhes vai comunicar poderes transcendentes.

21. O Papa Leão XIII explicava como Cristo transferiu a Sua própria missão aos Apóstolos: “Que quis e que procurou ao fundar e conservar a Igreja? Isto: transmitir a mesma missão e o mesmo mandato que tinha recebido do Pai para que Ela os continue. Isto é claramente o que Se tinha proposto fazer e isto é o que fez: ‘Como o Pai Me enviou assim Eu vos envio’ (Ioh 20,21). ‘Como Tu Me enviaste ao mundo, assim os enviei Eu ao mundo’ (Ioh 17,18) (…). Momentos antes de retornar ao Céu envia os Apóstolos com o mesmo poder com que o Pai O tinha enviado; ordenou-lhes que estendessem e semeassem por todo o mundo a Sua doutrina (cfr Mt 28,18). Todos os que obedecerem aos Apóstolos salvar-se-ão; os que não lhes obedecerem perecerão (cfr Mc 16,16) (…). Por isso manda aceitar religiosamente e guardar santamente a doutrina dos Apóstolos como Sua: ‘Quem vos ouve a vós, ouve-Me a Mim; quem vos despreza a vós, despreza-Me a Mim’ (Lc 10,16). Em conclusão, os Apóstolos são enviados por Jesus Cristo da mesma forma que Ele foi enviado pelo Pai” (Satis cognitum).

Nesta missão os Bispos são sucessores dos Apóstolos: “Cristo, através dos mesmos Apóstolos, tornou participantes da sua consagração e missão os sucessores deles, os Bispos, cujo cargo ministerial, em grau subordinado, foi confiado aos presbíteros, para que, constituídos na Ordem do presbiterado, fossem cooperadores da Ordem do episcopado para o desempenho perfeito da missão apostólica confiada por Cristo” (Presbyterorum ordinis, n. 2).

22-23. A Igreja compreendeu sempre – e assim o definiu – que Jesus Cristo com estas palavras conferiu aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados, poder que se exerce no sacramento da Penitência. “O Senhor, principalmente então, instituiu o sacramento da Penitência, quando, ressuscitado de entre os mortos, soprou sobre os Seus discípulos dizendo: ‘Recebei o Espírito Santo…’. Por este facto tão insigne e por tão claras palavras, o sentir comum de todos os Padres entendeu sempre que foi comunicado aos Apóstolos e aos seus legítimos sucessores o poder de perdoar e reter os pecados para reconciliar os fiéis caídos em pecado depois do Baptismo” (De Paenitentia, cap. 1).

O sacramento da Penitência é a expressão mais sublime do amor e da misericórdia de Deus com os homens, como ensina Jesus na parábola do filho pródigo (cfr Lc 15,11-32). O Senhor espera sempre com os braços abertos que voltemos arrependidos, para nos perdoar e nos devolver a nossa dignidade de filhos Seus.

Os Papas têm recomendado com insistência que nós, os cristãos, saibamos apreciar e aproveitemos com fruto este Sacramento: “Para progredir mais rapidamente no caminho da virtude, recomendamos vivamente o pio uso, introduzido pela Igreja sob a inspiração do Espírito Santo, da confissão freqüente, que aumenta o conhecimento próprio, desenvolve a humildade cristã, desarraiga os maus costumes, combate a negligência e tibieza espiritual, purifica a consciência, fortifica a vontade, presta-se à direcção espiritual, e por virtude do mesmo sacramento aumenta a graça” (Mystici Corporis).

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