em Evangelho do dia

Depois disto, designou o Senhor outros setenta e dois e mandou-os dois a dois, à Sua frente, a todas as cidades e   lugares aonde Ele havia de ir. 2Dizia-lhes Ele: A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe. 3Ide e olhai que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem saco, nem sandálias. Não cumprimenteis ninguém pelo caminho. 5Em qual quer casa onde entrardes, dizei primeiro: «Paz a esta casa». 6E, se lá houver um homem de paz, sobre ele irá repousar a vossa paz. Senão, a vós há-de voltar. 7Ficai nessa mesma casa, comendo e bebendo do que tiverem, pois o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa. 

Comentário

1-12. Entre os que seguiam o Senhor e tinham sido chamados por Ele (cfr Lc 9,57-62), além dos Doze, havia numerosos discípulos (cfr Mc 2,15). Os nomes da maioria são para nós desconhecidos; não obstante, entre eles contavam-se com, toda a segurança aqueles que estiveram com Jesus desde o baptismo de João até à Ascensão do Senhor: por exemplo, José chamado Barsabas e Matias (cfr Act 1,21-26). De modo semelhante podemos incluir Cléofas e o seu companheiro, aos quais Cristo ressuscitado apareceu no caminho de Emaús (cfr Lc 24,13-35).

De entre todos aqueles discípulos, o Senhor escolhe setenta e dois para uma missão concreta. Exige-lhes, tal como aos Apóstolos (cfr Lc 9,1-5). desprendimento total e abandono completo à Providência divina.

Desde o Baptismo cada cristão é chamada por Cristo a cumprir uma missão. Com efeito, a Igreja, em nome do Senhor «pede instantemente a todos os leigos que respondam com decisão de vontade, ânimo generoso e disponibilidade de coração à voz de Cristo, que nesta hora os convida com maior insistência, e ao impulso do Espírito Santo. Os mais. novos tomem como dirigido a si de modo particular este chamamento, e recebam-no com alegria e magnanimidade. Com efeito, é o próprio Senhor que, por meio deste sagrado Concilio, mais uma vez convida todos os leigos a que se unam a Ele cada vez mais intimamente, e sentindo como próprio o que é d’Ele (cfr Phil 2,5), se associem à Sua missão salvadora. É Ele quem de novo os envia a todas as cidades e lugares aonde há-de chegar (cfr Lc 10,1); para que, nas diversas formas e modalidades do apostolado único da Igreja, se tornem verdadeiros cooperadores de Cristo, trabalhando sempre na obra do Senhor com plena consciência de que o seu trabalho não é vão no Senhor (cfr 1Cor 15, 28)» (Apostolicam actuositatem, n. 33).

3-4. Cristo quer inculcar nos Seus discípulos a audácia apostólica; por isso diz «Eu vos envio», que São João Crisóstomo comenta: «Isto basta para vos dar ânimo, isto basta para que tenhais confiança e não temais os que vos atacam» (Hom. sobre S. Mateus, 33). A audácia dos Apóstolos e dos discípulos vinha desta confiança segura de terem sido enviados pelo próprio Deus: actuavam, como explicou com firmeza o próprio Pedro ao Sinédrio, em nome de Jesus Cristo Nazareno, «pois não foi dado aos homens outro nome debaixo do céu pelo qual podemos salvar-nos» (Act 4,12).

« E continua o Senhor — acrescenta São Gregório Magno — ‘Não leveis bolsa nem saco nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho’. Tanta deve ser a confiança que há-de ter em Deus o pregador, que ainda que não se proveja das coisas necessárias para a vida, deve estar persuadido de que não lhe hão-de faltar, não seja que enquanto se ocupa em prover-se das coisas temporais, deixe de procurar para os outros as eternas» (In Evangelia homiliae, 17). O apostolado exige uma entrega generosa que leva ao desprendimento: por isso, Pedro, o primeiro a pôr em prática o mandamento do Senhor, quando o mendigo da Porta Formosa lhe pediu uma esmola (Act 3,2-3), disse1: « Não tenho ouro nem prata» (Ibid., 3,6), «não tanto para se gloriar da sua pobreza — assinala Santo Ambrósio — como da sua obediência ao mandamento do Senhor, como dizendo: vês em mim um discípulo de Cristo, e pedes-me ouro? Ele deu-nos algo muito mais valioso que o ouro, o poder de agir em Seu nome. Não tenho o que Cristo não me deu, mas tenho o que me deu: ‘Em nome de Jesus, levanta-te e anda’ (Act 3,6)» (Expositio Evangelii sec. Lucam, ad loc.). O apostolado exige, portanto, desprendimento dos bens materiais; e também exige estar sempre dispostos, porque a tarefa apostólica é urgente.

«Não cumprimenteis ninguém pelo caminho»: «Como pode ser — pergunta-se Santo Ambrósio — que o Senhor queira eliminar um costume tão cheio de humanidade? Considera, porém, que não diz apenas ‘não cumprimenteis ninguém’, mas que acrescenta ‘pelo caminho’. E isto não é supérfluo.

«Também Eliseu, quando enviou o seu servo a impor o seu bastão sobre o corpo do menino morto, lhe mandou que não cumprimentasse ninguém pelo caminho (2Reg 4,29): deu-lhe ordem de se apressar para cumprir com rapidez a tarefa e realizar a ressurreição, não acontecesse que, por se entreter a falar com algum transeunte, atrasasse o seu encargo. Aqui não se trata então de evitar a urbanidade de cumprimentar, mas de eliminar um possível obstáculo ao serviço; quando Deus manda, o humano deve ser deixado a um lado, pelo menos por algum tempo. Cumprimentar é uma coisa boa, mas melhor é executar quanto antes uma ordem divina que ficaria muitas vezes frustrada por um atraso» (Ibid.).

  1. «Homem de paz » é todo o homem que está disposto a receber a doutrina do Evangelho, que traz a paz de Deus. A recomendação do Senhor aos discípulos de que anunciem a paz há-de ser uma constante em toda a acção apostólica dos cristãos: «O apostolado cristão não é um programa político, nem uma alternativa cultural; significa a difusão do bem, o contágio do desejo de amar, uma sementeira concreta de paz e de alegria» (Cristo que passa, n° 124).

O sentir a paz na nossa alma e à nossa volta é sinal inequívoco de que Deus vem a nós, e um fruto do Espírito Santo (cfr Gal 5,22): «Repele esses escrúpulos que te tiram a paz. — Não é de Deus o que rouba a paz da alma.

«Quando Deus te visitar, hás-de sentir a verdade daquelas saudações: dou-vos a paz…, deixo-vos a paz…, a paz seja convosco… E isto, no meio da tribulação» (Caminho, n° 258).

  1. Está claro que o Senhor considera que a pobreza e o desprendimento dos bens materiais há-de ser uma das principais características do apóstolo (vv. 3-4). Não obstante, consciente das necessidades materiais dos Seus discípulos, deixa assente o princípio de que o ministério apostólico merece a sua retribuição. Por isso o Concilio Vaticano II recorda a obrigação que todos temos de contribuir para a sustentação dos que generosamente se entregam ao serviço da Igreja: «Entregues ao serviço de Deus, pelo desempenho do cargo que lhes foi confiado, os presbíteros são merecedores da justa recompensa, visto que o operário é digno do seu salário (Lc 10,7) e o Senhor ordenou àqueles que anunciam o Evangelho, que vivam do Evangelho (1Cor 9,14). Por isso, onde não se tiver providenciado de outra maneira à justa remuneração dos presbíteros, os mesmos fiéis, em cujo benefício eles trabalham, têm verdadeira obrigação de procurar os meios necessários para que levem uma vida digna e honesta» (Presbyterorum ordinis, n. 20).
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